Imunizante AstraZeneca será usado no estudo CovacManaus 2
A pesquisa CovacManaus 2, que iniciou nesta quinta-feira (30/09), vai avaliar a resposta imune à aplicação da dose de reforço contra a Covid-19 com o imunizante AstraZeneca, da Fiocruz. O estudo vai acompanhar a terceira dose da vacina em trabalhadores da educação e da segurança pública de Manaus que foram completamente vacinados dentro do primeiro estudo, iniciado em março deste ano – e que receberam duas doses da Coronavac e acompanhamento regular, conforme protocolo do projeto.
A pesquisa é conduzida pelos médicos infectologistas Marcus Lacerda, do Instituto Leônidas & Maria Deane (ILMD/Fiocruz Amazônia) e Fundação de Medicina Tropical Dr. Heitor Vieira Dourado (FMT-HVD) e Maria Paula Mourão, pró-reitora de pesquisa e pós-graduação da Universidade do Estado do Amazonas (UEA).
De acordo com o infectologista Marcus Lacerda, a intercambialidade entre as vacinas – já praticada em outros lugares – tem demonstrado resultados positivos. “A gente começou, no início, a seguir os ensaios clínicos que mostravam as duas doses da mesma vacina com aquele resultado. Só que o resto do mundo começou, até pela falta de vacinas, a usar outras vacinas, de outros fabricantes. Então os resultados têm mostrado que a intercambialidade, que é usar duas doses de uma vacina e fazer o reforço com um outro fabricante, que a produção de anticorpos é maior”, ressaltou.
As doses de vacina AstraZeneca que serão utilizadas para o estudo foram doadas pelo Instituto de Tecnologia em Imunobiológicos (Bio-Manguinhos), unidade da Fiocruz, produtora do imunizante no Brasil.
Adele Benzaken, diretora do ILMD/Fiocruz Amazônia destacou a importância do estudo de intercambialidade de vacinas, bem como agradeceu a disponibilidade de Bio-Manguinhos para a doação das doses necessárias ao CovacManaus2
“Nosso compromisso é com a ciência. Diante disso, a Fiocruz, num prazo recorde, dispôs as doses da vacina AstraZeneca para que o estudo CovacManaus, nessa segunda fase, pudesse ser continuado. A Fiocruz é responsável hoje pela produção de 43% das vacinas aplicadas no Brasil e, em breve, a Fundação estará produzindo e Ingrediente Farmacêutico Ativo (IFA) para a produção da vacina, o que dará mais autonomia ao Brasil”, ressaltou.
O Governo do Estado, por meio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas (Fapeam), investiu R$ 1 milhão na pesquisa, que também conta financiamento das empresas XP Investimentos e Stone Pagamentos, além de parceria da Fundação de Vigilância em Saúde Dra. Rosemary Costa Pinto (FVS-RCP) e da Secretaria Municipal de Saúde de Manaus (Semsa).
“O Governo do Amazonas, por meio da Fapeam, patrocina a CovacManaus desde o primeiro momento porque acredita fundamentalmente na importância da pesquisa, da ciência e no retorno que ela pode dar e vem dando, para que nós tenhamos formas de enfrentamento à Covid cada vez mais qualificadas”, disse Márcia Perales, diretora-presidente da Fapeam.
A diretora-presidente da FVS-RCP, Tatyana Amorim, reconheceu a importância da pesquisa no enfrentamento da pandemia. “Sabemos que os estudos geram construções, geram evidências científicas e subsidiam nossas estratégias de enfrentamento. O cenário epidemiológico hoje, a redução de casos, de óbitos e principalmente, dos casos de hospitalização, se devem, principalmente, ao esforço e intensificação da vacinação”, apontou Tatyana.
Participantes – Podem participar do estudo os trabalhadores da educação e da segurança pública de Manaus que receberam as duas doses da vacina CoronaVac pelo estudo CovacManaus, e que mantiveram o acompanhamento previsto pela pesquisa. A participação no CovacManaus 2 é voluntária.
Os indivíduos que estiverem aptos a ingressar no novo estudo receberão contato do call center do CovacManaus para, caso aceitem realizar a dose de reforço, assinar novo termo de consentimento e agendar a vacinação, que acontecerá na Arena Poliesportiva Amadeu Teixeira, na avenida Constantino Nery, zona centro-sul de Manaus. Não haverá recrutamento de outros públicos.
O professor Jonas Fernando Petry, da Universidade Federal do Amazonas (Ufam), vem sendo acompanhado há seis meses e avaliou como positiva a iniciativa da aplicação da dose de reforço nos participantes. “Não tive nenhuma reação e hoje estou aqui novamente para o acompanhamento, monitoramento. Estou surpreso, nem esperava que nós tivéssemos a terceira dose. Então só o fato de fazer mais uma pesquisa, receber a terceira dose, é algo inusitado, sem sombra de dúvidas. Acabei de tomar, não senti nada, estou em estado de alegria”, comemorou Petry.
CovacManaus – O estudo CovacManaus iniciou em 18 de março deste ano com o objetivo de avaliar o benefício de se antecipar a vacinação contra a Covid-19 em trabalhadores da educação e da segurança pública de Manaus em exercício, com idade entre 18 e 49 anos, e com comorbidades associadas ao risco de doença grave por Covid-19.
Foram vacinados com a primeira dose de CoronaVac, doadas pelo Instituto Butantan exclusivamente para uso em pesquisa, 5.087 participantes e com a segunda dose, 5.071 participantes.
Após os seis primeiros meses de acompanhamento, os pesquisadores divulgaram os dados preliminares do estudo. Entre os vacinados, 91% apresentaram anticorpos detectáveis após a 1ª dose da vacina, e 99,8% dos vacinados apresentaram anticorpos detectáveis após a 2ª dose. Neste período, 2,6% tiveram infecções confirmadas por Covid-19, 0,1% foram hospitalizados pela doença; um óbito foi registrado (0.02%).
Entre as principais comorbidades estão a obesidade (72%) e a diabetes (54%). Os dados apresentados serão submetidos à publicação científica.
“Nos primeiros seis meses nós demonstramos uma eficácia da CoronaVac muito superior ao que vinha sendo demonstrado no restante do mundo, e um sucesso muito importante de proteção dos nossos participantes para formas graves e para óbitos. Dos 5.071 vacinados, tivemos um óbito e 130 infecções por Covid ao longo desses seis meses. Demonstra uma vacina com alto poder de proteção, junto com as medidas todas que a gente tem, continua seguindo”, detalhou Maria Paula Mourão.