Projeto Amazônia Solidária realiza oficina final reunindo experiências e produtos de comunicação em saúde

A Fiocruz Amazônia, em parceria com a Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional (USAID), NPI Expand, SITAWI Finanças para o Bem, Fiotec e Conselhos de Secretarias Municipais de Saúde do Amazonas (Cosems-AM) e do Acre (Cosems-AC), promoveu durante dois dias a oficina final da Frente 3 do Projeto Amazônia: Ciência e Solidariedade no Enfrentamento da Covid-19. O objetivo foi o de reunir trabalhos na área de Comunicação em Saúde, produzidos pelas comunidades de territórios ribeirinhos, quilombolas e de migrantes, dos 17 municípios dos estados do Amazonas e os municípios do Acre, contemplados pelo projeto, visando estabelecer estratégias para o fortalecimento da cobertura vacinal tanto nas localidades contempladas quanto em outros municípios. A oficina ocorreu dias 26 e 27/06 e contou com a presença de apoiadores, facilitadores e coordenadores de área do projeto, além de representantes de secretarias municipais de Saúde, Conselho de Secretarias Municipais de Saúde do Amazonas (Cosems-AM), NPI Expand (representando o agente financiador) e da Secretaria de Vigilância em Saúde e Ambiente do Ministério da Saúde.

Produtos como vídeos publicitários, spots de rádio, podcasts, paródias, panfletos, cartazes, jogos de memória, cartilhas, bingo, entre outros, elaborados de forma participativa sobre o tema da vacinação e o combate a fakenews durante as duas oficinas, realizadas nos municípios durante a execução do projeto, foram apresentados como resultado do trabalho desenvolvido com o apoio das equipes de saúde do município e os facilitadores da Fiocruz. O coordenador da Frente 3 do Projeto Amazônia Solidária, o pesquisador da Fiocruz Amazônia, Júlio César Schweickardt, destacou a importância da iniciativa, ressaltando que o projeto abriu um leque de oportunidades para que as comunidades fizessem a sua própria comunicação. “Reunir os apoiadores locais, facilitadores e coordenadores de área foi uma forma também de avaliar as experiências, identificando os pontos forte e fracos e sobretudo se houve alguma mudança no quadro vacinal”, explica o pesquisador.

Representando a diretora da Fiocruz Amazônia, Adele Benzaken, a vice-diretora de Pesquisa e Inovação, Stefanie Lopes, participou da mesa de abertura do evento e lembrou que o projeto, desde a submissão das propostas até a execução das ações e entrega dos resultados, teve um componente forte de integração. “Há pouco mais de um ano, antes do Natal, nossa diretora Adele Benzaken deu início a uma movimentação em torno da chamada aberta, para submetermos propostas e várias mãos trabalharam para esse objetivo, num edital que visava apoiar ações de enfrentamento da Covid-19 na Amazônia e acabou se tornando uma oportunidade de fortalecer articulações e expandir ações, ampliando territórios para além do Amazonas, nos estados de Roraima, Rondônia e Acre”, relembrou.

As três frentes de atuação do projeto permitiram a integração entre os pesquisadores da Fiocruz Amazônia e uma rede de apoiadores e facilitadores. “O projeto tinha três frentes, mas todas se comunicaram, tivemos desafios grandes de execução, colocados pelo cenário, mas que só nos enchem de orgulho de termos participado, com o apoio de todos”, explica Stefanie, esperando que seja o início de muitas ações em conjunto. O acesso à informação, à educação e comunicação em saúde fez a diferença na Frente 3 do projeto, de acordo com Gabriel Côrtes, gerente de Programas da NPI Expand, iniciativa global responsável pela execução do financiamento do projeto.

