Oficina do Pólo Manaus do Projeto Começo Meio Começo fortalece Política Nacional de Saúde Integral das Populações do Campo, da Floresta e das Águas na Amazônia
O Projeto Começo Meio Começo, desenvolvido pela Fiocruz Amazônia, em parceria com o Ministério da Saúde, realizou, em Manaus, entre os dias 10 e 12/09, a quinta e última trilha do curso de formação destinado a trabalhadoras e trabalhadores da saúde pública em diferentes territórios com a finalidade de promover o fortalecimento da Política Nacional de Saúde Integral das Populações do Campo, da Floresta e das Águas na Amazônia. Com um total de 100 participantes, o curso aconteceu no Hotel Tropical Business, na Ponta Negra, reunindo profissionais de saúde de dez municípios – Barcelos, Canutama, Iranduba, Lábrea, Manaus, (zona urbana e rural), Presidente Figueiredo, Rio Preto da Eva, Santa Isabel do Rio Negro, Tapauá e Carauari. A formação foi o segundo encontro presencial da Trilha 5, do projeto, no Pólo Manaus, com vistas à capacitação de trabalhadores e trabalhadoras que atuam no cuidado em saúde das populações do campo, das florestas e águas.

O Projeto Começo Meio Começo tem por objetivo desenvolver um processo de educação permanente em oito estados da Amazônia Legal voltado para a implementação efetiva da política nacional de saúde para campos, florestas e águas. O projeto abrange um total de 255 municípios e 858 equipes de saúde, já tendo formado diretamente mais de 2.400 trabalhadores e trabalhadoras do Sistema Único de Saúde. Somente no Estado do Amazonas foram contemplados 60 municípios e mais de 700 profissionais. “Devemos entender que a educação pode transformar a vida do indivíduo. Neste sentido, tê-los aqui, na capital, para participar de um curso, oferecido pelo Ministério da Saúde em parceria com a Fiocruz Amazônia, é uma oportunidade de qualificação, que cada um levará para o território onde vive, ampliando os horizontes e permitindo pensarem políticas públicas para o sistema de saúde”, afirmou o vice-diretor de Educação, Informação e Comunicação, da Fiocruz Amazônia, Claudio de Oliveira Peixoto, durante a abertura da oficina.

Representando a Coordenação de Acesso à Equidade da Secretaria Nacional de Atenção Primária do Ministério da Saúde, a assessora técnica Cibele Lima dos Santos reforçou a importância da formação como referência para a política pública de saúde das populações dos campos, florestas e águas. “Começamos aqui na Amazônia porque entendemos que era chegada a hora de fazermos essa reparação histórica com as populações dos territórios amazônicos. A Política Nacional de Saúde Integral das Populações dos Campos, Florestas e Águas na Amazônia surgiu do anseio de movimentos sociais e é muito cara para o Ministério da Saúde. Ela resultou de um processo de construção coletiva que reuniu várias instituições, que juntos pensaram essa política para populações com modos de vida diferentes”, afirmou Cibele, destacando que a formação incentiva o cuidado a essas populações.

A assessora técnica do MS destacou ainda a capacidade de articulação da Fiocruz Amazônia para a realização das formações do projeto. “A Fiocruz Amazonia topou essa empreitada, enfrentando todos os desafios para chegarmos até aqui, principalmente as barreiras geográficas dos territórios, entregando um produto como esse material tão bem elaborado e com um olhar tão sensível, mostrando que é preciso pisar no chão para conhecer as diferentes realidades”, afirmou Cibele, referindo-se à publicação dos cadernos so curso “Formação de Trabalhadores e Trabalhadoras que Atuam no Cuidado em Saúde da População do Campo, da Floresta e das Águas”.
“Esses cadernos têm que estar na ponta de língua de quem trabalha nos campos, florestas e águas, bem como das pessoas que vivem nesses territórios. Para o SUS, saúde é direito de todos e estamos muito agradecidos por vocês terem deixado os seus territórios e estarem aqui”, afirmou. O material produzido a partir das experiências do Começo Meio Começo na Amazônia será referência para as demais regiões do País, para onde o projeto será expandido.

