Livro organizado por pesquisadores da Fiocruz Amazônia aborda práticas sociais de enfrentamento da pandemia no Amazonas
A pandemia deixou marcas profundas na vida das pessoas, dos trabalhadores e gestores da saúde. Pensando nisso, pesquisadores do Laboratório de História, Políticas Públicas e Saúde na Amazônia (LAHPSA) do Instituto Leônidas & Maria Deane (ILMD / Fiocruz Amazônia) desenvolveram uma pesquisa com usuários, trabalhadores e gestores da saúde. Ao mesmo tempo, foi realizado um registro das histórias da experiência da Covid-19 no trabalho. O livro “Práticas sociais de enfrentamento da pandemia na Amazônia: esperançando novos mundos” é o resultado da pesquisa e das oficinas realizadas em 12 municípios do Estado do Amazonas. A obra foi realizada a partir de um projeto de pesquisa financiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Amazonas (FAPEAM) e desenvolvida pelo LAHPSA/Fiocruz Amazônia, com a colaboração de alunos, pesquisadores, trabalhadores e gestores de saúde de diferentes instituições e municípios do Estado do Amazonas.
Organizado pelos pesquisadores Júlio Cesar Schweickardt, Alcindo Antônio Ferla, Thalita Renata Oliveira das Neves Guedes, Izi Caterini Paiva Alves Martinelli dos Santos, Sônia Maria Lemos e, Ana Elizabeth Sousa Reis, o livro possui 309 páginas, divididas em três sessões que contam histórias, de vivências e de memórias sobre os diferentes momentos da pandemia. “Sobrevivente do Misterioso”, “Movimentos Da Saúde Em Itacoatiara, AM: da pintura na pedra às marcas da pandemia”, “o que dizem os aspectos locais sobre os efeitos da covid na organização da vida em Tefé, AM”, “O enfrentamento à pandemia em Presidente Figueiredo, Amazonas: entre quedas d’água, movimentos intersetoriais criativos para mitigar os efeitos da Covid-19”, “Corredeira, levando a canoa: a gestão e o cuidado em saúde na pandemia em Boca do Acre, Amazonas”, são algumas das histórias e resultados apresentadas no e-livro.
Para Júlio Schweickardt, pesquisador do ILMD Fiocruz Amazônia, um dos pontos positivos propiciados através deste trabalho, foi a participação dos gestores e trabalhadores da saúde no processo de pesquisa e de escrita da obra. “O diferencial desse livro é o fato de termos envolvidos os gestores e trabalhadores nessa escrita, então eles também foram pesquisadores, participaram da coleta, na organização dos dados, ou seja, é uma abordagem metodológica participativa e colaborativa da pesquisa.
Os resultados do projeto “Prevenção e controle da Covid-19: a transformação das práticas sociais da população em territórios de abrangência da Atenção Básica em Saúde no Estado do Amazonas”, tiveram como objetivo central, analisar as transformações sociais produzidas pela pandemia. Durante o estudo, os pesquisadores observaram uma grande capacidade de resiliência tanto de trabalhadores, como dos usuários nesses 12 municípios do Amazonas, mas que retratam a realidade da região amazônica.
O livro está dividido em três momentos: no primeiro com os prefácios de parceiros internacionais da Itália e Nicarágua, que tem participado das pesquisas e produções do LAHPSA e, se inseriram em diferentes momentos da pesquisa, seja como dispositivo de pensamento em atividades de ensino e extensão em atividades nacionais e internacionais, seja como colaboração na pesquisa propriamente dita. Ainda nessa sessão, os organizadores apresentam dois textos mais gerais sobre a pesquisa. Na segunda sessão, estão os capítulos que discutem os resultados da pesquisa e as estratégias municipais de enfrentamento da pandemia. Na terceira sessão, os pesquisadores destacam relatos de trabalhadores e gestores de saúde.
As narrativas apresentadas na terceira sessão da publicação são emblemáticas porque trazem a experiência de quem esteve na gestão, quem ficou em casa por ser do grupo de risco, de quem atuou nos serviços nos momentos mais trágicos da nossa história recente. O convite para escrever as narrativas das experiências foi feito a todas as pessoas participantes das oficinas, embora o grupo só tenha recebido o retorno dos profissionais e gestores do município de Parintins.
ARTE DA CAPA
Retratada na capa da publicação, uma obra do artista Rai Campo, chama atenção sobre os cuidados com o planeta. Um dos maiores trabalhos de sua experiência artística: o “Mãe D’Água”, foi pintado no reservatório da Águas de Manaus, na Ponta Negra. Feito a 27 metros do chão, em parceria com outros colegas grafiteiros, o painel representa sua amiga indígena Margô, de São Gabriel, em homenagem ao espírito que gera, acolhe, ama e garante o sustento a todos.
Rai Campos, conhecido como Raiz, é uma das grandes expressões do grafitti na região Norte. Nascido na Bahia, chegou ao Amazonas ainda criança para morar na Vila do Pitinga, dentro da Área Indígena Waimiri Atroari, onde começou a grafitar aos 14 anos por esforço próprio.
SOBRE A REDE UNIDA
A Rede Unida é uma entidade internacional, sediada no Brasil, que se estrutura por uma Coordenação Internacional, Coordenações Regionais no Brasil, Núcleos Internacionais nos quais mantém relações de cooperação e Fóruns Temáticos, sendo o de Residências em Saúde; dos Direitos Humanos, da Diversidade e da Equidade de Raça e Gênero; Fazer-SUS; Internacional da Rede Unida; e Fórum Povos. Mantém ainda a Editora Rede Unida e TV Rede Unida com importante contribuição à publicação difusão de materiais formativos, científicos, debates e seminários sobre variados temas relacionados à saúde e à vida.
A Rede Unida se propõe a promover iniciativas conjuntas entre universidades, serviços de saúde, organizações comunitárias, arte e cultura, no Brasil e países onde mantém Núcleos Internacionais. Também coloca, em papel central, a participação ativa de estudantes e professores, de profissionais, gestores, e usuários de serviços públicos de saúde, de militantes de movimentos sociais e outros representantes da sociedade civil nacional e internacional, com a perspectiva de que essas experiências compartilhadas multiplicam o entendimento sobre saúde, a defesa da vida, e seu papel na sociedade.