Fiocruz recebe Janja para debater saúde da mulher

Primeira-dama do Brasil esteve na Fiocruz Amazônia e conheceu projetos sobre partos tradicionais, redução da mortalidade materna e enfrentamento ao feminicídio

A Fiocruz recebeu o compromisso de apoio da primeira-dama Rosângela Lula da Silva aos projetos desenvolvidos pela instituição na área de saúde da mulher, que auxiliam no fortalecimento do Sistema Único de Saúde (SUS). Janja, como é popularmente conhecida, esteve no Amazonas como enviada especial da agenda das mulheres para a Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas (COP30) – que vai ocorrer em novembro em Belém (PA) – e visitou, nesta quarta-feira (20/8), a sede da Fiocruz Amazônia (Manaus).

Janja informou que a estadia no Amazonas foi a primeira de uma série de viagens que pretende cumprir aos seis biomas brasileiros com o objetivo de construir e levar a Carta das Mulheres à COP 30, documento que visa reunir as demandas e os anseios percebidos. A socióloga fez questão de incluir na agenda a visita à Fiocruz Amazônia por reconhecer a importância da atuação da instituição na região no que diz respeito à temática.

“Estou aqui para pisar nos territórios, ouvir as mulheres e conhecer a realidade ribeirinha dessa parte da Amazônia, que é tão especial e simbólica. Estamos começando pelo Amazonas, juntamente com as enviadas especiais da COP 30 para as agendas da igualdade racial e dos direitos humanos. Resolvemos nos unir e andar pelo Brasil para conversar com as mulheres sobre a COP 30, conhecer sobre a vida delas e levar a Carta das Mulheres para a reunião dos líderes na Conferência”, explicou Janja.

“É com grande satisfação que recebemos a visita da primeira-dama Janja Lula da Silva. Sua presença simboliza não apenas o reconhecimento da relevância da Amazônia, mas também reforça o compromisso com a equidade de gênero e a valorização dos saberes e práticas que emergem deste território único”, reforçou a diretora da Fiocruz Amazônia, Stefanie Lopes, que recebeu Janja na sede da unidade juntamente com pesquisadores em Saúde Pública, responsáveis pela execução dos projetos apresentados.

Durante a passagem pela Fundação, a primeira-dama conheceu projetos sobre saúde sexual e reprodutiva, igualdade de gênero, formação de profissionais de saúde e desenvolvimento populacional. O encontro contou ainda com a presença de parteiras tradicionais, mulheres migrantes, pesquisadoras, representantes da Secretaria Estadual de Saúde (SES) do Amazonas, do Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA), entre outras organizações parceiras da Fiocruz na execução de projetos voltados para redução da mortalidade materna, gravidez indesejada, valorização das parteiras tradicionais e enfrentamento ao feminicídio.

“Ao longo de sua trajetória, a Fiocruz Amazônia, que completou 31 anos na terça-feira (19/8), consolidou-se como referência na produção de conhecimento científico voltado para as necessidades reais das populações amazônidas, promovendo a integração entre saberes tradicionais e avanços tecnológicos na saúde”, destacou Stefanie Lopes.

Ela também lembrou que a nova sede da Fiocruz Amazônia, cujo projeto executivo já está finalizado e Janja pode conhecer, representa um passo fundamental para expandir a capacidade científica, formativa e social da unidade, como polo estratégico não apenas para o Brasil, mas para o mundo. “Precisamos estar aqui e ampliar nossa atuação no território amazônico com capacidade instalada suficiente para atender a todas as necessidades. Para isso, precisamos de ajuda”, conclamou a diretora, reforçando o papel estratégico da Fundação para a saúde pública, unindo ciência, inovação e inclusão social.

A visita à sede da Fiocruz Amazônia marcou o encerramento de uma agenda extensa de Janja no Amazonas, que incluiu encontros com mulheres de comunidades ribeirinhas da Reserva de Desenvolvimento Sustentável (RDS) do Rio Negro e movimentos sociais de Manaus e entorno, no Museu da Amazônia (Musa) e Universidade Federal do Amazonas (Ufam). Ela esteve presente também ao último dia do Encontro da Comunidade Científica e Tecnológica da Amazônia com a Presidência da COP 30, quando foi entregue o documento com as contribuições da comunidade científica da Amazônia ao embaixador da Conferência, André Correia Lago. O evento foi promovido pelo Conselho de Desenvolvimento Econômico Social Sustentável (CDESS) do Governo Federal.

Projetos em saúde da mulher

Dentre os projetos desenvolvidos pela Fiocruz Amazônia, foram apresentados a Janja o projeto Formação de Profissionais do SUS em Saúde da Mulher, que oferece cursos de atualização para profissionais de saúde pelo Campus Virtual Fiocruz. Na modalidade por Educação a Distância (EAD) nas temáticas: Urgências e emergências obstétricas; Planejamento reprodutivo e prevenção de gravidez não planejada; Aconselhamento pré-natal de qualidade e prevenção da gravidez na adolescência. No formato presencial teórico-práticos: Urgências e emergências Obstétricas, Planejamento reprodutivo para Profissionais da Atenção Primária à Saúde. O objetivo é qualificar profissionais e ampliar o acesso a serviços de saúde sexual e reprodutiva, contribuindo para a redução da mortalidade materna e da gravidez não planejada nos estados da Amazônia Legal.

