Fiocruz Amazônia participa de articulação para criação de GT Saúde junto ao Mosaico de Áreas Protegidas do Baixo Rio Negro visando fortalecer ações prioritárias de saúde para as populações do território

A Fiocruz Amazônia se reuniu, na terça-feira, 5/03, com a presidência do Conselho Consultivo do Mosaico de Áreas Protegidas do Baixo Rio Negro (MBRN) – território formado por 15 unidades de conservação, de diferentes tipos, no Estado do Amazonas. A finalidade foi dar início às tratativas para a formação de um Grupo de Trabalho (GT) de Saúde que possibilite o desenvolvimento de ações prioritárias voltadas à promoção da saúde das populações ribeirinhas e comunidades tradicionais existentes no Mosaico, que abrange aproximadamente 7,5 milhões de hectares, do território de nove municípios (Barcelos, Coari, Codajás, Iranduba, Manacapuru, Manaus, Maraã, Novo Airão e Presidente Figueiredo), nas margens direita e esquerda do Rio Negro.

A ideia é permitir que a partir de pesquisas e estudos realizados pela Fiocruz e outras instituições que desenvolvem trabalhos na região seja possível estabelecer uma rede de conhecimentos, com a parceria das comunidades. “A iniciativa está dando os primeiros passos e, para nós, é uma excelente oportunidade de ampliar nosso escopo de abrangência, no que diz respeito à realização de pesquisas científicas, contribuindo com o nosso know how para prospecção de financiamentos para projetos voltados à melhoria da qualidade da saúde das populações tradicionais ribeirinhas dessa região”, afirmou a diretora da Fiocruz Amazônia, Stefanie Lopes, reafirmando o interesse da instituição em compor o grupo de trabalho.

A reunião foi conduzida pelo chefe do Laboratório de Situação da Saúde e Gestão do Cuidados de Populações Indígenas e outros grupos vulneráveis (Sagespi/Fiocruz Amazonia), o pesquisador em Saúde Pública, Fernando Herkrath, e pelo presidente do Conselho Consultivo do Mosaico, Marco Antonio Vaz de Lima, representando a Secretaria Municipal de Meio Ambiente, Sustentabilidade e Mudanças do Clima (Semmasclima), juntamente com sua suplente na presidência, Angeline Ugarte. Também estiveram presentes representantes de instituições como a Universidade Federal do Amazonas (Ufam), do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), Universidade Federal de São Carlos (UFSCAR-SP) e Agência Adventista de Desenvolvimento e Recursos Assistenciais, bem como de representante comunitário da RDS Puranga Conquist e conselheiro do MBRN.

Marco Antonio lembrou que a Fiocruz Amazônia é importante nesse processo como um fio condutor, partindo da experiência de projetos da instituição realizados no território, com destaque para projeto em desenvolvimento na comunidade Santa Maria, situada na Reserva de Desenvolvimento Sustentável Puranga Conquista, pertencente ao Mosaico. “Por meio desse projeto, foi possível perceber a potencialidade dessa área como espaço para discussões sobre quais as ações prioritárias de saúde podem ser implementadas em todo o território do mosaico, incluindo unidades de conservação municipais, estaduais e federais, onde estão abrigadas comunidades tradicionais, com formas de trabalho e visões de mundo diferenciadas”, afirma Angeline Ugarte.

Para o pesquisador Fernando Herkrath, o papel da Fiocruz nesse processo é estratégico. “A saúde dessas populações requer articulação de saberes e experiências, planejamento e avaliações permanentes de ações intersetoriais, assim como responsabilidades e informações compartilhadas, a fim de alcançar saúde e bem-estar com equidade e integralidade”, afirma. Segundo ele, é preciso que haja uma mudança de visão em relação ao cuidado em saúde. “A atenção à saúde nessas localidade exige uma proposta inovadora e diferenciada, que rompa com a lógica curativista (centrada na doença) e que considere as especificidades territoriais e a influência dos determinantes sociais da saúde”, expilca Herkrath, ressaltando que a finalidade desse primeiro encontro foi discutir a relevância de um GT de Saúde para o Mosaico do Baixo Rio Negro, reunindo sugestões de organização e atuação.

O presidente do Conselho Consultivo adiantou que os próximos passos serão ouvir os relatos das experiências de cada pessoa/instituição, para consolidar o conhecimento que produzido no território do MBRN. Na sequência, partir para a implementação propriamente dita do GT, com a definição dos objetivos, atuação, composição e forma de organização das atividades, com a elaboração de um plano de ação. Uma segunda reunião ficou programada para o mês de abril.

EXPERTISE

Angeline Ugarte lembra que, a partir da organização do GT, a gestão do Mosaico pode definir ações prioritárias nesse território. “O Conselho vota e pode estabelecer que o Grupo fique vinculado a uma câmara técnica, mas o importante é que o órgão consultivo reconhece que a Fiocruz pode ser um parceiro de relevância para várias atividades que são desenvolvidas atualmente na área do Mosaico”, observou.

“A Fiocruz entra estrategicamente nesse processo como órgão de expertise em questões de saúde na Amazônia, tendo em vista possuir um conhecimento dessas regionalidades e por compreender que as mudanças climáticas e os eventos climáticos extremos são fatores potencializadores de endemias, doenças crônicas, seja pelo isolamento delas, por questões culturais, seja pela alteração do ambiente pelo próprio homem”, frisou Angeline.

ILMD/Fiocruz Amazônia, por Júlio Pedrosa

Fotos: Júlio Pedrosa