Especialistas debatem sobre classificação indígena nos censos demográficos
“As categorias de identidade indígena se transformaram em termos de percepção social ao longo das últimas décadas”, destacou o pesquisador da Escola Nacional de Saúde Pública (ENSP), Ricardo Ventura, durante a última reunião do seminário de pesquisa do Núcleo de Estudos da Amazônia Indígena (NEAI), da Universidade Federal do Amazonas (Ufam). O encontro realizado em parceria com o Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Condições de Vida e Situações de Saúde na Amazônia (PPGVIDA), do Instituto Leônidas e Maria Deane (ILMD/ Fiocruz Amazônia) reuniu indígenas, antropólogos, cientistas sociais e profissionais da área da saúde pública.
A palestra de Ricardo Ventura abordou questões teóricas e metodológicas envolvidas na captação de dados sobre indígenas pelos censos demográficos no País, trazendo exemplos do Amazonas. “As perguntas sobre classificação de cor e raça dentro de um censo estão presentes desde a década de 40. Há uma discussão muito importante de cientistas sociais, participando desse debate sobre sistema classificatório, que certamente influencia nas categorias, no âmbito do censo ao longo dessas décadas”, explicou.
Na ocasião, o pesquisador lembrou avanços significativos sobre as questões demográficas na classificação dos indígenas no Brasil, conduzidos pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). De acordo com Ventura, no Censo de 1991 foi incluída a categoria indígena como mais uma opção de resposta para a pergunta sobre cor e raça, presente no questionário aplicado pelo Instituto, o que se repetiu em 2000.
No censo de 2010, o questionamento sobre cor e raça, que até 2000 era investigado apenas no questionário da amostra, passou a contemplar também o questionário básico. Além disso, Ventura lembrou também que no último censo, se a pessoa se declarava indígena, eram feitas perguntas adicionais sobre pertencimento étnico e línguas faladas.
INVISIBILIDADE SOCIODEMOGRÁFICA
Durante a apresentação, o pesquisador chamou a atenção para a redução no número de autodeclarados indígenas em áreas urbanas. Segundo ele, é possível que a inclusão das perguntas sobre pertencimento étnico e língua falada tenha influenciado a declaração de ser ou não indígena, por parte dos entrevistados.
Ventura acredita que a constante interlocução entre demógrafos e antropólogos, poderá estruturar métodos relevantes para a contínua inserção dos povos indígenas nos censos nacionais. “Mesmo frente aos muitos desafios, trilha-se no Brasil uma bem-sucedida trajetória de incluir os indígenas nas estatísticas nacionais e, com isso, reduzir sua invisibilidade sociodemográfica, com implicações importantes para fins de políticas públicas, inclusive na área da saúde”.
SOBRE O PPGVIDA
O PPGVIDA – ILMD/Fiocruz Amazônia é um programa de pós-graduação que tem como objetivo capacitar profissionais para desenvolver modelos analíticos capazes de subsidiar pesquisas em saúde, apoiar o planejamento, execução e gerenciamento de serviços e ações de controle e o monitoramento de doenças e agravos de interesse coletivo e do Sistema Único de Saúde na Amazônia.
SOBRE O NEAI
O NEAI é um grupo de pesquisa vinculado ao Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social (PPGAS) e ao Departamento de Antropologia da Ufam. O grupo reúne pesquisadores, professores e estudantes de diferentes áreas do conhecimento, que se dedicam ao estudo e pesquisas sobre temas relacionados aos povos e comunidades tradicionais.
O núcleo desenvolve suas ações através de pesquisas coletivas e individuais, projetos de extensão, encontros, palestras, seminários, seções de estudo e cursos de curta duração.
ILMD/ Fiocruz Amazônia, por Eduardo Gomes
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