Pesquisador da Fiocruz Amazônia sugere medidas de efeito rápido para reduzir danos causados pela fumaça que encobre Manaus
O epidemiologista Jesem Orellana, pesquisador da Fiocruz Amazônia, sugere a adoção de medidas emergenciais para reduzir os danos atuais e futuros causados pela inalação de fumaça, em níveis críticos, pela população de Manaus, com o agravamento da situação nesta quinta-feira, 19/09. O pesquisador afirma que os serviços de saúde devem garantir contratação emergencial de profissionais para aliviar a sobrecarga da rede, em centros de saúde e ambulatórios, bem como garantir medicações e insumos que estão com sua demanda aumentada, devido à emergência climática. Em termos de prevenção individual, Orellana recomenda a distribuição, pelos órgãos de saúde estadual e municipal, de máscaras N95 ou PFF2 para grupos prioritários, incluindo trabalhadores ambulantes, entregadores de aplicativo, trabalhadores da limpeza pública, guardas de trânsito e do transporte coletivo, por exemplo.
Evitar atividades ao ar livre, sobretudo corridas ou esportes coletivos como futebol, beber muita água e procurar ambientes ventilados, distantes de áreas de intenso trânsito veicular ou com outras fontes de fumaça tóxica devem ser orientações divulgadas amplamente pelos meios de comunicação, segundo o epidemiologista. “Quando em casa, fechar portas e janelas, garantindo a ventilação moderada e umidade com aparelhos específicos ou panos úmidos e bacias com água. Quando possível, instalar filtros do tipo HEPA nos aparelhos de ar-condicionado domésticos, os quais tem potencial de filtragem de material particulado. Para quem está dirigindo e pode ligar o ar-condicionado, acionar o sistema de circulação interna do ar, evitando a entrada de mais ar de má qualidade”, adverte Jesem.
Em caso de sintomas potencialmente associados a poluição, procurar o serviço de saúde mais próximo, em busca de suporte e orientação. O pesquisador defendeu também o endurecimento da legislação e principalmente rapidez na punição dos criminosos. “Sabemos que na maioria das vezes os incêndios são de origem criminosa, de certa forma, a histórica explosão de queimadas está sendo impulsionada pela quase certa expectativa de impunidade, especialmente em locais onde o agronegócio pode avançar ainda mais”, afirmou, acrescentando que o rastreamento da origem de minérios e madeira ilegal, bem como do gado e grãos que abastecem grandes frigoríficos ou exportadores, é um caminho para inibir a degradação da Amazônia sob a falaciosa suposição de progresso e riqueza para o país.
“Em termos de enfrentamento direto, aumento ainda maior de forças especiais para o combate de incêndios, especialmente em regiões críticas e com poucos recursos financeiros, humanos e de infraestrutura”, orienta Orellana, que recomenda também a adoção do sistema de trabalho remoto remoto, pois garante a redução da circulação de veículos, fonte importante de poluentes do ar, bem como, ajuda a proteger a saúde da população geral, promovendo economia de energia elétrica e gastos evitáveis com atenção médica de trabalhadores adoecidos pela fumaça tóxica. “Também deveríamos ter suspendido aulas presenciais nas escolas e universidades”, afirmou.
Os efeitos, de acordo com Jesem, já são sentidos de imediato ou o serão em curto prazo. “Muitas pessoas apresentam sinais e sintomas como tosse, cansaço, crises de rinite alérgica, respiração ofegante ou sensação de falta de ar, rouquidão, ressecamento ou irritação na garganta e olhos ou mesmo lacrimejamentos e sangramento nasal, em caso de estiagem associada com baixa umidade do ar. Em médio prazo, os efeitos negativos da fumaça podem atuar como uma espécie de gatilho para crises de asma, doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC), enfisema pulmonar, bronquite ou mesmo problemas pulmonares em pessoas com histórico de fibrose pulmonar ou cística, por exemplo. Também podem agravar ou impulsionar problemas como infarto agudo do miocárdio e acidente vascular cerebral. No longo prazo, há indícios que a exposição crônica possa levar ao câncer de pulmão, por exemplo”, alertou.
ILMD/Fiocruz Amazônia, Por Júlio Pedrosa
Foto: Arquivo / Fiocruz Amazônia