“A USAID mantém projetos em todo o Mundo e, no Brasil, por conta da pandemia e o impacto que ela trouxe para a Saúde, optou por trazer essa iniciativa com dois grandes objetivos: fomentar a vacinação e fortalecer os sistemas de saúde locais, com recursos executados pela Palladium e a parceria da SITAWI Finanças para o Bem. Tivemos a graça de receber da Fiocruz Amazônia três projetos, muito distintos e inovadores em vários aspectos, sobretudo pelo foco de olhar para as populações em situação de vulnerabilidade e por trazer a voz dessas comunidades”, firmou Côrtes. No portfólio da NPI Expand, no Brasil, o Ciência e Solidariedade no Enfrentamento da COVID-19 é um dos 23 projetos da USAID implementados e executados nos nove estados da Amazônia.

INTERCÂMBIO DE EXPERIÊNCIAS

Para os apoiadores que participaram ativamente do projeto, a oficina final foi uma oportunidade de intercâmbio de experiências e intercâmbio de conhecimentos e saberes. Com um papel fundamental junto às comunidades, os apoiadores atuaram na mobilização dos comunitários para viabilizar as oficinas 1 e 2 dentro dos seus territórios. O técnico de enfermagem Antonio Valdeci Cacau Rocha, diretor de Atenção Básica de Xapuri, no Acre, relata que o projeto ajudou a melhorar os indicadores de saúde do município. “Com a pandemia, tivemos uma baixa muito grande no índice de vacinação e o projeto, vendo essa dificuldade, vem nos trazer algumas estratégias para melhorar esses números e aqui no encerramento da oficina tivemos a oportunidade de conhecer materiais elaborados e expostos que nos trouxeram muitas ideias. O fazer saúde se torna mais fácil quando se envolve a comunidade”, afirmou.

Xapuri foi um dos cinco municípios acreanos representados no encontro. O Estado do Acre apresentou cinco dos 22 trabalhos que foram realizados em comunidades ribeirinhas do Estado. “Gostaríamos de dizer do grande prazer que é estar trabalhando com a Fiocruz, uma parceria que nos fortalece”, admite Nara Cilene da Silva Oliveira, secretária executiva do Cosems-Acre, apoiadora do projeto. “Foi a primeira vez que eu trabalhei como apoiadora local com a Fiocruz/Fiotec e confesso sentir-me gratificada por poder fortalecer a Ciência contra as fakenews e contra tudo que foi feito nos últimos quatro anos”, admitiu. Nara conta que a participação no projeto lhe garantiu algumas experiências inéditas. “Foi a primeira vez que estive cara a cara com a população ribeirinha e não tinha noção onde o SUS poderia chegar com um projeto como esse”, disse.

Vindos de Tabatinga, no Alto Solimões, e Barcelos, região do Alto Rio Negro, no Amazonas, os agentes comunitários de saúde Ariclenes Souza Inuma e Juliane da Silva Soares participaram da oficina com o sentimento de gratidão e dever cumprido. “Achei muito proveitoso o projeto não só para a minha comunidade ribeirinha, Novo Paraíso, como as vizinhas, São João e Novo Progresso, que participaram das oficinas. Só tenho a agradecer à Fiocruz pela troca de conhecimentos e ao Cosems e a Secretaria de Saúde de Tabatinga pelo apoio”, afirma o ACS Ari, como é conhecido. Para Juliane, integrar a terceira oficina com a participação de outros municípios e estados, foi uma oportunidade de intercâmbio e aprendizado. “Grata a Deus por ter me ajudado a chegar até aqui, essa oficina me auxiliou muito e a muitos comunitários. Agradeço à Fiocruz, à Secretaria Municipal de Saúde de Barcelos e à UBS do Marará, minha comunidade, onde pretendo multiplicar esse conhecimento para a comunidade e os companheiros ACS.

