OBSMA leva Projeto Escola Olímpica para comunidade indígena Três Unidos e participa de encerramento do Projeto GARI
A Olimpíada Brasileira de Saúde e Meio Ambiente (OBSMA), da Fiocruz, aportou neste final de semana, 23 e 24/03, na comunidade indígena Três Unidos, situada na Área de Proteção Ambiental (APA) Aturiá Apuazinho, que integra o conjunto de unidades de conservação pertencentes ao Mosaico do Baixo Rio Negro, no Amazonas. A equipe olímpica da Fiocruz Amazônia foi recebida pelo Tuxaua Waldemir da Silva e levou atividades desenvolvidas pela Coordenação Norte da OBSMA visando incentivar a participação de professores e alunos na 12ª edição da Olimpíada, cujas inscrições acontecem até o próximo mês de junho. Na comunidade, o povo Kambeba, proveniente de aldeias do Médio Solimões, mantém viva a cultura da etnia e a preservação da área em que vivem.
“Viemos a convite do Projeto Gari, que é parceiro da Olimpíada Brasileira de Saúde e Meio Ambiente, para fazer o convite aos professores e alunos das escolas da rede municipal e estadual instaladas na comunidade, e trazer a mensagem da OBSMA aos parceiros presentes”, afirmou Rita Bacuri, coordenadora Regional Norte da Olimpíada da Fiocruz. A comunidade, com cerca de 120 habitantes, fica localizada a 75 quilômetros da sede de Manaus, a uma hora e meia de lancha rápida. Lá, foram desenvolvidas atividades de grafitagem e contação de histórias para os alunos da Escola Indígena Municipal Kanata Tykua – que na língua kambeba significa “luz do saber” – com a presença do Oswaldinho, mascote da OBSMA, vestido pelo jovem de nome Mui Piruata, arco-iris no idioma kambeba.
“A Olimpíada da Fiocruz é uma iniciativa que tem tudo a ver com os povos indígenas. Saúde e meio ambiente são temas que discutimos muito, principalmente nós, povos indígenas, que precisamos estar num ambiente bom, um ambiente que temos que cuidar, e eu sempre digo que ambiente bom nos faz ter saúde. Esse tema hoje está presente nas escolas, nos movimentos indígenas, na própria formação dos professores indígenas e nas práticas pedagógicas em sala de aula”, afirmou o professor Raimundo Cruz da Silva, filho do Tuxaua Waldemir e conhecido como Raimundo Kambeba. Segundo ele, que é diretor da escola Kanata Tykua, a OBSMA vem para fortalecer e dar oportunidade para mostrar o potencial dos conhecimentos tradicionais dos povos indígenas.
Rita Bacuri ressalta que a Kanata Tykua é a primeira escola indígena do Amazonas a receber o título de escola olímpica da OBSMA, com a entrega do painel olímpico pintado pela artista do grafite Deborah Erê, junto com a comunidade. Além da escola indígena, a Três Unidos conta ainda com uma unidade de ensino estadual, mantida com apoio da Samsung. Segundo Rita, a OBSMA poderá ainda realizar oficinas pedagógicas de saúde e meio ambiente para professores e, em paralelo, com os estudantes, o Projeto Alunos em Ação. “As duas atividades permitem uma experiência riquíssima de troca de saberes”, afirma Bacuri.
A comunidade foi palco durante dois anos da execução do Projeto Gari (Grupo de Amigos Representando Ideias), coordenado pelo educador ambiental Adriano Rodrigues. Segundo Raimundo Kambeba, a iniciativa fortaleceu o empoderamento comunitário ribeirinho, por meio das artes, junto aos jovens. “Agora, com a Olimpíada, temos a oportunidade de fortalecer o elo entre conhecimentos tradicionais e científicos”, observou. “Isso é muito interessante para nosso povo, estimular essa troca de experiências e valorização da cultura porque fortalece a identidade do jovem, mostrando como se trabalha a educação coletiva e ajudando a formar novas lideranças dos nossos povos indígenas”, salienta o professor.
Raimundo conta que na escola municipal as crianças já são alfabetizadas na língua indígena kambeba e na língua portuguesa. “Manaus é a única capital do Brasil onde a língua indígena Kambeba e a Nhengatu são disciplinas regulamentadas para se trabalhar nas escolas indígenas”, diz, orgulhoso. Rita Bacuri ressalta a importância do aspecto da interculturalidade existente na participação das escolas da comunidade na Olimpíada Brasileira de Saúde e Meio Ambiente. “As escolas participam e podem nos apoiar com a riqueza da cultura kambeba, com a possibilidade de aprendermos uns com os outros. Essa perspectiva do saber compartilhado é o que nos fará fortes, tanto nós que moramos na cidade, quanto os indígenas que vivem em comunidades distantes. É assim que vamos nos fortalecer enquanto única raça humana e contra toda e qualquer adversidade que possa vir, sobretudo nós amazônidas que estamos na luta em defesa da floresta e dos povos que nela vivem”, afirma Bacuri.
Os povos indígenas, reforça Raimundo Kambeba, valorizam a cultura de educação coletiva. “Nós trabalhamos juntos, comemos juntos, fazemos tudo juntos. Educação coletiva é uma arma poderosa contra a educação individualista. O povo Kambeba luta para fortalecer a educação coletiva para que ela seja valorizada e respeitada”, afirma Raimundo..
APA ATURIÁ-APUAZINHO
A Área de Proteção Ambiental (APA) Aturiá-Apuazinho localiza-se no interflúvio Uatumã-Trombetas. Faz parte do Mosaico de Unidades de Conservação-UC do Baixo Rio Negro, que tem ao todo 1,8 milhão de hectares e integra o Corredor Central da Amazônia. Drenada pelo rio Cuieiras, a área da APA representa uma zona de amortecimento para UCs de proteção integral, e é habitat de espécies importantes como o Galo da Serra, o Sauim de Coleira (Saguinus bicolor bicolor) e o Gavião real (Harpia harpyja).
ILMD/Fiocruz Amazônia, por Júlio Pedrosa
Fotos: Júlio Pedrosa