Transmissão sexual do vírus da Zika entre mosquitos é comprovada

A transmissão sexual do zika vírus (ZIKV) entre mosquitos foi constatada por pesquisadores do Instituto Leônidas & Maria Deane (ILMD/Fiocruz Amazônia) como um divisor de águas nos estudos sobre a doença. A pesquisa foi concluiu que os mosquitos machos infectados podem transmitir o vírus da zika para as fêmeas no acasalamento.

A conclusão inédita foi registrada no artigo ‘First Evidence of Zika vírus venereal transmission in Aedes aegypti mosquitoes’ (no português: Primeira Evidência da transmissão venérea do vírus Zika em mosquitos Aedes aegypti), publicado no periódico internacional Memórias do Instituto Oswaldo Cruz.  Em 2017, o trabalho recebeu o Prêmio Jovem Pesquisador 2017, na categoria Mestrado, do 53º Congresso da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical (Medtrop).

O artigo é assinado por Cláudia María Ríos Velásquez, Jordam William Pereira Silva, Valdinete Alves do Nascimento, Heliana Christy Matos Belchior, Jéssica Feijó Almeida, Felipe Arley Costa Pessoa e Felipe Gomes Naveca, todos pesquisadores do Laboratório Ecologia de Doenças Transmissíveis na Amazônia (EDTA) do ILMD/Fiocruz Amazônia.

“O objetivo principal da pesquisa registrada no artigo foi avaliar a possível transmissão venérea de zika vírus entre mosquitos Aedes aegypti, que é considerado o principal vetor desse arbovírus”, explicou o mestre em Saúde Coletiva pelo ILMD, Jordam Silva, que compõe a equipe de autores do trabalho e foi orientado pela pesquisadora do Laboratório EDTA do ILMD/Fiocruz Amazônia, Cláudia Velásquez, bióloga e doutora em Ciências da Saúde.

Outro resultado da pesquisa foi de que as fêmeas infectadas oralmente com o vírus também podem o transmitir para os machos no acasalamento. “Portanto, a infecção por ZIKV nos mosquitos pode ocorrer não só durante alimentação sanguínea em um hospedeiro infectado”, informou Jordam Silva.

Na avaliação da pesquisadora Claudia Velásquez, que é especialista em entomologia médica com ênfase nas interações entre patógenos e hospedeiros, a descoberta é considerada um fato importantíssimo ao constatar que na natureza não só as fêmeas se infectam e transmitem o vírus Zika através da picada. “Isso é muito relevante do ponto de vista epidemiológico, pois mostra que a circulação do vírus entre os mosquitos pode ser mantida sem a necessidade do hospedeiro vertebrado”, afirmou ela.

Os pesquisadores já sabiam que o vírus da zika podia ser transmitido sexualmente entre humanos, mas essa última constatação ajuda a entender o motivo de o vírus da zika ter se espalhado tão rapidamente, ainda em 2015, quando surgiram os primeiros casos da doença no País. A transmissão por via sexual entre mosquitos aumenta muito a probabilidade de o vírus se manter na natureza, mesmo em períodos não epidêmicos, sem pessoas infectadas, assim o vírus circula silenciosamente entre os mosquitos.

“É importante entender porque a epidemia estará sempre ali latente circulando. A conseqüência epidemiológica disso é muito importante porque nos faz pensar no aumento do risco da transmissão dessas doenças para os humanos”, disse ela. Segundo Jordam Silva, os impactos para sociedade são extremamente relevantes do ponto de vista epidemiológico e representam uma preocupação para a saúde pública. “A transmissão venérea de ZIKV entre mosquitos poderia aumentar potencialmente a propagação do vírus e ser um mecanismo importante na manutenção do vírus na natureza”, argumentou ele.

O pesquisador disse também à reportagem da Fiocruz Amazônia Revista que, na ausência de uma vacina, a capacidade de bloquear a propagação do ZIKV depende unicamente de medidas de controle vetorial. “Portanto, os estudos que aumentam nossa compreensão das interações biológicas entre o vírus e o hospedeiro são de grande importância e devem ser encorajados”, justificou.

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Fiocruz Amazônia Revista, por Cristiane Barbosa
Foto: Eduardo Gomes