MIGRANTES

O eixo do Projeto Amazônia Solidária voltado para populações dos territórios migrantes deu oportunidade de acesso a informações e a serviços de saúde para dezenas de famílias venezuelanas residentes na comunidade Santo Expedito, situada no Tarumã, Zona Oeste de Manaus. Javier Rojas, professor venezuelano morador da comunidade, explica que o projeto ajudou a vencer primeiramente o desafio da comunicação em saúde e, em seguida, a criar uma rede solidária entre os migrantes, com o apoio da Pastoral dos Migrantes de Manaus. “Chegamos ao Brasil sem planejar, estudar o português, e a primeira palavra que temos que aprender a falar é fome para conseguir alimento. O Projeto Amazônia Solidária, como experiência enriquecedora que foi, nos deu a oportunidade de ter um primeiro encontro com o sistema de saúde brasileiro, orientações sobre a vacina e informações corretas contra as fakenews, nos fortalecendo enquanto cidadãos”, afirmou.

A comunidade Santo Expedito é formada também por brasileiros. A interação com os migrantes foi fortalecida a partir da iniciativa de Javier de criar um projeto de ensino de espanhol para brasileiros e vice-versa. “Quando chegamos à comunidade, o trabalho do professor Javier já existia com a finalidade de ajudar o migrante que vem para outro país sem planejamento e totalmente desassistido, precisando aprender a se comunicar e nós acabamos contribuindo com essa iniciativa criando uma parceria com a comunidade”, explica a pesquisadora da Fiocruz Amazônia, Fabiane Vinente, responsável pela coordenação do eixo dos migrantes no Amazônia Solidária.

COSEMS-AM

O presidente do Conselho de Secretarias Municipais de Saúde do Amazonas (Cosems-AM), Manoel Barbosa, prestigiou o encontro, destacando a importância da parceria com a Fiocruz Amazônia para vencer os desafios do fazer saúde na Amazônia. “Viver na Amazônia é um desafio constante e a Fiocruz com esse conhecimento que produz mostra que é possível reverberar, impactar e transformar a realidade dessas populações, principalmente dos segmentos mais vulneráveis”, afirmou. “A palavra é gratidão pela proximidade com a Fiocruz e tudo que ela representa para a saúde do povo brasileiro. É uma honra dizer que estamos sempre à disposição naquilo que for preciso. Fazer saúde no Amazonas exige desafios, assim como vacinar porque existem barreiras e tabus potencializados nos últimos quatro anos, com uma verdadeira guerra de desinformação. Esse projeto veio como uma grande inspiração para todos nós”, admitiu.

MINISTÉRIO DA SAÚDE

Representando a secretária de Vigilância em Saúde e Ambiente do Ministério da Saúde, Ethel Maciel, os assessores do Departamento de Vigilância em Saúde Ambiental e Saúde do Trabalhador, Igor Rodrigues e Renan Duarte estiveram presentes nos dois dias da oficina. “Em nome da secretária da SVSA, Ethel Maciel, nos colocamos à disposição para parcerias e verificamos que o Projeto Amazônia Solidária se encaixa no eixo fundamental do nosso trabalho que é o da promoção da equidade. Estamos alinhados com os temas desse evento e escutamos atentamente as experiências apresentadas nesses dois dias e, certamente, faremos essas experiências ecoarem nas políticas e práticas da Secretaria de Vigilância em Saúde e Ambiente”, afirmou Igor. Renan Duarte considerou o evento revelador ao trazer a realidade do SUS em localidades tão distantes do País. “O projeto Amazônia Solidária teve na sua grande potência a integração de diversos atores da saúde pública, desde o Cosems às instituições locais, lideranças comunitárias e trouxe também a percepção da comunidade em relação às questões relacionadas à saúde. Pudemos observar nesses dois dias muitos produtos que foram feitos pelas populações, observar o protagonismo das comunidades participando na íntegra desse projeto”, opinou.

