Expedição do Projeto Diagnóstico Situacional das UBS Fluviais visita embarcações que atendem a zona ribeirinha de Manaus
O Projeto Diagnóstico Situacional das UBS Fluviais, desenvolvido pelos parceiros Projeto Saúde e Alegria, Fiocruz Amazônia, Universidade Federal do Pará (UFPA) e Ministério da Saúde, deu início às expedições de avaliação das condições de funcionamento das UBS fluviais que atendem as comunidades rurais ribeirinhas na Amazônia. O trabalho de campo nesta primeira fase iniciou no último dia 17/03, contando com nove equipes cobrindo Expedições Marajó, Belém, Rio Tocantins, Pará-Amapá, Médio e Alto Solimões e Rio Negro. A equipe responsável pela calha do Rio Negro realizou o trabalho nos dias 17 e 18/03, em Manaus, com visitas às Unidades Básicas de Saúde Fluviais Antonio Levino e Ney Larcerda, mantidas pela Secretaria Municipal de Saúde (Semsa-Manaus). A atividade, coordenada pelo cirurgião dentista Claudivan Mello, incluiu aplicação de questionários, avaliação estrutural das condições de atendimento e de navegação das embarcações, além de entrevistas aos profissionais de saúde e usuários dos serviços oferecidos pelas duas UBS Fluviais.
Para Claudivan Mello, a primeira experiência foi bastante positiva. “Encontramos uma equipe superqualificada e empenhada com os objetivos da Estratégia de Saúde Fluvial e, também, com a finalidade do projeto. Estamos todos entusiasmados com a pesquisa e, como equipe, unidos para superar os desafios que virão”, afirmou o coordenador. Segundo ele, a equipe se saiu muito bem na aplicação dos instrumentos de pesquisa (questionários no sistema REDCap), fechando o primeiro módulo de avaliação no município de Manaus. A equipe é formada pela nutricionista e especialista em Estratégia de Saúde na Família, Ingrid Tomé de Souza, que atua como pesquisadora em saúde; o tecnólogo naval Alberto Coelho (pesquisador naval) e a sanitarista Fernanda Fernandes (assistente de campo).
Como resultado do trabalho, será produzido um relatório de ambiência e avaliação estrutural das embarcações. Claudivan explica que, para cada expedição realizada, será necessário um planejamento prévio que inclui agendamento das entrevistas com os coordenadores de saúde, bem como com os profissionais que atuam no atendimento às comunidades. “Nesta primeira atividade, tivemos que avaliar duas embarcações utilizadas na implementação da estratégia de saúde na família, e para aplicar as entrevistas com usuários e ACS das duas equipes, foi preciso articular a vinda de um usuário ao ponto de embarque (Porto do São Raimundo) e aproveitarmos a reunião de alinhamento da viagem para entrevistar os ACS”, relata.
A expedição Manaus/Madeira vai visitar 12 municípios das calhas dos rios Amazonas, Negro, Solimões, Purus e Madeira. “Estamos entrando em contato com os secretários municipais de Saúde, para articular cada atividade, que terá um total de três dias para cada município, e buscando agendar as entrevistas em momentos diferentes para não sobrecarregar as equipes, uma vez que a avaliação da parte estrutural das embarcações tem que ser criteriosa”, explica o coordenador.
A expedição começou pela UBSF Dr Antonio Levino, que tem 30 metros de comprimento, da rampa à popa, e é equipada com consultórios, laboratório de análises clínicas, sala de vacina, farmácia e instalações para alojamento da equipe, com capacidade para 22 pessoas. O gerente de Atenção à Saúde do Distrito de Saúde Rural da Semsa-Manaus, Francisco Santiago de Souza, destacou a importância da Estratégia de Saúde Fluvial no acompanhamento das comunidades ribeirinhas rurais. “O território do município é mais de 95% áreas rurais e esse trabalho das equipes de saúde é muito importante, porque possibilita o acesso dos ribeirinhos aos serviços de saúde oferecidos nas unidades urbanas”, explica Santiago.
Segundo ele, além das comunidades, o serviço oferece atendimento a localidades dispersas ao longo do trajeto. “Existe uma dispersão de população muito grande. Às vezes, entre um morador e outro, são quilômetros de distância e as unidades usam botes pequenos para poder chegar a pontos que a estrutura fluvial não consegue atingir”, explica, acrescentando que as duas UBSF cumprem rotas diferentes com datas alternadas e equipes de saúde próprias, sendo sempre a mesma tripulação. “A UBSF Dr Antonio Levino cobre a área do Rio Amazonas e a unidade Dr Ney Lacerda, a área do Rio Negro, com viagens mensais, que duram, em média, 10 dias. No total, atendemos 19 comunidades, entre as duas calhas (Rio Amazonas e Rio Negro), e mais cerca de 70 pequenas localidades espalhadas nesses percursos”, afirmou.
As duas embarcações possuem a mesma estrutura de consultórios para as consultas médicas, de enfermagem e odontológicas, além de laboratório e farmácia, com a carteira de medicamentos similares às oferecidas pelas unidades urbanas. Independentemente das condições do clima, as UBSF cumprem rigorosamente os cronogramas de viagens, até mesmo em período de estiagem, exigindo o uso dos botes para chegar aos locais de atendimento. A expedição foi recebida também pelo comandante das embarcações, Antônio Nascimento Tavares, e o diretor da UBSF Antonio Levino, Deronilson Silva da Cunha.
SOBRE O PROJETO
O objetivo do Projeto Diagnóstico Situacional das UBSF é identificar as condições de funcionamento das UBS fluviais que recebem financiamento do Governo Federal. O trabalho será realizado por meio de expedições às calhas dos rios nos Estados do Amazonas, Acre, Pará, Amapá e Roraima, com a aplicação de questionários que permitirão um diagnóstico completo da situação atual das UBSF. Nesta primeira fase, o projeto abrangerá um total de 51 municípios, com as expedições ao Marajó, Belém/Rio Tocantins, Pará/Amapá, Médio/Alto Solimões, Rio Negro, Parintins, Manaus, Madeira e Acre. Na segunda fase, estão previstos mais 43 municíipos de modo a cobrir as 96 embarcações. Com dois anos de duração, a pesquisa visa subsidiar projetos de reativação, ampliação e qualificação das Estratégias de Saúde Fluvial na Amazônia.
As atividades de campo foram iniciadas no dia 17/03 e deverão se estender até o mês de maio. Serão avaliadas no total 53 embarcações, ao longo das seis expedições. Após o levantamento das informações pelas equipes de campo, será feita a análise dos dados pela Fiocruz Amazônia e os apontamentos necessários em melhorias que podem ser feitas nas embarcações, tais como relocações, instalação de placas solares, sistema de diminuição de ruído, tratamento de esgotos, entre outras.
ILMD/Fiocruz Amazônia, por Júlio Pedrosa
Fotos: Michell Mello / Especial para Fiocruz Amazônia