Diretora da Fiocruz Amazônia aborda Prevenção Combinada durante a II Oficina de Novas Lideranças Jovens HIV+ e LGBTQIA+ em Manaus

A II Oficina de Novas Lideranças Jovens HIV+ e LGBTIA+, realizada pela Rede Nacional de Adolescentes e Jovens Vivendo com HIV/Aids, em parceria com o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), contou no seu segundo e último dia de programação com a palestra da diretora do Instituto Leônidas & Maria Deane (ILMD/Fiocruz Amazônia), Adele Schwartz Benzaken. A médica sanitarista atuou como facilitadora na oficina sobre Prevenção Combinada, com a aplicação da dinâmica da Mandala da Prevenção para os participantes.

Atualmente, a Prevenção Combinada é considerada a ferramenta mais eficaz no enfrentamento às Infecções Sexualmente Transmissíveis (IST/HIV/Aids). “Na dinâmica da Mandala, é possível combinar situações de exposição ao risco de infecção e estratégias de prevenção ao vírus da aids, entre elas as profilaxias da pré-exposição e o cuidado integral com as práticas sexuais, o comportamento de cada pessoa e diagnóstico”, explica. Adele Benzaken destaca ainda a importância da retomada das ações do Programa de HIV Aids, pelo Governo Federal, considerado referência mundial e negligenciado nos últimos anos.

Para a médica, os prejuízos causados pelo impacto da pandemia de Covid-19 sobre o tratamento de pessoas vivendo com HIV/Aids no Brasil são incalculáveis. “De acordo com o Programa das Nações Unidas para Aids (Unaids), ao final de dois anos de pandemia, a projeção é de que globalmente teremos cerca de 230 mil novos casos de infecção pelo HIV e 140 mil mortes adicionais pela doença, devido principalmente à chegada tardia das pessoas ao sistema de saúde para diagnóstico e tratamento do HIV”, afirma.

Outro dado preocupante é o da redução do número de testagem para HIV em muitos países, entre os quais o Brasil. No caso da epidemia do HIV/Aids, os apresentadores tardios, como são chamadas as pessoas que se apresentam tardiamente ao serviço de saúde com contagem de CD4 abaixo de 350, são certamente as principais causas para a queda acentuada no número de diagnósticos e encaminhamentos para serviços de cuidados e início do tratamento de HIV.

Dados do Relatório de Monitoramento Clínico das pessoas vivendo com HIV no Brasil, demonstram que houve uma diminuição de 23% e 22% no número de pessoas vivendo com HIV que realizaram os primeiros exames de CD4 e Carga Viral, respectivamente, e de 20% no número de pessoas vivendo com  HIV que iniciaram terapia antiretroviral (TARV), em comparação aos anos de 2019 e 2020.

Ainda segundo o relatório, houve também um aumento de 29% na proporção de pessoas vivendo com HIV que atrasaram mais de um mês para a dispensação da terapia antiretroviral em relação a 2019, o que compromete a qualidade de vida e promove resistência aos medicamentos.

GRUPO CONDUTOR

A Fiocruz Amazônia é uma das instituições parceiras da Secretaria de Estado da Saúde (SES) do Amazonas na implantação do Grupo Condutor de ISTs, HIV/Aids e Hepatites Virais. O grupo terá como finalidade promover a retomada das ações de prevenção, controle, diagnóstico e assistência em HIV/Aids, bem como a criação de políticas públicas de saúde voltadas para as pessoas vivendo com HIV no Amazonas.

A iniciativa conta com a parceria da sociedade civil, da Fundação de Vigilância em Saúde Dra Rosemary Costa Pinto e das coordenações de HIV/Aids da Prefeitura de Manaus e da SES-AM. Em fevereiro deste ano, ocorreu a primeira reunião do grupo para apresentação dos integrantes e definição das próximas agendas. Acordo de cooperação foi firmado entre a Fiocruz Amazônia e a SES-AM visando a elaboração de plano de trabalho. Segundo Benzaken, o grupo condutor terá a função de garantir a efetividade das ações no Amazonas, com a participação de todos os integrantes na tomada de decisões e aplicação dos recursos.

O Amazonas historicamente possui uma taxa de infecção 83% superior à média brasileira. Com o cenário atual de crescimento dos casos de HIV/AIDS, o estado se torna um ponto de atenção importante. A ideia é que a partir da união da capilaridade dos serviços da Secretaria de Estado da Saúde do Amazonas e a expertise dos profissionais da Fiocruz Amazônia nos temas de enfrentamento às ISTs, HIV/AIDS e hepatites virais, além de planejamento, implementação e monitoramento das ações de resposta à infecção.

CURRÍCULO

A amazonense Adele Schwartz Benzaken é graduada em Medicina pela Universidade Federal do Amazonas, com Doutorado em Saúde Pública pela Escola Nacional de Saúde Pública / Fiocruz. Servidora pública estadual há mais de 40 anos, foi responsável pela instalação do primeiro ambulatório de Doenças Sexualmente Transmissíveis (DST) do Amazonas. Foi também diretora da Fundação de Dermatologia Tropical e Venereologia Alfredo da Matta e oficial do Programa das Nações Unidas para HIV/Aids (Unaids/Brasil). E ocupou o cargo de diretora do Departamento IST/HIV/Aids e Hepatites Virais da Secretaria de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde.

Durante sua gestão, foi responsável por tornar o teste rápido de sífilis uma política pública nacional e conseguiu incorporar novas políticas de prevenção ao HIV como a da Profilaxia Pre-Exposição (PreP) e a universalização do tratamento de Hepatite C na rede pública. Em sua trajetória, foi vice-presidente do Comitê de Especialistas da Organização Mundial de Saúde (OMS), membro do Comitê de Certificação de Eliminação da Sífilis e do HIV da Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS), diretora regional para América Latina da International Union Against Sexually Transmitted Infections (IUSTI) e atual membro da diretoria da International Society for Sexualy Transmitted Diseases Research (ISSTDR). Trabalha também para a Aids Healthcare Foundation (AHF).