Estudo experimental da Fiocruz Amazônia comprova transmissão de Leishmaniose visceral por novo vetor

Você sabe o que é leishmaniose? Uma enfermidade antes restrita a zonas rurais, mas que com as alterações ambientais, como desmatamento e queimadas, tornou-se também um problema dos espaços urbanos.

A leishmaniose pode ser definida como uma doença infecciosa não contagiosa, causada pelo protozoário do gênero Leishmania, essa doença é transmitida pelo inseto hematófago, flebotomíneo. Mas, no dialeto popular, é conhecida como ferida brava ou calazar. “Aquela ferida que não sara nunca, que se você não tomar a medicação correta, não vai ter cura, vai se espalhar pelo corpo ou vísceras. Uma parasitose,  que pode ocorrer no corpo todo”, explica Eric Marialva, mestre em Biologia da Interação Patógeno Hospedeiro, pelo Instituto Leônidas & Maria Deane (ILMD/Fiocruz Amazônia), que abordou a temática durante a realização de sua dissertação de mestrado.

Para compreender mais sobre a leishmaniose visceral, em especial sobre o protozoário Leishmania infantum chagasi e as formas de transmissão da doença, Eric Marialva, sob orientação do pesquisador Felipe Arley Costa Pessoa, desenvolveram o estudo “Bionomia de Migonemyia migonei (Diptera, Psychodidae, Phlebotominae) em condições experimentais”.

O estudo teve como principais resultados, a comprovação de um novo vetor de Leishmania infantum chagasi, novos métodos de criação em massa de Migonemyia migonei em laboratório e redescrição das fases imaturas desse vetor, que pode está causando  preocupações à saúde básica por transmitirem doenças viscerais no Brasil e na Argentina.

As  oito espécies de Leishmania catalogadas que causam enfermidades à humanos no Brasil são: Leishmania (V) braziliensis, Leishmania (V) guyanensis, Leishmania (V) lainsoni, Leishmania (L) amazonenses, Le.(V) shawi, Le. (V) naiffi e Le. (V) lindenbergi, sendo essas sete causadoras da forma tegumentar   e Leishmania (L) chagasi, da forma visceral

PESQUISA

A pesquisa de Eric Marialva enfatizou mais um vetor para se tomar cuidado no combate, já que o inseto Migonemyia migonei está vivendo ao mesmo tempo com a outra espécie já conhecida das pessoas, o Lutzomyia longipalpis. Então, as duas espécies preocupam e exigem para seu controle, cuidados com a limpeza do ambiente, para evitar a proliferação desses mosquitos.

O estudo definiu características morfológicas das larvas do flebotomíneo, para destacar aspectos como a taxonomia (classificação, descrição e identificação dos organismos), filogenia (relação evolutiva entre grupos de organismos) e a evolução.

Outra importante descoberta está relacionada às condições de colonização de Migonemyia migonei em laboratório, com o intuito de verificar informações relevantes sobre o inseto, como ciclo de vida, fertilidade, fecundidade, longevidade e preferência de oviposição (deposição de ovos por fêmeas de animais invertebrados). Essas informações serviram para auxiliar na colonização em massa dessa espécie em condições laboratoriais.

O estudo verificou ainda, o desenvolvimento do modelo de transmissão de Leishmania infantum chagasi, através da picada de indivíduos colonizados. “Um dos experimentos realizados foi a infecção de Migonemyia migonei com Leishmania infantum chagasi. Após sete dias era feita a transmissão para um vertebrado em modelo murino. Conseguimos fazer a  transmissão em vivo”, relata Eric Marialva, sobre os métodos e experiências utilizadas no estudo.

Com esse estudo, foi possível incriminar mais um vetor de Leishmania infantum chagasi na América Latina. Essa informação aciona um alerta para a Vigilância em Saúde, pois mais um vetor é capaz de transmitir a leishmaniose.

Para saber mais sobre a pesquisa, acesse aqui o artigo na íntegra.

ILMD/Fiocruz Amazônia, por Diovana Rodrigues
Fotos / Imagens: Acervo EDTA/ILMD Fiocruz Amazônia