Vacinas e estudos sobre Covid-19 são abordados durante primeiro dia II Encontro da Pós-graduação da Fiocruz Amazônia

Iniciou nesta segunda-feira, 23/11, o II Encontro da Pós-graduação do Instituto Leônidas & Maria Deane (ILMD/Fiocruz Amazônia). O evento ocorre até quinta-feira, 26/11, e reúne pesquisadores, alunos de pós-graduação e iniciação científica, com o objetivo de discutir avanços científicos em temáticas de relevância para a pesquisa dos pós-graduandos da Unidade, além de estimular a troca científica entre os alunos dos diferentes cursos, e divulgar a pesquisa desenvolvida pelos discentes dos Programas.

Compuseram a mesa de abertura online do evento os pesquisadores, Sérgio Luz (Diretor do ILMD/Fiocruz Amazônia), Nísia Trindade Lima (Presidente da Fiocruz), Cristiani Vieira Machado (Vice-presidente de Educação da Fiocruz), Maria Cristina Guillam (CGE -Fiocruz), Rosana Parente (Vice-Diretora de ensino do ILMD/Fiocruz Amazônia), Richarlls Martins da Silva (APG-Fiocruz), Priscila Aquino (Coordenação do evento).

Durante a abertura do evento, Nísia Trindade, Presidente da Fiocruz, apresentou uma sistematização das ações da Instituição. Intitulada “Pandemia da Covid-19: Incertezas e perspectivas para a construção de um novo futuro”, a apresentação propôs uma reflexão, de ordem mais geral sobre a pandemia, possibilitando maiores orientações, nesse momento para as ações institucionais.

O Diretor da Fiocruz Amazônia, Sérgio Luz, falou sobre a relevância da temática, considerando principalmente as ações providas pela Fiocruz durante a Pandemia e, o empenho da Instituição diante deste cenário. “O tema escolhido para esta edição, é mais que atual e, nos remete para diversas ações que a Instituição tem feito. A Fiocruz despontou neste cenário como a Instituição que conseguiu o maior índice de apoio em doações de diversas iniciativas em todo Brasil, conseguindo fazer isto de uma forma transparente, altamente eficiente. Aqui também não foi diferente, nossa Unidade conseguiu com o apoio de outras Unidades, disponibilizar mais de oito mil testes rápidos, capilarizando por todo o interior do Estado do Amazonas, para as aldeias, e populações de alta vulnerabilidade. Conseguimos levar ainda, investimentos em EPIs para os agentes de saúde, para que eles pudessem trabalhar nessas regiões”, explicou.

Sérgio Luz complementou, abordando ainda o empenho da Instituição no campo da pesquisa. “Nosso laboratório ficou como referência para o laboratório central, ajudando no mapeamento genético do vírus, além de prestar mais de seis mil testes de PCR para o Estado. Fizemos um grande trabalho com a comunidade também. Estamos trabalhando na ponta, na parte da atenção primária, no campo da saúde mental também, na parte de ensaios clínicos de drogas, em diagnósticos, em diversas iniciativas.

A presidente da comissão organizadora do evento, Priscila Aquino, pesquisadora da Fiocruz Amazônia, destacou a relevância da temática abordada nesta edição, dado o momento que vivemos. “A segunda edição deste Encontro de pós-graduação, não poderia deixar de abordar um tema tão presente em nosso dia a dia, que afetou bastante a educação em nível mundial e nacional, em especial os alunos da pós-graduação”, pontou Aquino.

Richarlls Martins da Silva, coordenador-geral da Associação de Pós-graduandos da Fiocruz (APG-Fiocruz), destacou o amadurecimento e engajamento dos estudantes, para a organização de espaços necessários no campo da pós-graduação. “É com muita alegria que a gente participa desta segunda edição do Encontro de Pós-graduação da Fiocruz Amazônia. Tivemos no ano passado, participando presencialmente. Seguir nesta construção, pelo segundo ano, é uma perspectiva muito significativa para o conjunto de pós-graduandos(as) da Fiocruz, pois demonstra não somente o amadurecimento político da organização e da construção deste espaço, mas também do enorme engajamento dos estudantes”, disse.