Para a coordenadora pedagógica do Começo Meio Começo, Viviane Lima Verçosa, a realização das oficinas só foi possível graças à articulação com as secretarias municipais de saúde, por meio dos Conselhos de Secretarias Municipais de Saúde (Cosems), de cada estado. “O curso envolve as diferentes dimensões do nosso SUS. O processo de construção da proposta envolveu uma articulação com a gestão municipal e estadual nos estados, sendo fundamental a colaboração dos Conselhos de Secretarias Municipais de Saúde (Cosems), que nos apoiam na divulgação e sensibilização junto aos gestores municipais. Do mesmo modo, as Secretarias Estaduais de Saúde têm sido outro ponto de apoio para o processo de adesão da proposta”, observou.
A quinta e última trilha, segundo a coordenadora pedagógica, é a etapa da formação que busca aprofundar o conhecimento acerca da política nacional e promover a inclusão das populações dos campos, florestas e águas, tão invisibilizadas. “Nos territórios sobre os quais falamos, há também saberes que podem contribuir com a qualificação do trabalho no SUS em todos os lugares e, por isso, o convite é para que aprendamos e compartilhemos o que estiver na nossa caminhada. A formação, para além de um curso, é uma oportunidade de transformarmos o nosso pensamento para a produção de um cuidado compartilhado e situado. A formação é para ser sentida, vivida, dialogada e compartilhada”, pontuou.

No processo formativo, a Trilha 1 propõe uma discussão sobre a Cartografia dos Territórios; a Trilha 2 aborda o trabalho situado: coletivos de trabalho, produção de saúde e os usuários guias; na Trilha 3 discorre-se sobre os temas geradores para aprendizagem embasada em projetos e temas transversais em um projeto cuidador situado; na Trilha 4, propomos o Projeto Territorial Situado: clínica do cuidado, trabalho em equipe e histórias de mudanças, inclusive, com o compartilhamento de histórias de trabalho e de pessoas que vivem nos territórios de atuação. Por fim, a Trilha 5, destaca a relevância da Política Nacional de Saúde Integral das Populações do Campo, Florestas e Águas, entendendo a pluralidade dos nossos territórios e populações.

“Esta política, criada pelo Sistema Único de Saúde, em resposta às lutas travadas pelas populações desses territórios, marca o limite que precisa sempre ser superado para atualizar a potência do fazer saúde como trabalho vivo em ato, é necessário avançar no cotidiano da atenção à saúde nos territórios, ampliar a compreensão dos modos de viver nesses espaços e saltar novas configurações de trabalho, por este motivos estamos nesta caminhada, fecundar a política com o cotidiano nos territórios é a meta da trilha 5”, enfatizou Viviane Verçosa. As oficinas do Polo Manaus foram conduzidas pelo facilitador Claudecir Siqueira de Portela.

Entre os presentes à formação, estavam agentes comunitários de saúde (ACSs), enfermeiros, médicos e gestores que atuam nos campos, florestas e águas. “Quantos aqui estão se lembrando dos remédios caseiros preparados por nossas mães e avós, e sentindo-se acolhidos, lembrando da nossa vida em família e nas comunidades, onde trabalhamos e atuamos com pessoas que sempre vão citar as propriedades das folhas, raízes e frutos que trouxemos para simbolizar os nossos territórios e mostrar que amamos o que fazemos”, comentou Neirilene Viana do Norte, que é coordenadora dos ACS da comunidade Jatuarana, situada à margem esquerda do Rio Amazonas, zona rural de Manaus. Para o agente comunitário de saúde Robert Bentes Rocha Rodrigues, que atua junto aos moradores da Parque das Tribos, participar da formação foi uma oportunidade ímpar de reconhecer a importância do modo de vida e saberes dos comunitários indígenas do território onde trabalha. “Cada quintal de cada morador tem um remédio, uma erva que o representa”, salientou.
ILMD/Fiocruz Amazônia, por Júlio Pedrosa
Fotos: Júlio Pedrosa