The Lancet destaca relevância da trajetória do médico e pesquisador clinico Marcus Lacerda, especialista em malária na Amazônia
Pesquisador clínico especialista em malária do Instituto Leônidas e Maria Deane (ILMD/Fiocruz Amazônia), o médico infectologista Marcus Larcerda é destaque da revista The Lancet, edição de fevereiro/2025, em artigo publicado, sobre a sua trajetória como pesquisador em saúde pública na Amazônia e a relevãncia do seu trabalho como cientista no enfrentamento a doenças infecciosas, em especial a malária, do tipo Vívax, predominante na região amazônica brasileira. A públicação destaca a importãncia dos estudos, coordenados por Larcerda, sobre o uso da Tafenoquina, única terapia para a cura radical da malária causada pelo plasmodium Vivax, aprovada nos últimos 40 anos. Há 24 anos, Lacerda tem se concentrado nessas pesquisas, conforme salienta The Lancet, uma das revistas científicas mais conhecidas e respeitadas no Mundo.
O texto ressalta que, embora a malária seja o seu principal foco, Lacerda também contribuiu para outras áreas de pesquisa em doenças infecciosas, com o reconhecimento da comunidade científica internacional. “A adesão à Fiocruz possibilitou me envolver mais intimamente nas questões relacionadas às drogas”, diz o especialista à revista, que destaca: “O trabalho de Lacerda é valorizado pelos colegas; Quique Bassat, Diretor Geral do ISGlobal, Barcelona, Espanha, comenta: ‘Marcus Lacerda é um especialista em saúde global do século 21 gigante que dedicou sua vida profissional a dar visibilidade aos problemas de saúde da região amazônica brasileira e além. Sua pesquisa fundamental sobre o manejo da malária vivax e eliminação, seu trabalho incrivelmente rigoroso sobre o COVID-19 durante as dificuldades da pandemia, e seu compromisso destacando doenças tropicais ainda muito negligenciadas, são todos testemunho de sua motivação e lealdade para servir às necessidades de seus pacientes e comunidades”, relata a revista.
Na pandemia de COVID-19, Marcus Lacerda liderou um grupo de pesquisadores que fez um estudo de segurança de duas doses de difosfato de cloroquina para COVID-19 grave. Os resultados negativos do ensaio desafiaram as opiniões de alguns líderes munidais e por um período Lacerda recbeu ameaças online por extremistas políticos. “É estranho ser mais conhecido por o público por este trabalho do que as duas décadas de trabalho que tenho feito sobre a malária”, diz Lacerda ao The Lancet.
O artigo descreve ainda aspectos pessoais da vida do cientista. Conta que Lacerda nasceu na periferia de Brasília e que foi, inspirado em seu tio João Felix Cunha, ginecologista, que decidiu ingressar na faculdade de medicina na Universidade de Brasília, aos 16 anos. Como estudante de medicina, morou por três meses com missionários católicos canadenses, período no qual trabalhou como único médico, ainda não qualificado, no município de Caapiranga, interior do Amazonas.
Durante seus estudos médicos, Marcus Lacerda começou a ver a importância da pesquisa. Sua primeira experiência de pesquisa foi em imunologia e mais tarde em malária. Em 2002, mudou-se para a Fundação de Medicina Tropical Dr Heitor Vieira Dourado, em Manaus, onde continua a trabalhar como Especialista em Doenças Infecciosas/Tropical Especialista em Medicina.
Seu primeiro ensaio clínico teve como finalidade testar arteméter – lumefantrina para malária falciparum não grave nas Américas, que mais tarde se tornou o regime padrão no Brasil. Concluiu seu Doutorado em Medicina Tropical em 2007 e prosseguiu sua carreira em medicina e pesquisa. Lacerda foi presidente da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical entre 2015 e 2017, tendo dedicado grande parte do seu tempo para formar alunos de pós-graduação na Universidade do Estado do Amazonas, em Manaus. Também levantou financiamentos para ensaios clínicos junto a agências brasileiras e internacionais.
Historicamente, relata a revista, a maior parte do financiamento para a malária centrou-se na malária P falciparum por apresentar maior letalidade; mas, com cerca de 83% da malária casos no Brasil por P vivax, Lacerda conseguiu redirecionar mais financiamento para entender o peso desta doença. Lacerda então fez parceria com Medicamentos para a Malaria Venture, co-patrocinadora dos ensaios clínicos com GlaxoSmithKline, para desenvolver tafenoquina, uma primaquina derivado com meia-vida mais longa, permitindo uma dose única regime. Lacerda liderou estudos de implementação da tafenoquina na Amazônia brasileira após testes para a enzima G6PD.
A viabilidade do uso de uma dose única de tafenoquina para curar a malária vivax está mudando as diretrizes internacionais – OMS divulgou novas orientações em dezembro de 2024 – e o regimejá está sendo implementado em alguns países. Lacerda explica seu “centro único de pesquisa clínica na Amazônia tem como objetivo fornecer evidências para a administração de tafenoquina após a triagem sorológica para avançar em direção da eliminação da malária vivax no Brasil e em outros lugares (…)”.
O artigo relembra também que não foi só na malária que Lacerda tem a sua marca. Trabalhando com Beatriz Grinsztejn, que lidera a área de HIV e questões de saúde sexual para a Fiocruz, Marcus Lacerda utilizou a infraestrutura que havia estabelecido em Manaus para o teste de implementação no Brasil da profilaxia oral pré-exposição (ImPrEP) para prevenção do HIV em 2018, além de testes de cabotegravir e lenacapavir como PrEP injetável de ação prolongada.
ILMD/Fiocruz Amazônia, Por Júlio Pedrosa
Fotos: Michell Mello