Pesquisadores da Fiocruz apresentam impacto de pesquisas em saúde desenvolvidas no Amazonas
Pesquisadores do Instituto Leônidas & Maria Deane (ILMD/Fiocruz Amazônia) apresentaram resultados de estudos desenvolvidos a partir de projetos financiados pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas durante o Seminário “Onde Tem Ciência, Tem Fapeam: Resultados de Pesquisa”. O evento teve dois dias de duração e se encerrou nesta quinta-feira, 23/06, reunindo cientistas de 21 instituições contempladas em editais de pesquisa da Fapeam. A Fiocruz Amazônia foi a única com mais de um projeto apresentado – três no total – todos com impacto direto sobre a qualidade de atendimento da saúde no Amazonas, no âmbito do Programa C,T7I nas Emergências de Saúde Pública no Amazonas (PCTI-Emergesaúde/AM) e Programa de Pesquisa para o SUS: Gestão Compartilhada em Saúde (PPSUS), com repercussão nacional e internacional. O virologista Felipe Naveca, chefe do Laboratório de Biologia Molecular da Fiocruz Amazônia, coordenador do Projeto “Desenvolvimento e avaliação de métodos diagnósticos destinados à detecção do novo coronavírus (SARS-CoV-2) e outros vírus respiratórios, no contexto epidemiológico do Estado do Amazonas, Brasil”, destacou a importância do trabalho no enfrentamento da pandemia de Covid-19.
A pesquisa foi responsável pela oferta e realização de teste de diagnóstico para a população residente no Amazonas, além de ter contribuído com o treinamento e capacitação de agentes comunitários de saúde para a realização dos testes de diagnóstico (anticorpos e antígenos) da doença, indo até as regiões mais longínquas, a exemplo do município de Tabatinga, onde a equipe do Laboratório de Fronteira foi capacitada na realização do ensaio de PCR para a detecção das variantes do novo Coronavírus. “Todas essas atividades trouxeram um retorno para a sociedade, inclusive com a formação de alunos em nível de mestrado e doutorado que futuramente poderão desenvolver pesquisas que tragam novos retornos para a sociedade”, destacou Felipe Naveca.
De acordo com o virologista, o projeto teve significativo impacto científico. Por meio da pesquisa, foi possível realizar a investigação genômica do SARS-CoV-2, o que contribuiu com o aumento de informações relacionadas ao agente etiológico. “Produzimos aproximadamente 5 mil genomas a partir de amostras coletadas de amazonenses, ao longo de todo o período crítico da pandemia no Estado”, relembrou Naveca, acrescentando que todas as sequências estão disponibilizadas em banco de dados público (GISAID). Por meio do projeto, a Fiocruz Amazônia foi responsável pela notificação do primeiro caso de reinfecção no mundo pela variante Gamma e pela detecção da VOC Alpha (B.1.1.7) em Manaus (caso importando de São Paulo), sendo possível estabelecer novos protocolos para detecção das variantes de preocupação, adotado por toda a rede de laboratórios oficiais do Brasil e implementado em outros 29 países por meio da Organização Panamericana de Saúde (OPAS). O projeto rendeu a publicação de 20 artigos científicos em periódicos indexados, entre os quais as revistas Nature Medicine e Cell.
A diretora-presidente da Fapeam, Márcia Perales, destaca que a intenção do seminário foi a de socializar e tornar públicos os resultados sociais, econômicos, ambientais e tecnológicos das pesquisas fomentadas pelo Governo do Amazonas. No segundo dia do evento, a Fiocruz Amazônia participou com a apresentação da pesquisa “Avaliação das características epidemiológicas e moleculares de mulheres tratadas com lesões precursoras do câncer do colo do útero no Amazonas / Programa de Pesquisa para o SUS: Gestão Compartilhada em Saúde”, coordenada pela pesquisadora em saúde pública da Fiocruz Amazônia Priscila Aquino, via PPSUS. Com dados preocupantes relativos à incidência do câncer de colo de útero no Amazonas, a pesquisa teve papel fundamental na identificação de proteínas características de lesões precursoras de alto grau (NIC 2 e NIC 3) em pacientes diagnosticadas com a doença no Estado, além de futuramente contribuir para a criação de dispositivos tecnológicos que permitam auxiliar no diagnostico e por conseguinte reduzir a incidência de casos deste tipo de câncer.
Conforme apresentado, a pesquisa contribuiu ainda para o aperfeiçoamento da análise clinica e molecular das amostras, sistematização, monitoramento e avaliação das mulheres com lesões precursoras de alto grau e na capacitação/formação de estudantes de pós-graduação. No tocante ao impacto científico, o trabalho permitiu compreender aspectos moleculares do câncer cervical, em especial de características do perfil proteico das lesões precursoras de alto grau (NIC 2 e NIC 3) em pacientes do Amazonas. “O impacto econômico se dá na redução da necessidade de tratamento de pacientes acometidos por câncer de colo de útero, que representa elevados custos para a Saúde, a partir da possibilidade de diagnóstico precoce de NICs”, observou Aquino. O último projeto apresentado, “Desenvolvimento de teste para detecção eletroquímica de ensaios moleculares aplicados ao diagnóstico de doenças”, é coordenado pelo pesquisador Luís André Morais Mariúba, cujo trabalho tem como foco a produção de proteínas recombinantes e o desenvolvimento de ferramentas moleculares. O pesquisador apresentou resultados alcançados com a padronização de testes moleculares para malária e zika vírus, a adequação de testes moleculares para eletroquímica, a modificação de sensores eletroquímicos, o desenvolvimento de sensores impressos e de equipamento para leitura eletroquímica com temperatura controlada.