Fiocruz Amazônia realiza Aula Inaugural do Mestrado em Saúde Coletiva para indígenas do Alto Solimões

O Instituto Leônidas & Maria Deane (ILMD/Fiocruz Amazônia) realiza na próxima segunda-feira, 14/08, no Auditório da Universidade do Estado do Amazonas (UEA), em Tabatinga, a Aula Magna de abertura do primeiro curso de Mestrado em Saúde Coletiva, na modalidade Sala Estendida (realizado fora da sede da instituição) voltado exclusivamente para indígenas do Alto Solimões. No total, 52 candidatos de diferentes etnias e municípios da região se submeteram ao processo seletivo do curso, que resultou no preenchimento das 15 vagas oferecidas nesta iniciativa inédita de formação strictu senso fora da sede do Programa de Pós-Graduação em Condições de Vida e Situações de Saúde na Amazônia (PPGVIDA). A aula magna será proferida pela diretora da Fiocruz Amazônia, Adele Schwartz Benzaken. A matrícula dos aprovados ocorrerá nos dias 14 e 15/08, na sede da UEA em Tabatinga. O processo seletivo reuniu tikunas, kambebas, kaikanas, marubos, kokamas e kanamaris, dos municipios de Tabatinga, Benjamim Constant, Atalaia do Norte, Amaturá e Santo Antônio do Içá.

A coordenadora geral de educação da Vice-Presidência de Educação, Informação e Comunicação (VPEIC| Fiocruz), Cristina Guilam, afirma que o mestrado tem o objetivo de fortalecer o Sistema Único de Saúde da Amazônia e oferecer ao discente a formação necessária para o desenvolvimento de pesquisas de interesse para a região. “Embora tenhamos ações afirmativas em todos os níveis e modalidades de educação na Fiocruz, essa turma voltada especificamente para os povos indígenas, visa reduzir as desigualdades do ponto de vista de formação educacional, com a oferta de disciplinas de relevância a este grupo populacional”, comenta Guilam.

O curso é resultado de um esforço conjunto desenvolvido entre instituições de ensino e de fomento à pesquisa, tendo como coordenadora a docente e pesquisadora em Saúde Pública da Fiocruz Amazônia, Luiza Garnelo. O objetivo é qualificar indígenas graduados em diversas áreas de conhecimento para que possam atuar no campo da saúde coletiva e desenvolver atividades, atuando nas instituições que existem na região e contribuindo para melhoria da prestação dos serviços em saúde indígena e na própria atenção primária do município. “Como sanitarista indígena, os profissionais podem atuar de forma qualificada na implantação de atividades de monitoramento, avaliação, vigilância em saúde e processos investigativos que são necessários para subsidiar e melhorar a qualidade das ações de Saúde”, explica Luiza Garnelo.

A iniciativa é do Instituto ILMD/Fiocruz Amazônia e conta com apoio da Universidade do Estado do Amazonas (UEA) e financiamento da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas (Fapeam), que concedeu 15 bolsas mais recursos para auxilio em pesquisa para os indígenas aprovados, e do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPQ), por meio de projeto aprovado pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação. Será a primeira vez que serão oferecidas vagas exclusivas para formação de sanitaristas indígenas, de forma presencial e na modalidade sala estendida, pelo PPGVIDA. Para Adele Benzaken, o Mestrado é um marco na história do Instituto Leônidas & Maria Deane (ILMD/Fiocruz Amazônia) – que neste mês de agosto completa 29 anos de existência – e no processo de interiorização da formação continuada, concretizando um desejo antigo de vencer os desafios logísticos para oferecer essa oportunidade de qualificação em áreas remotas do Estado do Amazonas.

Adele Benzaken destaca o ineditismo e a relevância do curso no processo de valorização do conhecimento tradicional. indígena e na abertura de oportunidades para a formação de sanitaristas indígenas, compromisso assumido dede que assumiu a direção do ILMD/Fiocruz Amazônia e tomou conhecimento da iniciativa, se empenhando em viabilizar as parcerias necessárias para a concretização do mestrado, com dois anos de duração. “Sem o apoio fundamental de parceiros como a Fapeam, o CNPQ e as universidades, não seria possível alcançar esse objetivo”, salienta.

Rosana Parente, vice-diretora de Ensino, Informaçao e Comunicação do ILMD/Fiocruz Amazônia, afirma que, para oferecer o curso, foram necessárias adaptações específicas para atender às singularidades culturais e sociais dos povos indígenas que vivem na Amazônia. “Chegamos a realizar o Curso de Aperfeiçoamento e Etnicidade, Sustentabilidade e Saúde Coletiva na Tríplice Fronteira da Amazônia, que foi uma etapa preparatória ao Mestrado do Programa de Pós-Graduação em condições de Vida e Situações de Saúde na Amazônia (PPGVIDA), com carga horária de 200 horas”, lembrou Rosana.

Luiza Garnelo destaca que a expectativa da Fiocruz Amazônia, enquanto entidade formadora, em relação à primeira turma de mestrado, é da consolidação do projeto de interiorização das ações de pós-graduação na área de saúde coletiva. “Tivemos ao longo da última década o grande desafio de implantar cursos de saúde coletiva. O primeiro curso de Saúde Coletiva na Amazônia Ocidental foi o nosso (PPGVIDA), depois conseguimos caminhar para o Doutorado e agora estamos dando um passo ousado de interiorizar as ações de pós-graduação strictu senso em saúde coletiva em áreas de difícil acesso, regiões remotas de fronteira”, explica.

Em relação ao desempenho dos estudantes, de acordo com a pesquisadora, a expectativa é de que eles consigam se qualificar para desenvolver atividades de saúde coletiva e atuar nas instituições que existem na região. “Tivemos candidatos de todas as áreas de conhecimento, de ciências humanas, ciências naturais, ciências biológicas, ciências exatas, área da saúde, pessoas que fizeram um grande esforço de ordem pessoal, para participarem do processo seletivo. Vimos uma grande adesão dos candidatos aos problemas de saúde concretos existentes em suas localidades de origem, o que tornou o processo seletivo extremamente instigante. São pessoas que valorizam muito a iniciativa da nossa instituição, de interiorizar a pós-graduação”, observou.

Na opinião de Garnelo, além de instigante, o processo seletivo ao Mestrado Indígena foi desafiador e gratificante. “Foi desafiador porque não é uma tarefa tão simples fazer um processo seletivo com essa heterogeneidade de candidatos e propostas que surgiram aqui em Tabatinga, e gratificante porque nós vimos numa grande adesão dos candidatos aos problemas de saúde concretos que têm em suas localidades. São pessoas profundamente motivadas em fazer uma capacitação para auxiliar na resolução dos problemas, para tornar a vida das pessoas um pouco melhor, na aplicação das suas habilidades em prol do bem-estar coletivo”.

Segundo a pesquisadora, a qualificação proporcionada pelo curso tem a potencialidade de aprimorar bastante a organização do trabalho em saúde, monitoramento, vigilância epidemiológica, melhoria dos processos de gestão e administração dos serviços de saúde, cumprimento de metas, geração de indicadores que permitem monitorar a qualidade e efetividade das ações. “Esse é o tipo de conteúdo que vai gerar aprendizado no curso de Saúde Coletiva”, finalizou.

ILMD/Fiocruz Amazônia, por Júlio Pedrosa

Fotos: Júlio Pedrosa