Cristina Guilam, Coordenadora da Coordenação Geral de Educação da Fiocruz, complementou a ideia, destacando o papel e desempenho da pós-graduação da Fiocruz Amazônia. “A pós-graduação do ILMD exerce um papel fundamental na região amazônica, assim como seus programas, tanto os que são trabalhados em rede, como os programas que são oferecidos diretamente e vem crescendo nos últimos anos”, destacou.

Rosana Parente, Vice-Diretora de ensino do ILMD/Fiocruz Amazônia, agradeceu aos envolvidos na organização do evento, e aos inscritos, considerando a realização desta edição de forma remota. “Gostaria de agradecer aos inscritos nesse encontro. Fizemos uma programação montada com muito carinho. Sabemos que não é simples organizar um evento desta natureza e, deixa de ser menos simples ainda quando a gente pensa nesta estrutura que agora estamos fazendo uso, produzindo todo o evento de forma remota”, concluiu.

Cristiani Vieira, Vice-presidente de Educação da Fiocruz, pontuou o empenho da Fiocruz Amazônia em desenvolver atividades no campo da educação, além de elogiar o envolvimento dos alunos da Unidade. “O ILMD é uma Unidade que possui uma atividade na educação muito vibrante, intensa. As vezes que estive na Instituição, sempre vi o auditório lotado de alunos. Acho muito bonito o trabalho feito pela Instituição, desde a iniciação científica, a mobilização e envolvimento dos alunos com a Unidade, com a pesquisa, com a Fiocruz. Existe uma sensação de pertencimento muito forte, que a gente consegue ver nos alunos da Fiocruz Amazônia” destacou.

PALESTRA DE ABERTURA

Com o tema “COVID-19: Segunda Onda e Vacinas”, a palestra de abertura do evento foi ministrada pelo pesquisador, Julio Croda, especialista em Saúde Pública na Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), unidade Mato Grosso do Sul. Além de apresentar um panorama sobre as ondas de Covid-19, desde seu início, o pesquisador respondeu dúvidas e fez esclarecimentos sobre comparativos entre o Amazonas e outros estados.

Após abordar o desenvolvimento de vacinas, Croda respondeu questionamentos sobre o compartilhamento de notícias falsas em tempo de pandemia, considerando futuros impactos disso na cobertura vacinal. “Nossa função como pesquisador é se comunicar adequadamente com a população, combatendo a fake News, e nesse sentido, precisamos compartilhar as notícias positivas. Cabe muito à todos nós pesquisadores, alunos, professores desmistificar isso, A origem da vacina não traduz muita coisa, o que importa são os resultados de eficácia. Não tem muita justificativa esse tipo de discurso xenofóbico”, enfatizou.

O evento contou ainda com a apresentação cultural do Coral da Fiocruz e  da cantora amazonense Márcia Siqueira.

Confira AQUI o registro da abertura.

SESSÃO CIENTÍFICA

No período da tarde, ocorreu a Sessão científica “Origem, dinâmica de transmissão e diversidade genética do SARS-CoV2”, dividida em uma série de palestras. A primeira palestra “Monitoramento da transmissão do SARS-CoV-2 no Brasil: rotas de entrada, desa­fios dos dados e análise de situação”, foi ministrada por Marcelo Ferreira C. Gomes, doutor em Física pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e atualmente pesquisador do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz).

Durante a apresentação, discutiram- se temas, como: Características gerais do vírus; Os primeiros casos diagnosticados na China; Os dados de Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG) entre os anos de 2013 a 2019, que correspondiam a aproximadamente 10 a 12%, enquanto os de Influenza oscilavam de 14 a 18%; Aumento de casos graves com uma gama de sintomas, evoluindo a óbito; O efeito dominó ou cascata tendo como consequência o surto epidêmico.

