Fiocruz Amazônia discute planificação da atenção à saúde na Região Amazônica

Pesquisadores e pós-graduandos do Instituto Leônidas & Maria Deane (ILMD / Fiocruz Amazônia) participaram na última quinta-feira, 12/12, da oficina de pesquisa: Planificação da Atenção à Saúde em territórios líquidos na Região Amazônica, realizada em Manaus (AM), sob organização do Conselho Nacional de Secretários de Saúde (CONASS), em parceria com o Centro de Estudos, Pesquisas e Prática em APS e Redes (CEPPAR) do Hospital Israelita Albert Einstein, e o ILMD / Fiocruz Amazônia, unidade técnico-científica da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) no Amazonas.

A mesa de abertura do evento, foi composta por Nayara Maksoud, secretária de Estado da Saúde do Amazonas; Jefferson Rocha, secretário de Estado da Saúde de Rondônia; Jurandi Frutuoso Silva, secretário executivo do Conselho Nacional de Secretários de Saúde (CONASS); Michele Rocha El Kadri, vice-diretora de Pesquisa e Inovação, da Fiocruz Amazônia; Rafael Herrera Ornelas, Diretor de APS e Redes da sociedade Beneficente Israelita Brasileira Albert Einstein; Rafael Saad, coordenador de projetos pela Beneficência Portuguesa de São Paulo; e Cláudio Pontes, representando o Conselho Nacional de Secretarias Municipais de Saúde (CONASEMS); Glauber Pereira, representando o Ministério da Saúde (MS).

Na ocasião, os participantes discutiram sobre os desafios e particularidades da organização do sistema de saúde, em territórios líquidos na Região Amazônica, especialmente diante do atual cenário de mudanças climáticas.  Durante o evento, pesquisadores, pós-graduandos, profissionais de saúde, secretários e representantes de instituições que atuam na Planificação da Atenção à Saúde, abordaram experiências, desafios e potencialidades na organização da Atenção Ambulatorial Especializada (AAE) em rede com Atenção Primária em Saúde (APS), no cenário de territórios líquidos, na Região Amazônica.

Como parte da programação, Michele El Kadri, participou da mesa-redonda: “Planificação da Atenção à Saúde e Região Amazônica: Oportunidades e perspectivas para a geração de conhecimento”, abordando a geração de conhecimento na Região Amazônica. “Esse é um momento bem importante, um momento de encontro, dos serviços e da academia. Muitas vezes, quem está nos serviços, na assistência, está sempre preocupado com indicadores, com atendimento, com medicamentos, para que não falte essa questão logística e, possuem pouco tempo para pensar em planificar, organizar e até refletir sobre como fazer melhor seu trabalho. Nós da academia por outro lado, temos esse tempo de pensar e refletir sobre a prática do cuidado em saúde, mas muitas vezes nos falta o território, que é conhecer totalmente a característica desses lugares”, explica.

Durante a conferência Magna: “Desafios e particularidades da organização do sistema de saúde em territórios líquidos na Região Amazônica em era de mudança climática”, Rodrigo Tobias, pesquisador do Laboratório de História, Políticas Públicas e Saúde na Amazônia (LAHPSA / ILMD Fiocruz Amazônia), falou sobre a importância de considerar as particularidades dos territórios líquidos, neste processo de planificação na Região amazônica. “Hoje é um dia muito importante, dado que discutimos modelos de pesquisa que tratam a questão da regionalização do planejamento em saúde, levando em consideração os territórios líquidos da Amazônia. A Fiocruz tem um papel importante na liderança da construção de evidências científicas sobre a regionalização na região amazônica”, destaca.

O pesquisador falou ainda sobre o desenvolvimento do projeto de pesquisa, que pretende estudar a Planificação da Atenção à Saúde na Região. “Em parceria com o CEPPAR, via do PROADI-SUS, iremos realizar a primeira pesquisa sobre Planificação da Atenção à Saúde, nos territórios líquidos da Amazônia, em cinco regiões de saúde, de cinco estados brasileiros da Região Norte, que irá durar um período aproximado de dois anos. Isso só evidencia o protagonismo da nossa instituição, junto com outros parceiros, em busca de evidências e melhoria de sistemas de saúde mais resilientes, dado a agenda das mudanças climáticas”, esclarece Tobias.

