Indígenas discutem caracterização de espaço para troca de saberes na UBS do Parque das Tribos
Impulsionada pelo Projeto Manaós: Saúde da População Indígena em Contexto Urbano, desenvolvido pela Fiocruz Amazônia, por meio do Edital Saúde Indígena do Programa Inova Fiocruz, a discussão em torno da participação da comunidade indígena do Parque das Tribos no processo de concepção do uso e caracterização da Unidade Básica de Saúde (UBS), vem avançando, com o apoio da Secretaria Municipal de Saúde, da Prefeitura de Manaus, juntamente com as etnias que integram a comunidade. No último dia 10/05, uma reunião com as lideranças indígenas da localidade teve como finalidade discutir a caracterização da UBS do Parque das Tribos como um espaço para troca e valorização dos saberes tradicionais. O encontro ocorreu na Maloca e teve como pauta, entre outras sugestões, o uso de grafismos indígenas e a definição dos espaços para o cultivo de plantas medicinais na unidade.
O pesquisador da Fiocruz Amazônia, Rodrigo Tobias, coordenador do Projeto Manaós, explica que a articulação promovida pelo projeto, junto à comunidade e à Semsa Manaus vem reverberando positivamente no processo de comunicação entre as partes. “A possibilidade de fazer a estruturação do ambiente e também proporcionar espaço de encontro entre saberes, entre os indígenas e equipe de saúde, sempre foi um dos nossos objetivos, fazendo com que a UBS Parque das Tribos pudesse ser um ponto de encontro, para além de buscar a saúde e o conhecimento biomédico ocidental hegemônico, fosse possível resguardar também espaços para pajés e também hortas e plantações de ervas medicinais e curativas, que são terapias acessórias complementares ao tratamento biomédico”, explica Tobias.
Para o pesquisador, garantir espaço para esse cuidado intercultural na nova unidade básica de saúde é garantir a promoção de um cuidado que conversa com a ancestralidade e, também, com o conhecimento biomédico hegemônico tradicional. “A partir desse encontro, é possível se produzir novos saberes”, afirma, observando que a UBS será referência dentro da política nacional de atenção básica uma vez que produzirá um cuidado intercultural com um público formado pelas 35 etnias que se encontram no Parque das Tribos.
Participaram da reunião, no último dia 10/05, lideranças da etnia Witoto, Piratapuya, Miranha, Munduruku, karapãna e Kokama. Diversas propostas foram levantadas durante o encontro e serão apresentadas à Semsa Manaus. Após a reunião, as lideranças seguiram para uma visita de campo à área de construção da UBS. O cacique Carlos Miranha, presente à reunião, destacou que o processo participativo de construção da unidade, proporcionado pela Semsa, Fiocruz Amazônia e as etnias, é fundamental para atender as necessidades da comunidade. Ele, que também é pajé, ressaltou a importância de um espaço para o cuidado com a saúde dos povos indígenas.
O Projeto Manaós: Saúde da População Indígena em Contexto Urbano” é desenvolvido pela Fiocruz Amazônia, por meio do Edital Saúde Indígena, do Programa Inova Fiocruz. O projeto entrou em sua segunda fase de execução de atividades voltadas para as 750 famílias de 35 etnias indígenas, que vivem atualmente no Parque das Tribos, primeiro bairro indígena de Manaus. Inicialmente, o Manaós atuou no diagnóstico da realidade dos indígenas desaldeados e as dificuldades enfrentadas por eles no acesso aos serviços de saúde. Passará agora a desenvolver linhas específicas de ação, voltadas ao empoderamento comunitário, formação de agentes indígenas de saúde e a investigação de fatores de risco cardiovasculares dos indígenas que vivem na área urbana. Essa investigação, segundo Rodrigo Tobias, inaugura no Brasil uma linha de pesquisa específica com indígenas não aldeados que convivem com contextos urbanos e periféricos das grandes cidades.