O projeto, coordenado pela vice-diretora de Pesquisa e Inovação, Michele Rocha El Kadri, contabilizou 673 mulheres atendidas em planejamento reprodutivo (inserção de DIU e Implanon) em 5 dias de início das atividades práticas dos cursos. Foram 180 profissionais formados, sendo 142 médicos e enfermeiros obstetras de maternidades e 38 médicos e enfermeiros da Atenção Primária em Manaus, Roraima e Parintins, proporcionando um incremento de 300% de ampliação da oferta de serviços de planejamento reprodutivo na rede de Atenção Primária à Saúde (APS) em Parintins e Boa Vista. Referência em saúde da mulher, a pesquisadora visitante da Fiocruz Amazônia, Maria do Carmo Leal, reforçou a importância do projeto e do fortalecimento das ações de saúde na Amazônia.

Outro projeto apresentado foi o de Valorização de saberes ancestrais das parteiras amazônidas, coordenado pelo pesquisador em Saúde Pública Júlio César Schweickardt. O trabalho tem como finalidade promover o fortalecimento da Associação das Parteiras Tradicionais do Amazonas, como espaço de representação política e cuidado em saúde. O projeto visa também a difusão do Guia em saúde em comunidades e atividades de formação, profissionalização, remuneração e melhoria de insumos para o trabalho das parteiras, verdadeiras guardiãs de saberes ancestrais e cuidados com as mulheres em territórios ribeirinhos, indígenas e rurais com acesso limitado ao SUS. A maioria atua desde a adolescência, com escolaridade limitada e desempenho em contextos de desigualdade socioeconômica e escassez de oferta de serviço de saúde. A associação possui mais de 1.100 parteiras cadastradas no Amazonas.

Como resultados alcançados, o projeto elenca a criação da associação institucionalizada, com presença em todas as regiões do estado; a aprovação da Lei Estadual no 5.312/2020 que garante acesso das parteiras tradicionais em maternidades e hospitais do Estado e a Lei Estadual no 4.875/ 2019, que institui o Dia Estadual da Parteira no Amazonas; reconhecimento crescente da atuação das parteiras como patrimônio cultural e estratégico para o SUS. Janja pode conversar com a presidente da APTAM, Maria do Perpétuo Socorro Rodrigues, que é parteira, no município de Tefé (AM) e salientou as necessidades da categoria, que luta pelo reconhecimento da profissão, garantia de jornada remunerada, kits, transporte, valorização dos saberes locais e integração à agenda ambiental da COP 30.

Outra iniciativa da Fiocruz Amazônia apresentada foi o projeto Ágape, coordenado pela pesquisadora social Rita Bacuri, que atua no enfrentamento a vulnerabilidades de mulheres migrantes, sobretudo na saúde sexual e reprodutiva, promovendo acesso a direitos, fortalecendo lideranças comunitárias e promovendo o protagonismo feminino, com foco na ampliação do acesso de mulheres migrantes à saúde, educação e cidadania. O projeto prevê a formação de mulheres migrantes como lideranças comunitárias, fortalecendo sua representatividade, a garantia de acesso à saúde sexual, reprodutiva e direitos sociais básicos.

Uma delas, a venezuelana Lis Carolina Martinez, presente ao encontro, fez um agradecimento especial à Fiocruz Amazônia pelo acolhimento recebido por meio do projeto. Moradora de Manaus há oito anos, ela atualmente preside a associação Acompanhadas, de apoio a mulheres migrantes e brasileiras, que presta informação sobre direitos femininos e leis brasileiras de proteção às mulheres. “O Brasil é um país maravilhoso. Através da Fiocruz, adquirir conhecimentos sobre direitos e leis e passei a ser uma multiplicadora não só para outras migrantes mas também para brasileiras que vivem na mesma comunidade e desconhecem as leis”, afirmou.  

Por fim, a primeira-dama Janja Lula da Silva conheceu o projeto Vigifeminicídio, de Monitoramento e Visibilidade da Violência Letal Contra Mulheres, que desenvolve uma metodologia para vigilância da informação em saúde aplicada ao feminicídio. O pesquisador em Saúde Pública e Epidemiologista, Jesem Orellana, coordenador da iniciativa, fez um apanhado da atuação do projeto, que visa promover a inserção da vigilância do feminicídio como uma prioridade do SUS, a ampliação da abrangência da Rede Vigifeminicídio, na Amazônia Ocidental – atualmente o projeto está presente em Manaus (AM), Rio Branco (AC), Boa Vista (RR) e Porto Velho (RO), combater as desigualdades de gênero e orientar políticas públicas mais eficazes.

ILMD/Fiocruz Amazônia, Por Júlio Pedrosa

Fotos: Michell Mello