Nayara Maksoud, secretária de Estado da Saúde do Amazonas, destacou a importância do diálogo entre instituições de pesquisa da Amazônia e os serviços de saúde, para uma planificação mais regionalizada. “O Estado do Amazonas é incomparável diante de toda a realidade geográfica que nós temos no Brasil. Somos 62 municípios, aonde 90% têm acesso apenas por via fluvial, então o conceito território líquido, num conjunto para discutir e fortalecer todo o processo de trabalho da atenção básica, é primordial. Hoje, em uma união de esforços com secretarias de estado da região norte, Hospital Israelita Albert Einstein, Ministério da Saúde, CONASS, CONASEMS, Beneficência Portuguesa, Fiocruz, trouxemos um diálogo com olhar externo, para que unindo a pesquisa, o ensino, o serviço, nós possamos olhar de maneira singular, para uma região singular, que é o Amazonas”, enfatiza.

O conceito de território líquido é baseado na ideia de que as águas fazem parte da vida cotidiana das populações ribeirinhas, estando presentes no trabalho, lazer e nos caminhos que se percorrem. O ciclo das águas, com enchentes, cheias, vazantes e secas, altera os fluxos e caminhos, impactando a vida das pessoas. O território é um conceito estratégico para a saúde, pois permite reconhecer as condições de vida e saúde da população, e organizar práticas de gestão político-administrativas.

NA PRÁTICA

A partir das discussões e propostas elaboradas durante a oficina, o projeto de pesquisa pretende alcançar cinco Estados. A pesquisa será realizada pelo Centro de Estudos, Pesquisa e Prática em APS e Redes (CEPPAR), ILMD Fiocruz Amazônia e CONASS, nos estados da região norte que trabalham com a Planificação da Atenção à saúde (Acre, Roraima, Rondônia, Tocantins e Amazonas). O tema central do estudo será a organização da APS e atenção especializada, no contexto da Planificação da Atenção à Saúde em territórios líquidos, na região amazônica.

Jurandi Frutuoso, secretário executivo do CONASS, explica que um dos aspectos de suma importância neste processo, é a construção de evidências científicas. “A Planificação da Atenção à Saúde, tem um objetivo de aproximar a atenção primária, da atenção especializada, e isso já acontece no Brasil como um todo. Porém, na região norte, temos características peculiares, que precisam ser observadas, portanto, essa pesquisa que está sendo hoje iniciada, discutida aqui em Manaus, precisa ser aprofundada para que oriente o nosso trabalho, bem como a Planificação de maneira bastante fundamentada, com base em evidências científicas, para que ela possa dar o resultado esperado”, pontua.

De acordo com Daiana Bonfim, Coordenadora do Centro de Estudos, Pesquisas e Prática em APS e Redes (CEPPAR) do Hospital Israelita Albert Einstein, o diálogo promovido por meio da oficina, possibilita que a execução da pesquisa tenha maior conexão com as reais necessidades, dos profissionais que atuam nesses territórios. “Essa oficina tem o objetivo de a gente pensar, criar e desenvolver, um projeto de pesquisa em conjunto com profissionais, gestores, com pesquisadores, que atuam aqui na região amazônica, principalmente nos territórios líquidos, para que possamos avançar em uma proposta de pesquisa que esteja conectada com as reais necessidades das pessoas e dos profissionais que fazem a Planificação no dia-a-dia, nesse contexto tão importante que é a região amazônica”.

Márcio Paresque, gerente de projetos do Hospital Israelita Albert Einstein, explicou sobre a importância do respaldo científico neste processo. “A gente pensou esse projeto, a partir do momento em que, trabalhando a Planificação na região norte, em especial em territórios líquidos, percebemos o quanto era desafiador, e o quanto também faltava um respaldo científico, pesquisas que pudessem respaldar melhor a Planificação nesses territórios. Em diálogo com a Fiocruz e o CEPPAR, entendemos que seria importante focar nesses territórios, comtemplando todos esses estados, e o ponto de partida deste projeto iniciando através dessa oficina”, disse.

PlanificaSUS

O PlanificaSUS é um Projeto do Programa de Apoio ao Desenvolvimento Institucional do Sistema Único de Saúde (PROADI-SUS), articulado pelo Conselho Nacional de Secretários de Saúde junto ao Ministério da Saúde (MS), que visa a operacionalização da Rede de Atenção à Saúde no âmbito do SUS, oferecendo ferramentas para o alinhamento dos processos de trabalho e melhor articulação entre a Atenção Primária em Saúde e a Atenção Especializada.

ILMD / Fiocruz Amazônia, por Eduardo Gomes
Fotos: Eduardo Gomes