Para Marcelo, o estudo do SARS-Cov-2 deve levar em conta não somente o patógeno, mas também as características das populações, bem como as interações entre agentes (amigos, parceiros sexuais, coabitantes) e populações (transporte público, aeroportos, rodovias). Assim, os estados do Rio de Janeiro (RJ) e São Paulo (SP) podem ser considerados as principais portas de entrada do vírus no Brasil, tendo em vista a rede de mobilidade aérea.

“O Brasil sequer conseguiu reduzir significativamente a nossa primeira onda. Entra um pouco daquela discussão de primeira onda ou segunda onda. No ponto de vista prático de ação é até uma discussão secundária, é preciso saber onde é que estamos e para onde estamos indo, se está em queda ou estabilização. Em que nível essa estabilização está se dando? Ou se estamos enfrentando o início de uma retoma do crescimento”, afirmou o pesquisador.

Tiago Gräf, doutor em biotecnologia e Biociências pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e pesquisador do Instituto Gonçalo Moniz (IGM/ Fiocruz Bahia), apresentou a palestra “Origem e diversi­ficação do SARS-CoV-2”. Na oportunidade, foram discutidas questões importantes sobre o genoma e a sequência do vírus. Segundo o pesquisador, a origem do SARS-Cov-2 possui 79% de similaridade com o SARS-Cov e aproximadamente 95% com dois coronavírus de morcego (RaTG13 e RmYN02), o que ainda é muito diferente do necessário para representar uma transmissão direta.

O Brasil possui 1186 genomas submetidos no período de 28/02 a 20/11. Sobre a maior transmissibilidade do vírus, Tiago explica que “nas vias aéreas superiores havia mais produção do vírus mutado, quando que no pulmão. A mudança era significante ou seja não havia mudança significativa entre mutado ou não. Esse vírus se reproduz melhor nas vias aéreas superiores e é o que, provavelmente, favorece a transmissão de carga viral”.

A última palestra do dia, “Morcegos, doenças emergentes e perda de biodiversidade: qual a relação com a COVID-19?” foi ministrada por Alessandra Nava, doutora em Epidemiologia Experimental aplicada às Zoonoses, pela Universidade de São Paulo (USP) e pesquisadora da Fiocruz Amazônia. Segundo Nava, os surtos zoonóticos estão amplamente ligados ao desmatamento de locais de alta biodiversidade e alta densidade populacional.

A pesquisadora explicou que para captar os dados necessários, as pesquisas concentram-se nessas regiões. De acordo com Nava, “o gatilho são essas mudanças ambientais. Então, se não conseguir frear esses acontecimentos, vai ser questão de tempo para aparecer um outro vírus rapidamente”, esclarece a pesquisadora.

Na ocasião, outro tema abordado foi o Biobanco da fauna silvestre Amazônica do Laboratório Ecologia de Doenças Transmissíveis na Amazônia (EDTA/Fiocruz Amazônia), um repositório para armazenamento e distribuição de diferentes tipos de material biológico, que incluem o sequenciamento genético. Esse monitoramento ativo possui: 370 indivíduos coletados, 2350 amostras coletadas (sangue, urina, tecidos), 12 espécies (Primatas, Carnivora, Chiroptera, Rodentia, Marsupiallia).

Prática Integrativa: Ergonomia

Como fechamento do primeiro dia de evento, ocorreu uma Prática Integrativa, com o tema Ergonomia, que corresponde ao estudo científico das relações entre o ser humano e a máquina, objetivando o melhor modo de integração e segurança. Para debater com os alunos de Pós-Graduação do ILMD/Fiocruz Amazônia, palestrantes e demais participantes, o palestrante convidado foi Jansen Estrázulas, Pós-Doutorado em Fisioterapia e Terapia Ocupacional pela Universidade Internacional da Flórida (FIU).

A roda de conversa esclareceu as dúvidas dos presentes e deu dicas para melhorar o desempenho, como pausas a cada 30 min durante as atividades e, cuidado com dicas de qualquer pessoa. Estrázulas ressaltou também a necessidade de movimento do corpo humano e os perigos de se manter em uma postura estacionária.

ILMD/ Fiocruz Amazônia, por Eduardo Gomes e Diovana Rodrigues

Imagem: Reprodução