Fiocruz apoia criação de Grupo Condutor de ISTs, HIV/Aids e Hepatites Virais no Amazonas
A Fiocruz Amazônia é uma das instituições parceiras da Secretaria de Estado da Saúde (SES) do Amazonas na implantação do Grupo Condutor de ISTs, HIV/Aids e Hepatites Virais. O grupo terá como finalidade promover a retomada das ações de prevenção, controle, diagnóstico e assistência em HIV/Aids, bem como a criação de políticas públicas de saúde voltadas para as pessoas vivendo com HIV no Amazonas. A iniciativa conta com a parceria da sociedade civil, da Fundação de Vigilância em Saúde Dra Rosemary Costa Pinto e das coordenações de HIV/Aids da Prefeitura de Manaus e da SES-AM. Um acordo de cooperação foi firmado entre a Fiocruz Amazônia e a SES-AM visando a elaboração de plano de trabalho.
Na última quarta-feira, 16/02, ocorreu a primeira reunião do grupo para apresentação dos integrantes e definição das próximas agendas. Uma delas, a da mudança da titularidade da coordenação do Programa Estadual de ISTs, HIV/Aids e Hepatites Virais, que passará a ser da FVSRCP, após aprovação da Comissão Intergestores Bipartite – CIB (instância colegiada que no âmbito do Sistema Único de Saúde pactua o processo de gestão nos níveis estadual e municipal, as estratégias de hierarquização e execução das ações e serviços).
A diretora do Instituto Leônidas e Maria Deane (ILMD/Fiocruz Amazônia), Adele Benzaken, destaca a importância desse momento de retomada mediante o impacto da pandemia de Covid-19 no avanço do número de óbitos e novos casos de HIV no Brasil, em especial no Amazonas. “Nos últimos dois anos, milhares de pessoas soropositivas abandonaram tratamento nos ambulatórios especializados, temendo a contaminação pelo novo coronavírus, muitos deixaram também de fazer o teste e o resultado é a tendência de aumento de novos casos e de óbitos”, explicou a médica sanitarista. O grupo condutor terá a função de garantir a efetividade das ações no Amazonas, com a participação de todos os integrantes na tomada de decisões e aplicação dos recursos.
O projeto, denominado “Fortalecimento da Política de IST/HIV/Aids e Hepatites Virais no Estado do Amazonas”, prevê a elaboração de estratégias de atuação em IST/HIV/AIDS e Hepatites Virais no Estado do Amazonas através de ações de advocacy, reestruturação dos serviços e modelos de qualificação de profissionais. É consenso das instituições de pesquisa e saúde em todo o mundo que a diminuição de testagem para HIV/AIDS favorece um aumento na transmissão do vírus. Assim, as pessoas infectadas só acessam os serviços de saúde tardiamente, quando já se encontram gravemente adoecidas e com alto risco para o óbito. “É urgente que os serviços de saúde passem por uma reestruturação para uma resposta a essa pandemia silenciosa”, ressalta Adele.
O Amazonas historicamente possui uma taxa de infecção 83% superior à média brasileira. Com o cenário atual de crescimento dos casos de HIV/AIDS, o estado se torna um ponto de atenção importante. A ideia é que a partir da união da capilaridade dos serviços da Secretaria de Estado da Saúde do Amazonas e a expertise dos profissionais da Fiocruz Amazônia nos temas de enfrentamento às ISTs, HIV/AIDS e hepatites virais, além de planejamento, implementação e monitoramento das ações de resposta à infecção.
As entidades da sociedade civil representadas no grupo aplaudiram a iniciativa. Vanessa Campos, da Rede Nacional de Pessoas vivendo com HIV e Aids (RNP+), no Amazonas, destacou a importância da retomada do diálogo com o movimento social. “Os 40 anos de epidemia de HIV/Aids no Brasil e os esforços para que a política brasileira de HIV/Aids se tornasse referência para o Mundo foram colocados de lado nos últimos anos. A criação do Grupo Condutor de HIV/ Aids e Hepatites Virais do Amazonas demonstra a sensatez e boa vontade de retomar o diálogo com o movimento social na pauta do HIV, o que deixou de acontecer desde final de 2017”, afirmou.
Para Vanessa, vivendo há 32 anos com HIV, as conquistas obtidas até hoje pela política brasileira de prevenção e tratamento ao HIV/Aids foram fruto das demandas dos movimentos sociais, formados por pessoas atingidas pela epidemia e que estavam requerendo tratamento e uma estrutura que pudesse dar uma resposta a elas na sociedade. “Não é à toa que esse movimento continua lutando pela conquista dos direitos. É muito importante que o movimento social seja ouvido porque a construção dessas políticas é para essas vozes”, observou.
NO AMAZONAS
De acordo com o Boletim Epidemiológico de HIV/Aids 2021 do Amazonas, 14.248 casos de Aids foram registrados de 2010 a 2020, sendo 59,6% deles (8.498) notificados pelo Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan). Dos casos de Aids registrados nesse período, 9.913 (69,6%) foram do sexo masculino e 4.324 (30,3%) do sexo feminino, sendo 11 (0,1%) registrados como ignorado. Foi observada a redução da taxa de detecção de Aids entre o sexo masculino nos anos de 2011, 2012, 2015, 2016 e 2017 e a elevação da mesma nos anos de 2018 a 2020. No sexo feminino foi observada a redução da taxa de detecção a partir de 2011. O Estado apresentou, no mesmo período, taxa de mortalidade por Aids maior que a do País.