Fiocruz Amazônia e FMT-HVD apresentam pesquisa no maior congresso de citometria de fluxo do Mundo

Pesquisa que demonstra a relação entre a disfunção imunológica dos linfócitos B, responsáveis pela produção de anticorpos no organismo, e a necessidade de maior frequência de internações de pessoas vivendo com HIV/AIDS, no Amazonas, foi apresentada recentemente pelo grupo do Laboratório de Diagnóstico e Controle de Doenças Infecciosas na Amazônia (DCDIA), pertencente ao Instituto Leônidas & Maria Deane (ILMD/Fiocruz Amazônia), em parceria com a Fundação de Medicina Tropical Dr Heitor Vieira Dourado, no Annual International Congress of Cell Analysis Technology and Aplications, o CYTO 2023, maior congresso de citometria do mundo. A pesquisa conta com incentivos da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), do Ministério da Educação, e Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas (Fapeam).

O CYTO 2023, realizado entre os dias 20 e 24/05, aconteceu no Palais des Congrés de Montreal, em Québec, no Canadá, reunindo as descobertas mais significativas dos últimos dez anos na área de citometria de fluxo e os impactos futuros dessas experiências para a Ciência, com participantes de vários países. O Congresso é promovido pelo ISA (The International Society for Advancement of Cytometry) e visa reunir, em uma só conferência, de maneira inclusiva, as experiências internacionais e as muitas facetas da ciência e engenharia da citometria.

O estudo apresentado –  Avaliação da Disfunção de Linfócitos em Pessoas Vivendo com HIV/Aids Hospitalizadas na Região Amazônica do Brasil (Evaluation of Lymphocyts Dysfunction in Hospitalized Peopel Living With HIV/Aids in te Brazilian Amazon Rainforest) – é de autoria da biomédica e discente do Mestrado do Programa de Pós-Graduação em Biologia da Interação Patógeno-Hospedeiro (PPGBIO), da Fiocruz Amazônia, Thaíssy dos Santos Xavier, juntamente com o orientador e responsável técnico pela plataforma de Citometria  de fluxo do ILMD, Yury Oliveira Chaves, docente do Programa de Pós-Graduação em  Biologia da Interação Patógeno-Hospedeiro (PPGBIO) e Programa de Pós-Graduação Ciências Aplicadas à Hematologia UEA/HEMOAM da Fundação Hospitalar de Hematologia e Hemoterapia do Amazonas (Hemoam).

No Canadá, o trabalho foi apresentado pela biomédica especialista em Patologia Clínica, Helena Varela de Araújo, fundadora do HemoFlow – página na internet (https://br.linkedin.com/company/hemoflow) dedicada à Citometria de Fluxo. Atualmente, Helena atua como supervisora clínica no Laboratório de Citometria de Fluxo do Centro Médico Beth Israel Deaconess, em Boston, Massachusetts (EUA). Thaíssy Xavier explica que as técnicas utilizadas na pesquisa foram de cultivo celular e citometria de fluxo, e os resultados obtidos demonstraram uma disfunção nas subpopulações de linfócitos B produtores de IgM, e uma baixa atividade de células T foliculares, em pessoas vivendo com HIV/AIDS (PVHA) com vários episódios de hospitalizações na Fundação de Medicina Tropical (FMT-HVD). Segundo ela, estudos assim, podem ajudar a elucidar os mecanismos e alterações funcionais nas células do sistema imune na identificação de parâmetros subclínicos que possam predizer comorbidade e mortalidade.

CITOMETRIA DE FLUXO

A plataforma de citometria de fluxo do DCDIA é coordenada pelos doutores, Paulo Afonso Nogueira e Yury Oliveira Chaves e compõe a Rede de Plataformas Tecnológicas da Fiocruz, estruturada como apoio tecnológico para pesquisa, desenvolvimento tecnológico e vigilância em saúde, dando suporte à pesquisa e à cooperação regional.

A citometria de fluxo é uma tecnologia que cada vez mais tem se destacado no laboratório clínico e de pesquisa sendo responsável por diversos avanços na ciência. Sua aplicação não se limita a uma única área do conhecimento, podendo ser empregada nas áreas de imunologia, hematologia, genética, biologia celular, microbiologia, parasitologia, oceanografia, em estudos de novos medicamentos e de terapias com células tronco, entre outros.

A tecnologia se baseia na mensuração dos parâmetros morfológicos e funcionais de células, por meio da detecção da dispersão da luz e da emissão da fluorescência de corantes ligados à superfície ou ao interior dessas células, quando são interceptadas por uma fonte luminosa, como um laser.

Sua capacidade para analisar diversos parâmetros simultaneamente em uma única célula, torna a citometria de fluxo o método de escolha para análises multiparamétricas de populações celulares. Além de ser uma técnica também aplicada na separação ou purificação de uma determinada população celular a partir de uma suspenção heterogênea, processo denominado de Cell sorter.

LABORATÓRIO

O laboratório de Diagnóstico e Controle e Doenças Infecciosas da Amazônia (DCDIA) atua primariamente na pesquisa básica buscando entender aspectos genéticos, bioquímicos e imunológicos envolvidos na interação dos patógenos – agentes causadores das doenças infecciosas – e seu hospedeiro – no caso o homem ou também o vetor transmissor dessa doença. Por exemplo, o laboratório desenvolve projetos de pesquisa que buscam compreender quais moléculas estão envolvidas na entrada do patógeno em suas células alvo e como o sistema imune age para tentar impedir esta entrada. A partir do conhecimento básico sobre essas interações, o grupo também atua também na prospecção de moléculas destes patógenos que possam ser utilizadas futuramente em composições vacinais, ou que possam ser utilizadas como marcadores de infecção em kits de diagnóstico, por exemplo.

O DCDIA tem importante atuação no monitoramento da resistência aos antimicrobianos pelos agentes infecciosos de relevância na Amazônia brasileira, como o agente causador da malária- Plasmodium, e bactérias causadoras de diarreias. Além de monitorar a resistência aos fármacos existentes, o DCDIA também realiza estudos pré-clínicos visando à prospecção de novos compostos que apresentem potencial atividade contra estes agentes patogênicos. O laboratório possui projetos de pesquisa clínica, desenvolvidos em parceria com a Fundação de Medicina Tropical Heitor Vieira Dourado, e vem avaliando a segurança, efetividade e superioridade de novos formulações e/ou esquemas terapêuticos no combate de doenças infecciosas como malária