Fiocruz Amazônia realiza mapeamento espacial da esporotricose animal e humana no Amazonas

O Instituto Leônidas & Maria Deane (ILMD/Fiocruz Amazônia) desenvolveu dois modelos de formulários on line com a finalidade de realizar o mapeamento espacial da ocorrência de casos de esporotricose animal no Amazonas. A doença acomete animais mamíferos como gatos, cães, macacos, e pode contaminar seres humanos, e vem avançando no Estado de forma silenciosa e sem a devida notificação. Paralelamente, a Fiocruz Amazônia desenvolverá o projeto “Estudo ecoepidemiológico da esporotricose humana e animal no Amazonas”, com o objetivo de descrever o perfil epidemiológico das pessoas acometidas pela esporotricose em Manaus e da ocorrência da doença em animais.

Um dos formulários, desenvolvido na plataforma digital REDCap, pode ser acessado pelo link https://redcap.fiocruz.br/redcap/surveys/?s=44EYE7PHFWHXC7KH, e se destina a médicos veterinários e clínicas veterinárias que realizarem atendimento de animais com a doença. O outro é um formulário da plataforma Google Form (https://docs.google.com/forms/d/1o4XndjmeUzYnn2Grc3S-6dq9HO_jKqNo8aZD_Lc99pA/edit), destinado à população em geral, tutores e cuidadores que, ao se depararem com casos suspeitos de animais nas ruas, apresentando feridas cutâneas e debilitados, podem fotografar e indicar a localização onde os mesmos possam ser encontrados.

A esporotricose é uma micose subcutânea que surge quando o fungo do gênero Sporothrix entra no organismo por meio de uma ferida na pele. O mapeamento será realizado pelas pesquisadoras da Fiocruz Amazônia Alessandra Nava, do Núcleo de Patógenos, Vetores e Reservatórios na Amazônia, pertencente ao Laboratório de Ecologia de Doenças Transmissíveis na Amazônia (EDTA), e Ani Beatriz Jacksih Matsuura, do Laboratório de Diversidade Microbiana da Amazônia com Importância para a Saúde (DMAIS). O trabalho subsidiará também estudos acerca dos diferentes gêneros de fungos causadores da esporotricose, além de apoiar a elaboração de políticas públicas de enfrentamento da doença.

As ações estão sendo desenvolvidas em parceria com o Observatório Esporotricose Amazonas, do qual a Fiocruz Amazônia faz parte, e o Conselho Regional de Medicina Veterinária do Amazonas (CRMV-AM). Os formulários, segundo Alessandra Nava, serão fortes aliados no combate à disseminação de casos. “A ideia é juntar dados dos dois formulários para auxiliar a elaboração de um mapa espacial de casos no Estado. O mapa irá permitir a elaboração de estratégias de combate à doença, identificando os bairros mais atingidos, entre outros resultados”, explicou Nava.

Segundo a pesquiadora, tudo será disponibilizado para consulta e pesquisa da população. Atualmente, a necessidade de reajustar o atual protocolo de tratamento da doença em felinos oferecido pelo poder público, melhorar o atendimento à população e a divulgação da doença, bem como a transparência e eficiência na compra e aquisição de remédios como o Itraconazol são questões importantes para o combate eficaz.

VARIANTES

Ani Matsuura ressalta que o projeto aprovado este ano pela Fundação de Amparo à Pesquisa no Estado do Amazonas (Fapeam), coordenado por ela, terá a finalidade de descrever o perfil epidemiológico das pessoas acometidas pela esporotricose em Manaus para entender o quanto a doença está espalhada. “Analisaremos as fichas de notificação da Semsa (Secretaria Municipal de Saúde Manaus), com os casos de humanos e de gatos. Também será feito um estudo para verificar se só uma espécie de fungo está causando a doença ou se há mais espécies envolvidas”, explicou, observando que a pesquisa também investigará se, além do contato com o animal, existem outras formas da pessoa se contaminar com o fungo nas suas casas.

O estudo vai permitir ainda uma análise comparativa entre as espécies de Sporothrix de Manaus e as de outras regiões do Brasil. “A finalidade é veriticar se há semelhanças genéticas entre as espécies”, explica Matsuura. Estão envolvidos no trabalho alunos de mestrado do Programa de Pós-Graduação em Condições de Vida e Situações de Saúde na Amazônia (PPGVIDA) e de Pós-Doutorado. A pesquisadora adianta que as primeiras amostras analisadas revelaram a presença da espécie Sporothrix brasiliensis.

MORDEDURAS

A Fiocruz Amazônia também integra a Rede de Iniciativa Amazônica para Investigação de Mordeduras Tropicais, um grupo internacional formado por especialistas e pesquisadores que trabalham com a questão das mordeduras tropicais e as diferentes formas de contágio, visando estabelecer parâmetros que permitam identificar o perfil epidemiológico dos casos de mordeduras em humanos e animais em determinada região, bem como prevenir ocorrências de surtos causados por zoonoses emergentes que possam vir a ser transmitidas pela mordedura de animais como primatas e, sobretudo, morcegos contaminados com vírus. A médica veterinária Alessandra Nava representa a Fiocruz no grupo.

Nava explica que o monitoramento das mordeduras de morcegos hematófago na população humana é realizado no Amazonas pela Fundação de Vigilância em Saúde (FVS), da Secretaria de Estado da Saúde (SES), e a análise das ocorrências relacionando a variáveis ambientais é feita pela Fiocruz Amazônia.

ONE HEALTH

Doutora em Epidemiologia experimental e Aplicada à Zoonoses, pela Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da Universidade de São Paulo (USP), Alessandra Nava atua desde 2014 na Fiocruz nos temas: ecologia de doenças infectocontagiosas, doenças emergentes, saúde pública, medicina da conservação, epidemiologia, biologia da conservação e enfermidades infecciosas. Ela foi uma das 40 especialistas selecionadas a integrar o movimento The Future of One Health, mobilização mundial reunindo especialistas de todo o Mundo, com a finalidade de promover a discussão acerca do conceito de Saúde Única (One Health) e sua capacidade de proporcionar melhores monitoramento e respostas às epidemias.

O conceito one health (saúde única) tem como base o entendimento de que a doença dos animais e dos humanos está associada. Atualmente, a médica veterinária desenvolve projeto de monitoramento e vigilância de patógenos zoonóticos de animais silvestres, como morcegos, primatas e roedores, com financiamento da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas (Fapeam) – realizado em parceria com a Projeto Sauim de Coleira; o Centro de Triagem de Animais Silvestres (Cetas), do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama); e o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio)