Pesquisa é um dos setores vulnerabilizados pela falta de segurança em áreas indígenas no Amazonas
Fazer pesquisa na Amazônia é um desafio. Requer esforço, investimentos, disciplina e uma boa dose de coragem para o enfrentamento de situações de risco quando se realiza estudos nos territórios de fronteira e indígenas. A presença do pesquisador nos territórios indígenas e arredores também é vista como “ameaça” à ação de madeireiros, garimpeiros e pescadores ilegais, que vêm explorando de forma vil os recursos naturais que deveriam estar protegidos e a serviço dos defensores da floresta. A pesquisa é uma das ferramentas no processo de reafirmação da proteção desses territórios. Ela ajuda a perpetuar tradições, reafirmar o sentimento de pertencimento para as novas gerações e tentar garantir a sustentabilidade dos povos originários. A exploração clandestina desenfreada dos recursos naturais coloca em risco a sobrevivência dos povos indígenas, os leva à beira do abismo, acuados pelo medo e a morte. Pesquisador tem muito de jornalista. Sua presença nos territórios tem a finalidade de contribuir para proteção da cultura dos povos, produzir conhecimento e mostrar ao Mundo que defender os povos originários é proteger a Amazônia e nós todos. O pesquisador navega pelas calhas dos rios durante as visitas às populações aldeadas e muitas vezes se expõe ao risco de confronto com grupos criminosos. Ele experimenta da mesma sensação de medo e impotência. A ausência de fiscalização fortalece a atuação criminosa e interfere na condução dos estudos. Uma total inversão de valores. A caça e a pesca, originalmente atividades de subsistência para os indígenas, servem agora a interesses comerciais ilegais. Não há controle de acesso às reservas e as autoridades calam diante das ilegalidades. Quem denuncia decreta sua sentença de morte. Dezenas de pesquisas são realizadas atualmente nas regiões do Vale do Javari e Alto Solimões, dentro das mais diversas áreas de estudo, a exemplo da medicina indígena, parteiras tradicionais, nutrição, saúde mental e epidemiologia comunitária, em parceria com organismos como o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef). Pesquisadores, bolsistas, alunos de Mestrado, Doutorado e profissionais de saúde circulam por essas regiões para produzir uma saúde de qualidade e condições de vida para todas as populações amazônicas. Os desafios de realizar pesquisas são inúmeros, enquanto perdurar a insegurança nessas regiões para que não tenhamos novas tragédias como a de Dom e Bruno.