Narrativas das ciências e o futuro da pós-graduação foram temas de evento na Fiocruz Amazônia

Em seu último dia de realização, o I Encontro da Pós-Graduação do Instituto Leônidas & Maria Deane (ILMD/Fiocruz Amazônia) iniciou as atividades desta sexta-feira, 1º/11, com a palestra As narrativas das ciências: do positivismo comtiano às crises dos paradigmas contemporâneos relatados pela mídia, ministrada pelo palestrante Ricardo Alexino Ferreira (professor associado da Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo – ECA/USP).

Em seguida, foi realizada uma roda de conversa sobre O futuro da Pós-Graduação, da qual participaram Fábio Trindade Maranhão Costa (professor da Universidade Estadual de Campinas – Unicamp), Márcia Perales Mendes Silva (diretora-presidente da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas – Fapeam), Richarlls Martins (coordenador da Associação de Pós-Graduandos da Fiocruz do RJ –  APG-Fiocruz), Patrícia Melchionna Albuquerque (coordenadora geral de Pós-Graduação da Universidade do Estado do Amazonas – Propesp/UEA), Adriana Malheiro Alle Marie e Esron Soares Carvalho Rocha (Universidade Federal do Amazonas – Ufam) e Claudia María Ríos Velásquez (pesquisadora e vice-diretora de Ensino, Informação e Comunicação do ILMD/Fiocruz Amazônia).

 

NARRATIVAS DAS CIÊNCIAS

Professor associado da Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (ECA -USP) e diretor/apresentador do programa radiofônico de entrevista “Diversidade em Ciência”, da Rádio USP, Ricardo Alexino abordou os diferentes desafios de se fazer ciência e jornalismo, em tempos de conflito de interesses, o que gera a necessidade de ter mais dúvidas que certezas.

“O jornalista tem que trabalhar com a narrativa do cotidiano, mas para isso vai utilizar diferentes tipos de narrativas, muitas vezes marcadas pelos interesses e a ideia do poder. Lógico que estou falando aqui no sentido amplo, não daquelas publicações que já ultrapassaram isso, mas daquelas que estão mais viciadas e que, infelizmente, ainda são os veículos hegemônicos. Vivemos em uma sociedade em que tudo é transformado em mercadoria e precisamos ficar atentos a isso e nos discursos que são feitos”, comentou Ricardo Alexino.

Na oportunidade, ele alertou também que com o jornalismo focado apenas no presente, o jornalista prende-se em conceitos de verdade, objetividade e imparcialidade e não questiona o contexto em que está inserida a notícia. Na linha do tempo da abordagem da Ciência no jornalismo brasileiro, os jornais da segunda metade do século XIX tratavam de assuntos mais voltados a raça e eugenia, manipulando fatos científicos para propagar as ideologias da época. Outro importante fato histórico relatado foi a influência da economia nos mais diferentes aspectos da produção cultural, com a criação dos super-heróis para lidar com as crises econômicas.

O FUTURO DA PÓS-GRADUAÇÃO

Na roda de conversa professores, coordenadores de cursos, diretores de instituições de ensino e pesquisa apresentaram aos alunos um breve diagnóstico da pós-graduação em suas instituições e os efeitos causados pelos cortes de bolsas e investimentos do Governo Federal, por meio da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) e  do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).

Claudia María Ríos Velásquez (ILMD/Fiocruz Amazônia) falou dos esforços que estão sendo feitos pela Fiocruz para a manutenção dos cursos e da oferta de bolsas para os alunos da pós-graduação. Porém, alertou que para o 2020, “a expectativa é incerta; o futuro não está muito claro”, sinalizando que, caso permaneça esse cenário de falta de investimentos,  os cursos da Unidade da Fiocruz no Amazonas e o quantitativo de bolsas podem ser afetados.

Patrícia Melchionna Albuquerque (UEA) e Adriana Malheiro Alle Marie (Ufam) manifestaram a mesma preocupação, apesar de reconhecerem o esforço do Governo do Amazonas, para a manutenção dos programas de pós-graduação e de bolsas para os estudantes.

Marcia Perales lembrou que a Fapeam é uma instituição nova (16 anos), e que ao longo de sua vida passou por momentos de ascensão, com recursos significativos para investimentos, mas que também a instituição teve um período de declínio nos investimentos.

Ressaltou que em 2019, num esforço do governador do Amazonas, Wilson Lima, a Fapeam está retomando os investimentos em programas que atendem às suas linhas de ação, em especial a de formação e capacitação de recursos humanos para ciência, tecnologia e inovação (CT&I). Na oportunidade, Marcia Perales, conclamou os atores diretamente envolvidos com os cursos de pós-graduação para unirem esforços, a fim de que os programas de pós-graduação no Estado avancem, e os convidou para a reunião a acontecer no dia 7 de novembro,  com a diretora de avaliação da Capes, Sônia Nair Báo, em Manaus, para tratar da Avaliação do Sistema Nacional de Pós-Graduação da Capes (SNPG/Capes).

Sérgio Luz, pesquisador e diretor do ILMD/Fiocruz Amazônia, endossou as colocações feitas por Márcia Perales, e ressaltou que os investimentos da Fapeam neste ano deram fôlego para  a manutenção do número de bolsas para alunos, bem como para a realização de ações e atividades no Instituto.

Ao final do Encontro, alunos dos cursos de mestrado e doutorado da Fiocruz Amazônia reuniram-se com Richarlls Martins, para uma possível formação de associação local em defesa da CT&I e de interesses dos pós-graduandos da Unidade.

 

ILMD/ Fiocruz Amazônia, por Marlúcia Seixas de Almeida e Diovana Rodrigues
Fotos: Érico Xavier (Fapeam)