Fiocruz em parceria com Unicef e organizações indígenas fazem encontros para mitigar impactos da Covid nas comunidades.
A Fiocruz Amazônia e o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) trabalham em parceria na elaboração de um diagnóstico do impacto da pandemia de Covid-19 em comunidades indígenas da Amazônia Legal. O projeto, denominado ECHO COVID, de fortalecimento da resposta da pandemia em vigilância, saúde mental e medicina tradicional com povos indígenas de quatro Estados (Amazonas, Roraima, Pará e Maranhão), conta com recursos do European Civil Protection and Humanitarian Aid Operations (ECHO). É desenvolvido pelo Laboratório de História, Políticas Públicas e Saúde na Amazônia (LAHPSA), do ILMD / Fiocruz Amazônia, com atividades previstas para ocorrer até setembro deste ano, podendo ser estendido, conforme as demandas identificadas, como explica a pesquisadora em Saúde Pública do Lahpsa, Michele Rocha de Araújo El Kadri, responsável pela coodenação da pesquisa.
Segundo Michele El Kadri, o projeto prevê quatro atividades. A primeira é voltada para apoio à construção de um sistema de vigilância epidemiológica de base comunitária, de modo a empoderar os indígenas na identificação (em tempo) dos problemas de saúde da comunidade. A segunda destinada a realizar uma formação em nutrição e segurança alimentar. A terceira prevê a criação de planos de intervenção para apoio à questão da saúde mental. E, por fim, a quarta ação voltada para a área da medicina tradicional visando o fortalecimento de redes nos quatro estados de atuação do projeto. A pesquisa conta com a colaboração dos pesquisadores em Saúde Pública Júlio Schweickardt, Kátia Lima, Fabiane Vinente e Alessandra Pereira. A equipe vem participando de encontros com organizações indígenas de diversas regiões dos estados envolvidos, se reunindo com lideranças e trabalhadores da saúde indígena dos territórios para coleta de dados e formulação de propostas coletivas.
Já ocorreram encontros na região do Alto Solimões, no Amazonas, em março último, e no município de Pacaraima, em Roraima, onde aconteceu até esta quarta-feira, 4/05, a II Assembleia Geral da Saúde Indígena, promovida por um coletivo de organizações e lideranças comunitárias de diversas regiões do Estado. “Não queremos chegar com intervenções prontas. Temos linhas gerais, mas sabemos que as demandas que encontraremos serão diferenciadas de acordo com a situação de cada povo indígena e as áreas em que estão inseridos”, explica Michele, acrescentando que neste mês de maio deverão se reunir ainda com lideranças da região do Tapajós, no Pará, e do Estado do Maranhão (DSEI-MA). “Realizamos viagens preliminares de levantamento de dados para ouvir as demandas. Prosseguiremos com esses encontros em todos os recortes territoriais da pesquisa para, ao final, elaboramos um diagnóstico sobre o impacto do novo coronavírus nas áreas”, afirmou.
No encontro de Roraima, participaram coordenadores do Distrito Sanitário Especial Indígena (DSEI) Leste RR e Yanomami, secretários municipais de Uiramutã, Pacaraima, Normandia, Cantá, de Alto Alegre, Amajari e representantes da Secretaria de Estado da Saúde (Sesau). “As lideranças apresentaram diretamente para os gestores suas demandas. As principais queixas trazidas por todas as comunidades dizem respeito a transporte, logística (carros, ambulâncias, transporte aéreo, gasolina, manutenção) e questões relacionadas à melhoria da capacitação dos profissionais dos DSEIs, para que possam lidar de maneira mais adequada com os povos indígenas”, afirma a pesquisadora colaboradora Alessandra Pereira.
A coordenadora de Saúde e Nutrição do Escritório Regional da Unicef em Roraima, Ana Spiassi, destaca que o acúmulo de conhecimento gerado sobre as demandas de saúde das comunidades nunca será demais. “O que nós podemos fazer enquanto Unicef é apoiar para que elas desenvolvam suas próprias estratégias e tenham particularmente uma relação consolidada com os gestores locais. Este é o nosso papel, tentar mediar, facilitar essa relação”, declarou. É nesse contexto de fortalecimento, segundo Spiassi, que se insere o projeto ECHO COVID, onde há possibilidade de instituições parceiras atuarem construindo subsídios junto com as comunidades. “E a Fiocruz é uma parceira fundamental nesse sentido, pela expertise, pela possibilidade de construirmos uma resposta efetiva para as comunidades indígenas”, frisou a coordenadora.