LIVRO

Ao todo, o Amazônia Solidária produziu 26 webvídeos e dezenas de podcasts, entre outros produtos de comunicação, a exemplo de flyers, dias D, rodas de conversa, faixas, cartazes, repentes e paródias, feitos pelas comunidades junto com as equipes de saúde e facilitadores do projeto, nos territórios ribeirinhos, quilombolas e de migrantes contemplados. “Os produtos nasceram a partir das estratégias e necessidades dos territórios que serão reunidas e deverão se transformar em um livro, que terá como foco a importância da educação e da comunicação popular para o fortalecimento da vacinação”, anuncia o coordenador do projeto, Júlio Schweickardt. A obra deverá conter relatos dos coordenadores de eixos, dos facilitadores e apoiadores sobre o processo de aprendizagem obtido, além das narrativas dos territórios, textos sobre metodologia, resultados da vacinação e os produtos de comunicação e educação propriamente ditos.

Denise Amorim, servidora pública municipal, publicitária e mestre em Saúde Pública pela Fiocruz, lembra como se deu as experiências que vivenciou no projeto, onde atuou desde a concepção ao trabalho nas comunidades ribeirinhas como facilitadora. “O Projeto Amazônia Solidária foi uma grande oportunidade de resgate da política nacional de educação popular em saúde. A educação popular preconiza metodologias participativas que inserem a comunidade e os atores sociais. Construímos o termo de referência das oficinas por meio dos círculos de cultura, que são os passos agregadores de diálogo, de construção participativa e de aprendizado coletivo, e nós pudemos experimentar nos municípios essa metodologia que atendeu plenamente aos propósitos do projeto”, afirmou.

Para a coordenação, o projeto conseguiu aproximar as equipes de saúde e as comunidades, nos diferentes contextos, com resultados positivos tanto na oficina 1 quanto na oficina 2. A oficina 1 foi dividida em três círculos de cultura, um que versava sobre a temática do território, onde a própria comunidade conseguiu pensar o território para além do conceito geográfico, espaço físico. O círculo 2 já trouxe informações sobre vacinação, fez com que eles pensassem um pouco mais sobre o que foi a COVID-19, a pandemia, o medo, os preconceitos, e as fakenews, que também foi outra temática que interessou demais a comunidade. A 2ª oficina teve o objetivo de promover os produtos de comunicação, que foi um exercício novo, tanto para a comunidade, quanto para as equipes de saúde.

Presente ao evento, a italiana Francesca Bigliard, do Serviço de Voluntariado de Parma, na Itália, avaliou as experiências mostradas como práticas libertadoras de criatividade. “Constatei um envolvimento apaixonado e a competência com que construíram espaços de diálogos, respeitadores das diferentes especificidades das comunidades; e prova disso são os inúmeros produtos que vimos, porque quando se estabelecem contextos de significação, contextos de escutas, de amorosidade, contextos de problematização, estes geram e libertam criatividade, e criatividade é vida. Para aprofundar esse conhecimento e dar continuidade a essas práticas, esses dois dias onde aprendemos cada um com os outros foram realmente preciosos para continuar o compromisso com a saúde verdadeiramente coletiva e plural”, destacou.

SOBRE OS PARCEIROS 

No Brasil, a USAID, a NPI EXPAND e a SITAWI Finanças do Bem se uniram para criar uma parceria para apoiar a Resposta à COVID-19 na Amazônia. Entre 2020 e 2021, a primeira fase do projeto do NPI EXPAND Resposta à COVID-19 na Amazônia distribuiu mais de 23 mil cestas básicas e kits de higiene, capacitou mais de 500 agentes comunitários de saúde, doou mais de 1,4 milhão de máscaras feitas por costureiras locais e divulgou mensagens educativas de prevenção para mais de 875 mil pessoas na região. A Fase dois está promovendo maior resiliência das comunidades amazônicas através do apoio amplo a vacinação contra a COVID-19, campanhas de informação e combate à fake News, e apoiando os sistemas locais de saúde na região com equipamentos e insumos para detectar, prevenir e controlar a transmissão de Covid-19, bem como realizar o acompanhamento de casos agudos de COVID-19 e tratar as sequelas de síndrome pós-COVID-19.