Pesquisadores da Fiocruz Amazônia abordam avanços e perspectivas no enfrentamento à dengue, em colóquio do Ministério da Saúde
O Instituto Leônidas & Maria Deane (ILMD/Fiocruz Amazônia), representado pelos pesquisadores, Felipe Naveca, Coordenador do Núcleo de Vigilância de Vírus Emergentes, Reemergentes ou Negligenciados, e Sérgio Luz, Coordenador do Núcleo de Patógenos Reservatórios e Vetores na Amazônia (PReV-Amazônia), vinculado ao Laboratório Ecologia de Doenças Transmissíveis na Amazônia (EDTA), esteve presente no colóquio “Avanços e Perspectivas no Enfrentamento à Dengue”, ocorrido na última quarta-feira,17/4, na sede da Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS), em Brasília.
O evento reuniu, especialistas brasileiros em arboviroses e representantes da OPAS e Organização Mundial da Saúde (OMS). O colóquio foi dividido em mesas e painéis que discutiram o cenário epidemiológico da dengue no mundo, nas Américas e no Brasil, ações de enfrentamento da epidemia de dengue, desafios da assistência e da vigilância, além de prevenção e resposta a emergências em saúde.
Compondo a mesa temática “Desafios da assistência e da vigilância”, o virologista e pesquisador da Fiocruz, Felipe Naveca, destacou que vê como aspecto positivo a aproximação entre a ponta e os laboratórios de referência dos institutos de pesquisa. O pesquisador pontuou ainda que os aprendizados adquiridos nos Laboratórios Centrais de Saúde Pública têm sido de grande importância para as expertises acumuladas, que podem ser utilizadas no enfretamento a emergências.
“Gostaria de ressaltar que vejo na melhoria de diagnóstico, nos últimos anos, muitas vezes se deu por uma maior aproximação entre a ponta e nós que estamos nos laboratórios de referência ou nos institutos de pesquisa. Cito especialmente a experiência que tive em alguns LACENs, como por exemplo o de Roraima, que já trabalha conosco há mais de 15 anos, e no final de 2022, percebeu que tinha alguma coisa errada com a baixa positividade nos testes ZDC . Era justamente o começo de subida de casos de Oropouche, o surto atual, mas que desde o final de 2022, temos a mesma linhagem circulando. Assim como a detecção dos primeiros casos de Dengue 3 no Brasil, que também chamaram atenção por ser algo que a gente não via há algum tempo. Essa proximidade tem sido algo muito interessante na experiência que a gente tem acumulado”, explica Naveca.
Sérgio Luz, falou sobre os resultados positivos dos estudos com o uso das estações disseminadoras de larvicida. “Venho desenvolvendo estudos com estações disseminadoras de larvicidas, que usa o princípio da disseminação, onde nós testamos em larga escala. Fizemos em um bairro da cidade de Manaus, e depois repetimos isso em toda uma cidade isolada, onde tivemos resultados muito surpreendentes e, de lá pra cá, com o advento da Zika em 2016, estamos desenvolvendo isso juntamente com o Ministério, no sentido de tentarmos colocar essa estratégia nas outras cidades, para conhecer como essa ação pode ser avaliada em diferentes paisagens, locais, e principalmente avaliar as intercorrências dessa estratégia dentro da realidade do serviço”, explica Luz.
Durante a fala, Sérgio também compartilhou relatos de experiência com a coleta de vetores e, ponderou a necessidade de mais estudos para que seja possível a compreensão de grandes epidemias e infecções de arbovírus no Brasil e no mundo. “O Oropouche sempre esteve rondando as infecções de arbovírus no Brasil e no mundo, sendo considerado inclusive o segundo maior arbovírus até chegar o Chikungunya e o Zika. Nós enfrentamos uma epidemia, estamos ainda enfrentando uma epidemia com mais de dois mil casos detectados de Oropouche, e eu gostaria de chamar atenção nesse sentido, para o seguinte: Eu trabalhei coletando os vetores para vermos quem realmente está infectado, pois existem poucos estudos que acompanham a transmissão do Oropouche. Tradicionalmente, o que se existe mais antigo na literatura é que ele é transmitido pelo Culicoides paraensis, e existem outros mosquitos envolvidos na transmissão como o Culex quinquefasciatus, existem alguns mosquitos silvestres como Aedes serratus e Coquillettidia, que foram pegos infectados, mas há uma diferença bem grande entre os que foram detectados infectados e os que realmente estão transmitindo e mantendo a circulação do vírus. A gente precisa conhecer melhor isso”, pontuou.
Na ocasião, a secretária de Vigilância em Saúde e Ambiente, Ethel Maciel, atualizou o cenário epidemiológico da dengue no país e apresentou as principais ações para prevenção e controle da doença. Ao final do encontro, representantes da Secretaria de Vigilância em Saúde e Ambiente (SVSA), responsável pela organização do colóquio, informaram que ele deverá ser repetido no próximo mês para condensar as experiências trocadas sobre o momento em que o mundo passa com as mudanças climática e o fenômeno do El Niño, bem como a possibilidade de que as vacinas sejam amplamente produzidas para atender a população em médio e longo prazo. O evento foi realizado de forma híbrida, e contou com participação de também de especialistas e pesquisadores de fora do Brasil.