Estudo investiga excesso de mortes por causas respiratórias durante a pandemia

Liderado pelo epidemiologista Jesem Orellana, pesquisador do Instituto Leônidas & Maria Deane (ILMD / Fiocruz Amazônia), um estudo realizado em oito metrópoles brasileiras, com adultos acima de 19 anos, investiga o excesso de mortes por causas respiratórias e, suas trajetórias, durante os seis primeiros meses da pandemia de Covid-19. Segundo o pesquisador, o estudo apresenta um indicador útil para medir o tamanho da subnotificação de mortes específicas por Covid-19. Colaboraram com o estudo os pesquisadores Lihsieh Marrero, da Universidade do Estado do Amazonas (UEA) e, Bernardo Lessa Horta, da Universidade Federal de Pelotas (UFPel).

Publicado pela Revista Cadernos de Saúde Pública, da Escola Nacional de Saúde Pública Sérgio Arouca (ENSP), da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), o artigo “Excesso de mortes por causas respiratórias em oito metrópoles brasileiras durante os seis primeiros meses da pandemia de COVID-19”, apresenta dados sobre o excedente número de mortes por causas respiratórias, entre elas: influenza, pneumonias, bronquites, outras doenças pulmonares obstrutivas crônicas, insuficiência respiratória aguda ou crônica, insuficiência respiratória ou transtorno respiratório não especificado e, outras mortes codificadas com sintomas respiratórios.

Leia o artigo na íntegra.

Os resultados do estudo sugerem que o indicador de mortes excedentes por causas respiratórias é uma alternativa, não só para auxiliar no dimensionamento do real impacto da pandemia de COVID-19 e, sua evolução em diferentes contextos, mas também para alertar sobre a necessidade de aperfeiçoamento de Sistemas de Informações sobre Mortalidade e, para o adequado planejamento de ações voltadas à mitigação da pandemia.

“Este indicador é mais robusto que os de sepultamentos, mortalidade geral e mortes naturais, muitas vezes mal-empregados e, mal interpretados por pessoas comuns e tomadores de decisão. O indicador de mortes excedentes por causas respiratórias poderia substituir, quase que em tempo real, o problemático indicador de mortalidade específica por Covid-19, normalmente subnotificado, e que sofre com o grave problema do atraso na finalização e lançamento oficial desses dados pelos serviços de saúde. Em suma, o indicador de mortes excedentes por causas respiratórias, não é o indicador perfeito que, aliás, não existe. Mas, tem o potencial de fornecer informações mais precisas sobre força da mortalidade por Covid-19 e sua evolução ao longo do tempo, em cenários epidêmicos. Ademais, trata-se de recurso relativamente simples do ponto de vista operacional e de baixo custo para os serviços de saúde”, esclarece Orellana.

Foram incluídas nas análises, oito metrópoles regionais, duas da Região Sudeste (Rio de Janeiro e São Paulo), duas da Região Nordeste (Fortaleza e Recife), duas da Região Norte (Manaus e Belém), uma da Região Centro-oeste (Cuiabá) e outra da Região Sul do Brasil (Curitiba). As cidades foram inseridas na pesquisa por serem as capitais com mais mortes nas regiões, respectivamente.

O estudo, destacou que entre 23 de fevereiro e 8 de agosto de 2020, foram registradas 46.028 mortes por causas respiratórias nas 8 capitais, sendo 12.264 em São Paulo (SP), 13.025 no Rio de Janeiro (RJ), 6.585 em Fortaleza (CE), 5.087 em Recife (PE), 3.621 em Belém (PA), 3.003 em Manaus (AM), 1.275 em Curitiba (PR) e 1.168 em Cuiabá (MT). Com base nos valores supracitados para 2020, os pesquisadores apontam que seriam esperados 11.160 óbitos por causas respiratórias nas 8 capitais, resultando em um excesso de mortes de 312%.

Para Jesem, o expressivo excesso de mortes por causas respiratórias, já era esperado, devido ao “problema da baixa e pouco eficiente testagem para o novo Coronavírus no país”, especialmente em regiões metropolitanas onde a epidemia se comportou de forma mais agressiva, como em Manaus, Belém, Fortaleza e na Cidade do Rio de Janeiro, em 2020.

“Este talvez seja um dos grandes combustíveis para a ampla difusão do novo coronavírus no país, pois ao deixarmos de testar continuamente um grande número de pessoas, acabamos perdendo a capacidade de monitorar corretamente a dinâmica da epidemia ou o comportamento da doença no nível populacional. É como se estivéssemos sempre atrasados ou perdendo as oportunidades de intervir precocemente para limitar a disseminação viral. O raciocínio é bem simples, se não identifico precocemente pessoas infectadas, não consigo acompanhar a evolução dos casos, não consigo rastrear seus contatos e, menos ainda, isolá-los. Com isso, temos uma silenciosa disseminação viral, a qual só é notada depois que as tristes, dispendiosas e evitáveis estatísticas de internação hospitalar aumentam ou mesmo a mortalidade, em geral, tarde demais”, pontua Jesem.

Os pesquisadores acreditam que seria prudente as autoridades sanitárias e pesquisadores investirem na revisão das causas de mortes associadas a sintomas respiratórios, com maior atenção aos meses mais críticos da epidemia e, em regiões sabidamente mais afetadas ou com menor tradição em vigilância epidemiológica e laboratorial, como Manaus, na região norte, que até hoje não possui o Serviço de Verificação de Óbitos (SVO), fundamental para garantir maior cobertura e qualidade às estatísticas de mortalidade.

ILMD/Fiocruz Amazônia, Por Eduardo Gomes
Imagem: Mackesy Nascimento