Fiocruz Amazônia ministra curso no RN sobre bioecologia do Culicoides paraensis, o Maruim, vetor da febre Oropouche

O Instituto Leônidas e Maria Deane (ILMD/Fiocruz Amazônia), por meio do Laboratório Ecologia de Doenças Transmissíveis na Amazônia (EDTA), ministrou durante uma semana (de 16 a 20/09), a convite da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), o curso Compreendendo a Biologia, Relação Patógeno-Hospedeiro e Identificação de Maruins, do gênero Culicoides paraensis, um dos principais vetores da febre Oropouche no Brasil. O curso, ministrado pelos pesquisadores titulares em Saúde Pública da Fiocruz Amazônia, Felipe Arley Costa Pessoa e Cláudia Maria Ríos Velasquez, do EDTA, juntamente com a pesquisadora Emanuele Sousa Farias, pertencente à Rede de Compartilhamento de Dados e Informações sobre Diversidade de Arvores na Amazônia, teve uma carga horária de 36 horas e foi destinado a estudantes do Laboratório de Pesquisa em Entomologia Médica da UFRN e profissionais entomólogos da Secretaria de Saúde do Rio Grande do Norte.

O pesquisador Felipe Pessoa explica que atendeu ao convite do Laboratório de Pesquisas em Entomologia, do Centro de Biociências da UFRN, por entender a importância da identificação correta das espécies, no sentido de ajudar os técnicos dos serviços de controle a apontar onde estão, qual período, quais as espécies são atraídas pelo ambiente modificado pelo homem. “Existem provavelmente duas famílias de dipteros hematófagos que podem transmitir o vírus Oropouche: Culicidae, que são os mosquitos. No amazonas encontramos muitos mosquitos silvestres infectados com o vírus oropouche. E a família Ceratopogonidae, onde estão alocados os Culicoides, os maruins. A ecologia, a biologia dessas famílias são distintas. Existem muitas espécies e que possuem características próprias de nicho ecológico”, explica Pessoa.

O vírus Oropouche foi identificado no Brasil pela primeira vez em 1960. É transmitido por Culicoides paraensis (maruim ou mosquito pólvora) e pode causar febre com sintomas semelhantes aos de outras arboviroses, como Dengue, Chikungunya e Zika. De acordo com o pesquisador, a transmissão ocorre em ciclos silvestres e urbanos, com diferentes hospedeiros animais e humanos. A recente expansão de casos para estados do Sudeste e Nordeste, incluindo o primeiro registro no Rio Grande do Norte em 2024, destaca a necessidade de mais estudos sobre a biologia dos vetores e a relação patógeno-vetor com vistas à prevenção e controle da doença.

No curso, foram abordados aspectos sobre a bioecologia e a identificação de maruins, do gênero Culicoides. “Em áreas florestais, os mosquitos silvestres estão envolvidos na transmissão. Em área urbana, os maruins, principalmente o Culicoides paraensis, estão envolvidos na transmissão. No passado recente, Culex quinquefasciatus, o carapanã comum, já foi encontrado infectado com esse vírus e há suspeitas de que podem amplificar o vírus”, afirma Felipe. Por iniciativa da coordenadora do curso de Pós-graduação do Programa de Desenvolvimento e Meio Ambiente da UFRN, Fátima Ximenes, foram convidados representantes da Secretaria de Estado da Saúde para participar da capacitação, principalmente no que diz respeito à identificação dos Culicoides, como coletá-los, montagem de lâminas, uso das chaves de identificação, além de aspectos teóricos da bioecologia do vetor e do vírus.

Felipe Pessoa salientou também que vem desenvolvendo estudo sobre a interação do Culex com o vírus Oropouche, em parceria com o também pesquisador da Fiocruz Amazônia Pritesh Lawani, que é virologista. “O modelo é experimental, com Culex colonizado e vírus mantidos em meio de cultura. Queremos compreender taxas de infecção, período de desenvolvimento de replicação do vírus no inseto, invasão do vírus em glândula salivar, além de compreender o mecanismo básico de interação, para, a partir daí, darmos os passos seguintes em direção a medidas preventivas de bloqueio de infecção no vetor e respostas a perguntas sobre vacinas”, explicou.

ILMD/Fiocruz Amazônia, Por Júlio Pedrosa

Fotos: Divulgação / Fiocruz Amazônia