Fiocruz Amazônia realiza formação de comunicadores populares que levarão conhecimento científico para os bairros de Manaus com o Projeto Moetá

O Instituto Leônidas & Maria Deane (ILMD/Fiocruz Amazônia) realizou durante três dias (19, 20 e 21/03) o Curso de Educação Popular para a formação de Comunicadores Sociais, ministrado pelo Serviço Amazônico de Ação, Reflexão e Educação Socioambiental (SARES), dentro do Projeto Moetá. no âmbito do Programa Fortalece SUS. “Moetá, em ‘Nhengatu’ (língua geral amazônica), significa multiplicar, tornar muitos, socializar”, explica a pesquisadora social da Fiocruz Amazônia, Rita Bacuri, coordenadora do programa. O Fortalece SUS é uma iniciativa executada pelo Laboratório Instituto de Pesquisa Clínica Carlos Borborema (IPCCB).

Segundo Rita, o curso tem como objetivo promover a formação de comunicadores populares especializados em saúde (CPES) para atuar na disseminação de informações científicas, garantindo uma linguagem atraente, acessível, utilizando metodologias de comunicação inclusiva e produzindo conteúdo informativo para a população em geral.

No caso do Moetá, a ideia é fazer com que as ações dos CPES cheguem até as comunidades. “Investir em ações de Educação em Saúde é fundamental para a promoção do SUS e sobretudo a popularização da Ciência. A Fiocruz, como produtora de conhecimento científico, tem o compromisso de fazer valer a máxima de que é preciso ir onde o povo está”, avalia Bacuri, referindo-se ao projeto.

O curso visa formar inicialmente 10 comunicadores populares, que atuarão ao longo de dez meses na divulgação de informações científicas em linguagem acessível e acolhedora, em diversos bairros de Manaus. “A formação tem o intuito de trabalhar com eles a metodologia da Educação Popular, em relação à abordagem e escuta da comunidade, já que eles possuem experiência de atuação em movimentos sociais e estarão nas bases. Neste sentido, nos colocamos à disposição para colaborar com a formação já que trabalhamos com as questões socioambientais e assessoramento de projetos aqui em Manaus”, explica a analista social do SARES, Mary Almeida.

O projeto prevê também o desenvolvimento de material didático e institucional, com informações que promovam empoderamento e cidadania. A primeira fase da formação foi dividida em três dias, com aulas ministradas pela educadora socioambiental Mercy Soares. “Os participantes bolsistas do projeto precisam ter em mente que o contato com a comunidade para onde ele vai levar o conhecimento permitirá também um aprendizado para eles. A metodologia da Educação Popular permite que o processo aconteça de forma equilibrada e participativa, a partir da troca de conhecimentos, por meio de círculos de conversa”, explica Mercy.

O enfermeiro Elton Aleme, que atua na coordenação do Moetá, ressalta que o projeto capacitará educadores populares a atuarem inicialmente em cinco bairros da cidade de Manaus (Alvorada, Cidade Nova, Compensa, Novo Israel, Colônia Antônio Aleixo e Jorge Teixeira). Os bolsistas são profissionais de áreas diversificadas e com visões diferentes de Mundo, o que permite uma troca maior de experiências. “Nesta primeira etapa, estamos promovendo a integração da equipe, trabalhando com eles os objetivos do projeto, por meio dessa parceria com o SARES. Em paralelo, estamos realizando o levantamento de dados referentes à infraestrutura dos bairros e nos próximos meses teremos as visitas in loco para começarmos a entender a realidade e aplicar o trabalho de comunicação em saúde através de rodas de conversa, palestras, atividades lúdicas, shows musicais, que nos permitam traduzir os produtos das pesquisas desenvolvidas pela Fiocruz, em relação aos diversos temas”, observa.

DIVULGAÇÃO CIENTÍFICA

O Projeto Moetá se une a outras iniciativas desenvolvidas pela Fiocruz, no âmbito de programas estratégicos de divulgação científica, a exemplo da Olimpíada Brasileira de Saúde e Meio Ambiente (OBSMA); o programa Mulheres e Meninas na Ciência e eventos de grande escala como a Semana Nacional de Ciência & Tecnologia, todos com foco no público estudantil desde a educação básica até o ensino superior. “No campo da educação informal, consideramos haver uma lacuna de informações de divulgação científica direcionada à população em geral”, informa o projeto, lembrando que em 2020 o Brasil e o Mundo viveram a pandemia do novo coronavírus, que evidenciou a potência da Ciência e a necessidade de comunicação com a sociedade.

“A Covid 19 levou a sociedade a experimentar de forma inesperada e obrigatória diferentes tipos de práticas sociais e comportamentais, jamais vivenciadas no século XXI (Ashwell, 2023). Neste cenário, tanto a ciência quanto os meios de comunicação passaram a ganhar continuado destaque. À ciência coube a solução da pandemia e à comunicação, informar medidas de cuidado e prevenção para minimizar riscos, inclusive de morte”, contextualiza a proposta.

E continua: “Usando como análise o desfecho de casos e mortes por covid 19 no país, questionamos: o quanto da informação em saúde, de um modo geral, é de fato assimilada pela população?  Como cada mensagem/código chega ao indivíduo de diferentes grupos sociais e culturais? (Oliveira, 2020) O quanto que uma informação direcionada e específica, confiável e compreensível, poderá contribuir para que as pessoas tomem decisões conscientes e adotem comportamento saudáveis? Neste contexto, este projeto apresenta uma estratégia de educação não formal na perspectiva de contribuir para a formação cidadã, a partir da ‘tradução’ da linguagem científica para uma linguagem acessível e inclusiva”, finaliza.

ILMD/Fiocruz Amazônia, por Júlio Pedrosa

Fotos: Júlio Pedrosa