Bolsista da Fiocruz Amazônia recebe Menção Honrosa no Prêmio Destaque CNPq por estudo sobre disfunção óssea em pessoas vivendo com HIV/Aids

A estudante Isabele Rodrigues Praxedes, bolsista do Programa de Iniciação Científica (PIC) do Instituto Leônidas & Maria Deane (ILMD/Fiocruz Amazônia), recebeu Menção Honrosa na 22ª edição do Prêmio Destaque na Iniciação Científica e Tecnológica do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), na categoria Bolsista de Iniciação Científica – Mérito Institucional, na área de Ciências da Vida. A premiação, concedida pela Coordenação de Execução e Difusão de Prêmios Nacionais e Internacionais em Ciência, Tecnologia e Inovação (CT&I) do CNPq, foi anunciada nesta sexta-feira, 27 de junho.

Acadêmica do 9º período do curso de Farmácia da Faculdade Estácio do Amazonas, Isabele concorreu com o projeto “Impacto da Disfunção Mineral Óssea na Exaustão Celular de Linfócitos T em Pessoas Vivendo com HIV/Aids sob Tratamento Antirretroviral”, pesquisa que contribuiu para a criação de ambulatórios especializados no cuidado clínico de pessoas vivendo com HIV/Aids (PVHA) acima dos 50 anos.

“Trata-se de um trabalho de grande relevância, fruto do empenho coletivo e, em especial, da dedicação de Isabele, que conduziu com excelência todas as etapas do projeto”, avalia o pesquisador Yury Oliveira Chaves, coordenador de Iniciação Científica do ILMD/Fiocruz Amazônia e orientador da aluna, juntamente com o pesquisador em Saúde Pública da Fiocruz Amazônia, Paulo Nogueira (co-orientador). “Ela superou as expectativas ao dominar rapidamente habilidades técnicas que geralmente exigem anos de prática, como recrutamento de participantes, aplicação do TCLE e questionários, busca de dados retrospectivos, coleta e processamento de amostras, cultivo celular, imunofenotipagem e dosagem de mediadores imunológicos”, completa Yury.

Para Isabele, o reconhecimento do CNPq representa uma conquista marcante “Receber a Menção Honrosa no Prêmio Destaque do CNPq é motivo de imensa alegria e gratidão. Esse reconhecimento nacional mostra que a ciência feita na Região Norte, mesmo com tantos desafios, tem qualidade e relevância. Nosso projeto busca melhorar a qualidade de vida de pessoas vivendo com HIV e Aids no envelhecimento, e fico muito feliz em ver esse esforço valorizado”, comemorou, agradecendo ao orientador, Dr. Yury Chaves, ao coorientador, Dr. Paulo Nogueira, e às colegas de laboratório, que estiveram com ela em cada etapa.

A estudante explica que a pesquisa revelou alterações imunológicas relacionadas à perda óssea e destacou a importância de um cuidado individualizado, considerando as diferenças entre os sexos. “Essa premiação representa, para mim, a realização de um sonho: fazer ciência com impacto desde a graduação. Fortalece minha trajetória profissional e me motiva ainda mais a seguir contribuindo como futura farmacêutica e pesquisadora comprometida com a saúde da nossa população”, frisou.

SOBRE O PRÊMIO

O Prêmio Destaque na Iniciação Científica e Tecnológica é voltado para bolsistas vinculados aos programas de iniciação científica e tecnológica do CNPq. Além da premiação em dinheiro, os contemplados e suas instituições recebem bolsas de iniciação científica ou tecnológica, mestrado ou doutorado. Os candidatos são indicados pelas instituições de ensino e pesquisa, por meio de submissão online conforme os critérios estabelecidos em edital.

