Congresso Nacional de Leptospirose, em Manaus, alerta para subnotificação de casos da doença no Brasil

A leptospirose, infecção febril aguda causada pela urina contaminada de animais, sobretudo ratos, ainda é uma doença negligenciada e subnotificada no Brasil. Os baixos índices de prevalência de casos e óbitos levam pesquisadores e autoridades de saúde a se preocuparem em definir estratégias de atuação que permitam combater de modo eficaz e mais rápido o avanço da doença e os riscos de contaminação pela bactéria causadora, a leptospira. Esse foi um dos alertas feitos nesta terça-feira, 14/12, primeiro dia de discussões do I Congresso Nacional de Leptospirose – One Health, que acontece até a próxima quinta-feira, 16/12, realizado pela Fiocruz Amazônia, em parceria com a Fundação de Amparo à Pesquisa no Estado do Amazonas (Fapeam), reunindo mais de 500 inscritos.

O evento conta com palestras de autoridades renomadas em saúde pública do País e do exterior e tem transmissão on line. De acordo com a pesquisadora da Fiocruz Amazônia, Luciete Almeida, que coordena a iniciativa, a proposta do congresso é reunir estudos e pesquisas que permitam aprofundar os métodos de diagnóstico, tratamento e prevenção da doença, contribuindo para reduzir o problema da subnotificação e fornecendo os subsídios necessários para a criação de um núcleo de pesquisa de epidemiologia molecular em leptospirose na região amazônica, mais especificamente em Manaus. Luciete, que é bióloga e especialista em Biotecnologia, com doutorado em Medicina Tropical, destaca o esforço da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) em pesquisas cientificas sobre a doença e o pioneirismo na realização de um congresso nacional sobre a doença.

“Entre outras pesquisas, é da Fiocruz, por exemplo, o kit de teste rápido para diagnóstico da leptospirose, em uso hoje no Sistema Único de Saúde (SUS) do Brasil. A pesquisa foi desenvolvida pelo Instituto Gonçalo Muniz – Fiocruz/Bahia, que tem representantes participando do Congresso”, afirmou a bióloga. No primeiro dia do evento, ficou evidenciado que a leptospirose é uma doença ainda negligenciada por se confundir com outras viroses e estar associada às condições precárias de saneamento básico observadas em vários Estados brasileiros, especialmente na nossa região. A subnotificação, segundo a bióloga, afeta diretamente as populações vulneráveis que convivem com o lixo nas ruas e bueiros a céu aberto, propiciando a contaminação.

“Se analisarmos as séries históricas de casos, veremos que a cada dez anos é muito pouco o número de notificações de leptospirose e óbitos pela doença no Brasil e no mundo, daí a importância de se discutir políticas públicas de saneamento básico, campanhas de conscientização, coleta diária e destinação correta de lixo. Essas são questões presentes em todos os espaços urbanos”, explicou. Para se ter uma ideia da subnotificação, o  número de casos de leptospirose registrados na última década no Amazonas é de 422, sendo 9% desse montante correspondente ao óbitos notificados pela doença. O acesso aos diferentes métodos de diagnóstico da leptospirose é outro importante passo para o controle da doença.

O número de inscritos do evento, mais de 500, superou a expectativa dos organizadores. “O I Congresso Nacional de Leptospirose é o momento de gritarmos para o Mundo sobre a importância dos estudos científicos em torno da doença e chamarmos a atenção das várias entidades da área da saúde do Amazonas para a situação crítica”, afirmou.

O evento tem como público-alvo a comunidade acadêmica, instituições de pesquisa e a Secretarias Municipal e Estadual de Saúde, Sistema Integrado nos Hospitais de Manaus, médicos, enfermeiros, farmacêuticos, biomédicos, biólogos, comissão de infecção hospitalar, Vigilância Epidemiológica, além de pesquisadores e alunos dos diversos centros de pesquisa da área microbiológica e epidemiológica.

Nesta quarta-feira, 15, os debates seguem com as palestras sobre “Epidemiologia da leptospirose urbana”; “Interação patógeno-hospedeiro e candidatos vacinais”; “Desafio da leptospirose no contexto da saúde única”; “Diagnóstico da leptospirose animal”; “Legislações do saneamento e áreas vulneráveis à leptospirose”; “Leptospirose em animais silvestres”; “Parasitose intestinal em escolares de área urbana e rural do Amazonas”.

No último dia do evento, dia 16/12, as palestras seguem com os temas: “Caracterização de proteases secretadas por leptospiras-possíveis fatores de virulência”; “Laboratório de referência nacional no contexto do diagnóstico de leptospirose”; “Leptospirose uma retrospectiva de 10 anos”; “Atualizações sobre leptospirose em pequenos ruminantes e suínos em condições semiárida”; “A importância do sequenciamento de genoma para a epidemiologia da leptospirose no contexto de saúde única”; “Perfil epidemiológico e o impacto do gradiente social da infecção por leptospira em humanos no município de Manaus, Amazonas”.

NÚMEROS

De acordo com o Boletim Epidemiológico da Secretaria de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde, no período de 2010 a 2020, no Brasil foram confirmados 39.270 casos de leptospirose (média anual de 3.734 casos), variando entre 1.276 (2.020) a 4.390 casos (2011). Nesse mesmo período, foram registrados 3.419 óbitos, com média de 321 óbitos/ano. A letalidade média no período foi de 8,7% e o coeficiente médio de incidência de 2,1/100.000 habitantes. Em 2019, o Amazonas registrou 162 casos suspeitos da doença, 52 confirmados e sete óbitos

Para acompanhar a programação do I Congresso Nacional de Leptospirose na Amazônia, o participante deve acessar os links disponibilizados no site clamazonia.com.br.

ASCOM ILMD/ Fiocruz Amazônia
Foto: Zeynel Cebeci – Wikimedia Commons 2