Estudo inédito avalia impacto da pandemia de Covid-19 sobre a mortalidade materna no Brasil
Estudo inédito liderado pela Fiocruz avaliou o excesso de mortes maternas no Brasil durante a pandemia de Covid-19. O epidemiologista Jesem Orellana, do Instituto Leônidas & Maria Deane (ILMD/Fiocruz Amazônia), e pesquisadores ligados a universidades brasileiras e da Colômbia mostraram que houve aumento significativo no excesso de mortes no trimestre de março a maio de 2021, em todos as faixas etárias e regiões do país, como parte do efeito da pandemia de Covid-19 ao longo da primeira onda, bem como na fase mais crítica da segunda.
Durante os cinco trimestres consecutivos avaliados no estudo, ao longo de março de 2020 a maio de 2021, o excesso de mortes maternas foi de 70% no Brasil, sendo que nas regiões Nordeste e Norte e (mais vulneráveis), foi detectado excesso de mortes nos cinco trimestres avaliados para as faixas etárias de 25-36 e de 37-49 anos, respectivamente. Já na região Sul, houve comportamento explosivo nas mortes maternas no trimestre de março a maio de 2021, principalmente nas mulheres de 37-49 anos, com excesso de óbitos de 375%.
O estudo se baseou em dados oficiais de mortalidade do Ministério da Saúde. “Sabe-se que os impactos diretos da epidemia sobre a mortalidade por Covid-19 resultaram em mais de 682 mil mortes conhecidas pela doença, colocando o país na segunda posição mundial em número de mortos por Covid-19. Portanto, como a redução global das mortes maternas é uma das metas prioritárias da Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável, é crucial conhecer de forma abrangente não somente os efeitos diretos da epidemia, como também, seus efeitos indiretos sobre outras causas de morte, especialmente em países que enfrentaram os desafios da pandemia de Covid-19 de forma precária”, explica Orellana, que coordena o Laboratório de Modelagem em Estatística, Geoprocessamento e Epidemiologia (Legepi) da Fiocruz Amazônia.
No artigo intitulado “Excess maternal mortality in Brazil: Regional inequalities and trajectories during the COVID-19 epidemic” (“Excesso de mortes maternas no Brasil: Desigualdades e trajetórias regionais durante a epidemia de COVID-19), os cientistas explicam essa relação e apresentam resultados ainda não explorados no país. Os autores concluíram que houve forte excesso de mortes maternas no Brasil e que suas trajetórias ao longo do período avaliado foram regionalmente heterogêneas, com impactos consistentemente mais fortes durante os momentos mais agudos da epidemia, refletindo não apenas desigualdades socioeconômicas e de acesso aos serviços de saúde anteriores à pandemia, como também o agravamento dos mesmos, sobretudo nas regiões Norte e Nordeste. O trabalho foi aceito para publicação no periódico Plos One.
“Como as mortes maternas normalmente podem ser evitadas mediante o adequado acompanhamento da gestação e do parto, aumentos expressivos além de refletirem mortes plenamente evitáveis, também sugerem aprofundamento de desigualdades sociais e regionais, bem como a urgente necessidade de aperfeiçoamento das políticas de saúde materno-infantil, sobretudo durante crises sanitária”, pondera o epidemiologista.
Finalmente, o padrão geral de excesso de mortes maternas, reforça o dramático desenvolvimento da epidemia e compromete os esforços de anos anteriores do Brasil para alcançar os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), os quais visavam reduzir ainda mais a mortalidade materna e garantir o acesso universal à saúde sexual e reprodutiva para as mulheres até 2030.