O prêmio contempla quatro categorias:

Bolsista de Iniciação Científica (PIBIC e PIBIC-Af); Bolsista de Iniciação Tecnológica (PIBITI);Bolsista de Iniciação Científica Júnior (PIBIC-EM); Mérito Institucional, voltada às instituições com participação destacada nos programas de bolsas. Para esta edição, as instituições interessadas na categoria Mérito Institucional precisaram enviar documentação específica conforme o edital — diferentemente de anos anteriores, quando a inscrição era automática. Todos os bolsistas premiados receberão passagens e hospedagem para participar da cerimônia de entrega, que ocorrerá durante a Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC). A instituição vencedora nesta categoria será contemplada com a concessão adicional de 5 a 20 bolsas de iniciação científica ou tecnológica.

A PESQUISA

O estudo premiado buscou investigar a saúde óssea de PVHA, caracterizar perfis imunofenotípicos associados à perda óssea e explorar a relação entre marcadores inflamatórios e desmineralização óssea. Foram analisados os níveis séricos de RANK-L e OPG, além de citocinas inflamatórias, em comparação a indivíduos HIV-negativos.

Com o avanço da terapia antirretroviral (TARV), pessoas vivendo com HIV/Aids têm alcançado maior longevidade. No entanto, esse envelhecimento está associado a alterações osteoarticulares, como a diminuição da mineralização óssea e o risco de osteopenia e osteoporose.

A pesquisa, de natureza observacional e transversal, incluiu 50 PVHA de ambos os sexos, com idade superior a 40 anos. Após a assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) e aplicação de critérios de elegibilidade, os participantes realizaram densitometria óssea (DMO) e coleta de sangue para isolamento de PBMCs, imunofenotipagem de linfócitos TCD4+ e TCD8+, além da dosagem de citocinas inflamatórias e OPG/RANK-L.

Entre os 48 participantes com dados completos, 12 apresentaram densidade óssea normal, 23 tinham osteopenia e 13, osteoporose. A maioria era do sexo masculino (28 homens e 20 mulheres).

Os resultados mostraram que os níveis de IFN-γ e IL-17A estavam mais elevados em PVHA sem perda óssea. A IL-2 aumentou tanto nesse grupo quanto em homens com osteopenia. A IL-10 destacou-se entre os sem doença óssea, e a IL-6 esteve elevada em todos os grupos. OPG foi mais alto em mulheres osteopênicas e em PVHA sem perda óssea, enquanto o RANK-L apresentou redução em homens osteopênicos, resultando em um aumento na razão OPG/RANK-L.

As análises de rede sugerem que mecanismos imunológicos estão envolvidos na perda óssea, sobretudo em homens com osteopenia. O estudo também apontou disfunção regulatória de linfócitos TCD4+CTLA-4+ e TCD8+PD-1+ em homens PVHA, além de perfis distintos de citocinas inflamatórias entre os sexos. Esses achados indicam que o desbalanço entre OPG/RANK-L pode estar associado ao risco de doença óssea em PVHA do sexo masculino, reforçando a importância de abordagens específicas no manejo clínico desses pacientes.

TRAJETÓRIA ACADÊMICA

Isabele Praxedes é estudante do 9º período do curso de Farmácia na Faculdade Estácio do Amazonas e bolsista de Iniciação Científica no Laboratório de Diagnóstico e Controle de Doenças Infecciosas da Amazônia (DCDIA-ILMD/Fiocruz Amazônia), atuando em projetos na área de Imunologia com foco na saúde óssea de PVHA.

Desde abril de 2022, exerce a função de vice-presidente da Liga Acadêmica de Farmácia (LAFE) e participa do projeto de extensão “Medicamento Seguro – Promoção do Uso Racional de Medicamentos”, promovendo mensalmente atividades educativas em comunidades da região.

Em 2024, realizou estágio no Laboratório de Imunobiologia de Transplantes (LIT), do Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade de São Paulo (ICB-USP), onde aprofundou conhecimentos em técnicas como separação de PBMCs, cultivo celular, imunofenotipagem, citometria de fluxo, ELISA e PCR em tempo real. Suas principais áreas de interesse incluem Imunologia, Farmacologia, Microbiologia, Biologia Celular e Molecular, Genética e Hematologia.

ILMD / Fiocruz Amazônia, por Júlio Pedrosa