CD homenageia pesquisadores condecorados com a Ordem Nacional do Mérito Científico

O Conselho Deliberativo da Fiocruz homenageou, durante reunião realizada nesta quarta-feira (2/8), os pesquisadores da Fundação que foram condecorados com a Ordem Nacional do Mérito Científico no mês passado. A sanitarista e diretora da Fiocruz Amazônia, Adele Benzaken, o infectologista Marcus Vinícius de Lacerda, da mesma unidade, o pesquisador emérito Renato Cordeiro, do Instituto Oswaldo Cruz, o coordenador do Centro de Integração de Dados e Conhecimento para a Saúde, Maurício Barreto, e o especialista em leishmaniose Edgar Marcelino, ambos da Fiocruz Bahia, receberam ex-libris personalizados com a frase “Saúde é democracia. Democracia é saúde” e uma carta assinada pelos membros do Conselho.

Em 2021, Benzaken e Lacerda haviam sido indicados para receberem a Ordem Nacional do Mérito Científico, mas tiveram a condecoração revogada pelo então presidente Jair Bolsonaro, sem nenhuma justificativa, menos de 48h depois de assinada. Em protesto, outros 21 cientistas que seriam agraciados redigiram uma carta renunciando à homenagem. Em julho deste ano, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva entregou a medalha aos pesquisadores, em cerimônia realizada no Palácio do Planalto.

A ideia de homenagear os cientistas durante a reunião do CD partiu do presidente da Fundação, Mario Moreira. “Esta é uma reparação histórica à desonra cometida contra nossos pesquisadores”, destacou. “A entrega da Ordem Nacional do Mérito Científico tem uma dimensão muito simbólica em relação à valorização da ciência no nosso país. A saúde e a ciência venceram. A resiliência da nossa base científica nos levou a um ponto de reconstrução e de avanço em relação ao que tínhamos no passado.”

Criada em 1993, a Ordem Nacional do Mérito Científico reconhece contribuições científicas e técnicas de pesquisadores brasileiros e estrangeiros. A indicação é feita por uma comissão formada por nove integrantes, designados de forma paritária pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), pela Academia Brasileira de Ciências (ABC) e pela Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC).

“Nesse momento, passa um filme na sua cabeça e você revive 40 anos de pesquisa”, afirmou Adele Benzaken, que, antes de ser eleita diretora da Fiocruz Amazônia, dirigiu o Departamento de HIV/Aids do Ministério da Saúde, mas foi exonerada no início da gestão de Jair Bolsonaro. “Queria dizer da minha emoção de estar aqui nesse momento tão importante e tão memorável das nossas vidas. À Fiocruz eu devo a minha formação e essa vivência dos últimos dois anos como diretora da Fiocruz Amazônia, que é um novo aprendizado. Quando a gente envelhece, é importante ter esse estímulo de novas experiências. É o que nos mantém vivos.”

Alvo de ameaças de morte após liderar, em 2020, o primeiro estudo que confirmou a ineficácia da cloroquina no tratamento de pacientes com Covid-19, Marcus Lacerda ressaltou a emoção de ser homenageado pelo Conselho Deliberativo. “Esse momento é diferente do que vivemos no Palácio do Planalto, num sentido ainda melhor. Aqui estamos falando com pessoas que vivenciaram a nossa experiência. Menos de 24h depois de um tweet que pôs em risco a vida da minha família, esse mesmo CD se reuniu e divulgou uma nota para a imprensa. Nenhuma medalha tem o poder que esse Conselho teve ao defender os seus. Isso é família.”

 Co-fundador e atual diretor do Cidacs, Maurício Barreto lembrou o histórico de resistência da Fiocruz diante de ataques à ciência. “Receber essa medalha no momento em que o Brasil sai de um obscurantismo terrível tem um lado simbólico que nos alimenta. A história da Fiocruz é uma história de resistência. É uma instituição que viveu momentos difíceis, mas que não se dobrou facilmente quando a democracia foi violada em nosso país”.

Considerado um dos maiores especialistas em leishmaniose cutânea do mundo, Edgar Marcelino participou do encontro por videochamada e reforçou o incentivo que as homenagens representam para o trabalho científico. “As premiações representam para nós não somente satisfação, mas também mais trabalho. Me sinto disposto a trabalhar ainda mais.”

 Ex-vice-presidente de Pesquisa e Ensino e ex-diretor do Instituto Oswaldo Cruz, Renato Cordeiro dedicou a homenagem do CD ao seu “pai científico”, o médico Haity Moussatché, um dos dez cientistas cujos direitos foram cassados pelo regime militar em 1970, no episódio conhecido como Massacre de Manguinhos. “Entrei na Fiocruz como estagiário na década de 1960 e logo depois fomos ‘presenteados’ por aquela ditadura maldita. É importante que todos nós nos mantenhamos unidos e que tenhamos noção do risco que ainda corremos”, reforçou.

Fonte: Portal Fiocruz, por David Barbosa (CCS)
Fotos: Peter Ilicciev (CCS)