Estudo investiga soroprevalência de SARS-CoV-2 e fatores associados em Manaus
A cidade de Manaus, capital do Amazonas, vivenciou dois colapsos do sistema de saúde, devido à pandemia do coronavírus (COVID-19). No entanto, pouco se sabe sobre quais grupos da população em geral foram os mais afetados.
Um estudo coordenado em parceria por pesquisadores do Instituto Leônidas & Maria Deane (ILMD/ Fiocruz Amazônia) e da Universidade Federal do Amazonas (Ufam) investiga a soroprevalência de SARS-CoV-2 e os fatores associados, em Manaus.
Coordenado pelos pesquisadores Pritesh Lalwani (ILMD/ Fiocruz Amazônia) e Jaila Dias Borges Lalwani (Ufam), a pesquisa objetiva estimar a distribuição e perfil de casos de COVID-19 na população de Manaus, entre mulheres e homens com idade maior ou igual a 18 anos, residentes nas quatro zonas da cidade.
“Inicialmente o estudo tinha como proposição estimar a distribuição e o perfil de casos de COVID-19 na população da cidade de Manaus. E adicionalmente outras perguntas foram surgindo, à medida que a pandemia avançava e novos elementos foram surgindo, como por exemplo, o advento da vacina. Hoje, além dos aspectos epidemiológicos buscamos compreender como se dá a resposta imunológica a cada tipo de vacina disponível em nosso país”, explicou Pritesh Lalwani.
Resultado das investigações, o artigo “SARS-CoV-2 seroprevalence and associated factors in Manaus, Brazil: baseline results from the DETECTCoV-19 cohort study”foi publicado, na última terça-feira, 19/10, na revista Lancet Global Health . Segundo dados coletados, os resultados da pesquisa sugerem que a transmissão de SARS-CoV-2 em Manaus, ocorreu de modo intenso, no período entre a 1ª e 2ª coleta de dados, e os novos casos de COVID-19 foram associados à não implementação de intervenções não farmacológicas (INF’s), como por exemplo distanciamento social e uso de máscara. “A partir desta comprovação, as políticas públicas voltadas para a contenção da pandemia passam a ter embasamento científico e, isto reforça o quanto elas são essenciais”, enfatizou o pesquisador.
Os pesquisadores iniciaram o estudo no dia 19 de agosto de 2020. Durante a primeira coleta, a prevalência de anticorpos IgG anti-SARS-CoV-2 na população do estudo, foi de 29,1%, entre os meses de agosto e setembro, significativamente maior em homens, quando comparado a mulheres. No mesmo período, os dados apontaram que pessoas com idade entre 50 e 59 anos, estão sob maior risco de adquirir a infecção por SARS-CoV-2 comparado às outras faixas etárias inclusas no estudo.
Para Pritesh, entender os fatores envolvidos da distribuição da doença foi um dos aspectos motivadores no desenvolvimento da pesquisa. “COVID-19 é uma doença nova e diante de algo inédito, faz-se necessário investigar quais fatores estão envolvidos com a dinâmica de distribuição da doença na população. Portanto, o primeiro passo é compreender a epidemiologia desta nova doença”.
Outro dado apontado pelos pesquisadores, refere-se à disparidade socioeconômica desproporcional, observada entre os participantes do estudo. Pessoas com baixa renda tem prevalência de anticorpos anti-SARS-CoV-2 de 35,5%, comparado a 24,45% em indivíduos com alta renda. O artigo descreve ainda, que pessoas com alta renda, boas condições de moradia e que têm plano de saúde privado, possuem menor risco de adquirir COVID-19.
O estudo considerou a taxa bruta de testes entre indivíduos assintomáticos e sintomáticos estimada em 29,10%, com soroprevalência máxima possível de 44,82%, corrigida pelas características do teste e uma taxa de decaimento de anticorpos de 32,31%. Os modelos de regressão demonstraram uma forte associação para residentes marginalizados de baixa renda e vulneráveis, com acesso limitado aos cuidados de saúde.
Os resultados da pesquisa devem contribuir para o desenvolvimento de políticas de contenção da pandemia. O estudo sugere que a natureza sindêmica da COVID-19 na região amazônica precisa de políticas diferenciadas e, soluções urgentes para controlar a pandemia em curso.