Parteiras tradicionais do Amazonas instituem legalmente associação Algodão Roxo

A 4ª.  Reunião Ordinária da Associação de Parteiras Tradicionais do Estado do Amazonas – Algodão Roxo (Aptam) encerrou nesta sexta-feira, 3/9, com a constituição legal da sociedade. A assinatura dos documentos foi feita durante encontro realizado no Salão Canoas, do Instituto Leônidas & Maria Deane (ILMD/Fiocruz Amazônia).

O evento iniciou na quarta-feira, 1/9, e foi organizado pela equipe do Laboratório de História, Políticas Públicas e Saúde na Amazônia (Lahpsa), sendo um desdobramento do Projeto Redes Vivas, coordenado pelo pesquisador Júlio Schweickardt.

A abertura da atividade foi feita pela diretora do ILMD/Fiocruz Amazonia, Adele Benzaken, que destacou a importância do trabalho das parteiras no Amazonas e da necessidade do engajamento para conquistas sociais. “Que esse movimento se transforme cada vez mais numa rede de pessoas engajadas, que buscam os mesmos objetivos, e que estimule a inserção de outras parteiras que atuam no estado. Fico feliz de saber que temos representantes de várias localidades”, comentou.

O encontro durou três dias e ofereceu três oficinas: de apresentação de kits de saúde reprodutiva doados pelo Fundo de População das Nações Unidas (Unfpa); de planejamento para uso de plantas medicinais; e planejamento para troca de saberes. Além dessas atividades, aconteceram outras de planejamento, de prestação de contas e a formalização da Aptam-Algodão Roxo.

“A gente já está há bastante tempo para formalizar essa associação, mas ela já existe na prática. Elas estão atuando politicamente, tiveram conquistas bem importantes, como a lei estadual do Dia da Parteira, a Lei do Acompanhante também aprovada pela Assembleia Legislativa do Amazonas, recursos aprovados por meio de emenda parlamentar, além de tudo, elas têm um trabalho belíssimo nas comunidades do interior.  A Associação passa a ser a voz delas”, ressaltou Júlio Schweickardt.

FORMALIZAÇÃO DA APTAM-ALGODÃO ROXO

Ao final do encontro foram assinados pela parteira Tabita dos Santos Morais, presidente da associação, os documentos de instituição da Aptam-Algodão Roxo.

Emocionada, ela falou dos desafios enfrentados pelas parteiras especialmente no momento de agravamento da Covid-19 no Amazonas, e da relevância da conquista da formalização da Associação.

“Esse é um momento histórico, marcante, que vai ficar para o resto da minha vida e para os meus netos e bisnetos, enquanto eu puder contar o que aconteceu, que eu tive o privilégio de estar aqui nesse momento, pelas lutas que temos passado e em meio a essa pandemia, mas nós conseguimos continuar em frente e novamente estamos aqui realizando o maior sonho de muitas parteiras que vieram antes de mim e que virão depois de mim. Isso é um legado que nós vamos deixar e que vai ser passado de geração em geração, que isso não morra e que nunca seja esquecido. Esse é um momento de gratidão e emoção de estar aqui hoje e poder realizar esse sonho, das pessoas que se foram sem conseguir. Nós existimos e nós podemos, mesmo sendo leigas e no anonimato, nós podemos também fazer a diferença”, disse Tabita Morais.

PESQUISA

O projeto Redes vivas e práticas populares de saúde: conhecimento tradicional das parteiras e a educação permanente em saúde para o fortalecimento da rede de atenção à saúde da mulher no Estado no Amazonas, do Lahpsa-ILMD/Fiocruz Amazônia conta também com a colaboração da pesquisadora Camila Pimentel, do Departamento de Saúde Coletiva do Instituto Aggeu Magalhães/Fiocruz-PE.

“Historicamente as parteiras vêm perdendo espaço de atuação profissional. Desde o doutorado que eu estudo a atenção ao parto na cidade de Recife, no movimento de humanização ao parto, um movimento que reconhece a atuação das parteiras, e que trabalha numa atualização, numa troca de saberes. Então, é muito importante esse diálogo da Fiocruz Pernambuco com a Fiocruz Amazônia”, comentou.

Para Júlio Schweickardt, o apoio da Fiocruz ao trabalho das parteiras é de suma relevância. “O fato da gente estar apoiando e reforçando isso, para nós é um motivo de muita alegria, porque a gente vê que essas mulheres precisam sim do apoio de todos nós, e o apoio de uma instituição como a Fiocruz é relevante e importante, porque passa a ser uma instituição que dá o acompanhamento, o apoio estratégico e logístico ao trabalho delas, dessa forma desempenhamos o nosso papel como pesquisador, mas também como cidadão que quer uma melhoria da saúde da população do estado e da região Norte como um todo”.

Foram parceiros dessa atividade a Secretaria de Estado de Saúde do Amazonas (SES-AM) e o Fundo de População das Nações Unidas (Unfpa).

ILMD/Fiocruz Amazônia, por Marlúcia Seixas
Fotos: Marlúcia Seixas