Fiocruz participa do II Seminário Saúde Coletiva e Sustentabilidade com conferências sobre eventos climáticos extremos e desafios para o século XXI
A Fundação Oswaldo Cruz, por meio do Instituto Leônidas & Maria Deane (ILMD/Fiocruz Amazônia) e a Escola Nacional de Saúde Pública (ENSP/Fiocruz), marcou presença no II Seminário Saúde Coletiva e Sustentabilidade, promovido pelo Programa de Pós-Graduação em Saúde Coletiva da Universidade do Estado do Amazonas e o Doutorado Acadêmico em Saúde Pública na Amazônia (DASPAM), oferecido em consórcio pela Fiocruz Amazônia, Universidade Federal do Amazonas (Ufam) e UEA. O evento foi realizado na sede da Escola de Enfermagem de Manaus, da Universidade Federal do Amazonas, na quinta e sexta-feira, 14 e 15/08, com a realização de conferências, mesas-redondas e debates sobre o tema Saúde Coletiva e Sustentabilidade, no contexto da Amazônia.

A conferência de abertura foi realizada pelo professor-doutor Carlos Machado de Freitas, pesquisador da ENSP/Fiocruz, que abordou o tema “Amazônia no contexto dos eventos climáticos extremos”. Ele apresentou um panorama climático da região, a partir do monitoramento dos eventos climáticos extremos alertando para a tendencia de piora no quadro nos próximos anos. “Foquei a apresentação nos eventos climáticos extremos que vêm ocorrendo não só na Amazônia mas no Brasil como um todo e apontando que, nos cenários futuros, numa projeção até 2050, por exemplo, as tendências apontam para uma piora em termos de frequência, intensidade, gravidade e extensão de eventos climáticos extremos, exigindo de todos nós, que trabalhamos com a Saúde Coletiva, um esforço não só de trabalharmos conjuntamente entre nós, mas também envolvermos as comunidades e outros diversos atores do poder público para enfrentar esses desafios”, afirmou Machado.

O pesquisador, que é coordenador do Centro de Estudos e Pesquisas em Emergências e Desastres em Saúde da Fiocruz; destacou os efeitos danosos produzidos pelos eventos climáticos extremos com impacto sobre a saúde, a exemplo do isolamento das comunidades, falta de água potável, pesca e agricultura prejudicadas. “Precisamos trabalhar de forma conjunta, se quisermos imaginar um futuro diferente, não é adiar um ponto de não-retorno, mas não retornarmos às mesmas medidas que vêm sendo tomadas e vêm contribuindo para que mudanças efetivas no cenário não ocorram”, explicou. Machado enfatizou que, em 2024, pela primeira vez, a temperatura média do planeta rompeu o limite de 1.5 graus Centígrados, que era o esperado para se manter até 2100. “No ano passado, já tivemos secas extremas, queimadas na Amazônia, tudo indica que estamos diante de um cenário que exige urgência nas nossas ações, nos nossos trabalhos, na nossa integração para enfrentar esses cenários”, frisou.

O Seminário prosseguiu na sexta-feira, tendo como conferencista a pesquisadora em Saúde Pública da Fiocruz Amazônia, Luiza Garnelo, que abordou o tema Amazônia Sustentável e Plural: desafios para a Saúde Coletiva do Século XXI, ressaltando aspectos importantes da vida em sociedade, ao longo da história dos últimos 25 anos, citando as previsões catastróficas e os efeitos causados ao ecossistema ao longo do tempo. “Quando se tem um grande desastre climático. Ocorre sempre uma queda do poder aquisitivo da população, com impacto maior para quem já não tinha poder aquisitivo. As catástrofes ambientais em nível mundial tendem a gerar um endividamento em escala planetária e quem sofre são as nações mais pobres”, observou.

A pesquisadora abordou ainda aspectos importantes da realidade vivenciada na região e o quanto as catástrofes climáticas podem potencializar esses problemas. Ela citou, como exemplos, a prestação de serviços de saúde na Amazônia e as diferentes modalidades de violência sofridas na região. “São conflitos agrários gerados pela disputa de terra, crimes ambientais, lavagem de dinheiro, tráfico de drogas, mineração ilegal, que formam holdings que acabam se relacionando e alimentando atividades legais e que atingem as populações mais vulnerabilizadas. A carência de emprego e renda também potencializa a economia ilegal, levando as pessoas a atuarem em atividades ilegais que geram a recorrência de desastres”, analisa. Para Garnelo, no entanto, nem tudo é negativo. “Existem estratégias que estão crescendo para fazer frente a esses problemas, por meio da mobilização de grupos populares, grupos sociais, alianças com pesquisadores, tem-se um cenário que favorece e que estão tornando visíveis essas problemáticas. Há, de fato, uma mudança em andamento, mas num ritmo não suficiente para que tenhamos um ponto de não-retorno”, enfatiza, relacionando à questão da emergência climática.
EVENTO
O II Seminário de Saúde Coletiva e Sustentabilidade ocorreu ao longo de dois dias, no Auditório da Escola de Enfermagem de Manaus, no Adrianópolis, se propondo a ser um espaço de análise crítica sobre o papel da Saúde Coletiva frente à intensificação dos eventos climáticos extremos que afetam profundamente a Amazônia. Com o tema “Amazônia no contexto dos eventos climáticos extremos”, o evento reuniu pesquisadoras(es), estudantes, lideranças sociais e representantes institucionais para debater os desafios éticos, políticos, ambientais e epistêmicos que emergem da crise climática na região. A programação contou com duas conferências, quatro mesas-redondas e atividades culturais, abordando temas como “Mudanças climáticas e seus impactos sobre a saúde e os modos de vida”, “Sociodiversidade, saberes tradicionais e resistência territorial”, “Políticas públicas, governança e cooperação regional”, “Reemergência de agravos e desigualdades em saúde” e “Práticas interculturais, juventudes indígenas e justiça socioambiental”.
Participaram como palestrantes o diretor do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA), Henrique Pereira, a diretora-presidente da Organização do Tratado de Cooperação Amazônia (OTCA), Vanessa Grazziotin, o professor e pesquisador Lucas Ferrante (USP/UFAM), o pesquisador em Saúde Pública da Fiocruz Amazônia, Julio César Schweickardt, Silvia Elena Batista (Conselho Nacional de Seringueiros), Izabel Munduruku (Movimento dos Estudantes Indígenas do Amazonas), entre outros nomes de referência nacional e regional. O evento foi realizado pelo Programa de Pós-Graduação em Saúde Coletiva (PPGSC), da UEA, e o Doutorado Acadêmico em Saúde Pública na Amazônia (DASPAM) e o Programa de Apoio ao Desenvolvimento de Eventos (PADEV/PROPESP/UEA), com apoio da Fiocruz Amazônia, UEA, UFAM e Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas (Fapeam). A mesa de abertura contou com a presença da vice-diretora de Pesquisa e Inovação da Fiocruz Amazônia, Michele Rocha El Kadri, representando a diretora Stefanie Lopes, e o pró-reitor de Extensão e Assuntos Comunitários da UEA, Darlisson Souza Ferreira.
ILMD/Fiocruz Amazônia, por Júlio Pedrosa
Fotos: Júlio Pedrosa