Fiocruz e OPAS capacitam laboratórios de países da América do Sul no diagnóstico molecular e vigilância genômica do vírus Oropouche

A Fiocruz Amazônia e a Organização Panamericana de Saúde (OPAS/OMS) encerraram nesta sexta-feira, 3/05, em Manaus, o Workshop Internacional que reuniu profissionais que atuam em laboratórios de vigilância de arbovírus de países da América do Sul, como estratégia para ampliar o monitoramento do avanço dos vírus Oropouche e Mayaro no continente sul-americano. De acordo com o virologista Felipe Naveca, chefe do Laboratório de Arbovírus e Vírus Hemorrágicos do Instituto Oswaldo Cruz (IOC) e do Núcleo de Vigilância de Vírus Emergentes, Reemergentes e Negligenciados da Fiocruz Amazônia, o workshop aconteceu no local e momento corretos, por conta das características em comum entre os países da América do Sul principalmente os da região amazônica internacional, o que permitirá uma análise do potencial epidêmico da doença, a partir de diagnósticos e surgimento de variantes.

“Pelas características da América do Sul, de maneira geral, é praticamente certo que esses vírus estejam circulando em outros países da região, especialmente o Oropouche, isso sem o devido diagnóstico e monitoramento genético. A ideia do workshop foi justamente de ajudá-los a conseguir iniciar o diagnóstico nos seus países, o que é extremamente importante no momento em que o Brasil está vivendo hoje, com mais de 4 mil casos de febre Oropouche confirmados em diversos estados”, afirma Naveca, Segundo o virologista, os países sul-americanos, dentre os participantes do workshop, que ainda não confirmaram a circulação do vírus Oropouche certamente passarão a fazê-lo a partir da capacitação em vigilância genômica, oferecida em parceria com a OPAS/OMS.

Participaram do curso profissionais da Bolívia, Equador, Guiana Inglesa, Paraguai, Peru, Suriname e Venezuela. A consultora internacional da OPAS, Mariela Martínez Gómez, que esteve presente ao workshop, entende que, para os países participantes, o workshop foi uma oportunidade enriquecedora, pela experiência da Fiocruz Amazônia, em especial da equipe do virologista Felipe Naveca, “que possui ampla e longa trajetória trabalhando com arbovírus”, destacou.

““A capacitação focou não somente na detecção, como também em relação ao sequenciamento desses vírus, o que é superimportante, pois sabemos que hoje a genômica é uma parte fundamental do sistema de vigilância, composto ainda pelas vigilâncias epidemiológica, laboratorial, bem como da área clinica”, afirmou Mariela. Segundo a consultora, alguns dos laboratórios que estão participando já tinham o conhecimento de como era feita a detecção. “Inclusive. o Dr Felipe já tinha ido até ao Suriname, para capacitação na detecção desses vírus, mas, agora, essa etapa da capacitação agregou a genômica. Eles tiveram o protocolo necessário para obter genomas completos desses vírus, quando eles forem detectados nos seus países”, disse.

Mariela enfatizou ainda que a vigilância genômica é uma ferramenta que traz resposta para várias perguntas. “É possível saber de onde esses vírus vem, como evoluíram, dados importantes para a atualização das ferramentas de diagnóstico que utilizamos, principalmente as ferramentas moleculares”. O workshop teve cinco dias de duração e contou com parte teórica e prática, com a participação do pesquisadores da Fiocruz, do Instituto Oswaldo Cruz e da Cornell University.

PARTICIPANTES

Adolfo Ismael Marcelo Ñique; Phyllis Pina e Jessica Enzuman, respectivamente do Peru, Suriname e Bolívia, participaram do workshop e ficaram bastante satisfeitos. De acordo com Adolfo Marcelo, no Instituto Nacional de Salud, no Peru, já se trabalha com o diagnóstico molecular por PCR, em tempo real. Em breve, será implantada a vigilância genômica de arboviroses. Segundo ele, o Peru passa por um surto de Oropouche. “Temos seis regiões das 23 do país com presença de oropouche e nas últimas três semanas houve um aumento considerável de casos, em seis novas regiões. Então, a presença de Oropouche no Peru se tornou um problema da saúde pública e está sendo considerada como uma doença reemergente”, observa.

Assim como ele, a chefe do Central Laboratory of the Bureau of Public Health, do Suriname, Phyllis Pinas, comenta que já conhecia o diagnóstico do PCR em tempo real, apresentado pelo Dr Felipe Naveca, quando esteve no Suriname, em outubro de 2023, juntamente com a pesquisadora Matilde Contreras. “A parte do PCR em tempo real não foi algo novo para mim, por conta do treinamento do ano passado, mas a parte de sequenciamento genômico é totalmente nova, porque no centro onde estou trabalhando, não estamos sequenciando os genomas”, salienta.

Conforme Phyllis, por enquanto, ainda não foram registradas ocorrências de  Oropouche ou Mayaro no país. Porém, ela não descarta que haja casos de pessoas infectadas pelo vírus. “Apesar do processo de sequenciamento demandar alguns recursos, tornando-o um pouco oneroso, os resultados são muito bons, mostrando quais vírus estão realmente circulando pelo país, auxiliando também sobre quais medidas de saúde pública devem ser adotadas”, adiantou.

Representante do Instituto Nacional de Laboratórios em Saúde (Inlasa), Jéssica Enzuman, destaca que, na Bolívia, também está ocorrendo um surto do vírus Oropouche. “Temos mais de 150 casos registrados e não é algo incomum, não é algo novo para nós e estamos trabalhando para implementar, não só o diagnóstico, mas também o sequenciamento genético. O curso incluiu ambos e estamos muito satisfeitos em participar deste treinamento oferecido pelas OPAS, em parceria com a Fiocruz Amazônia”, pontua.

Segundo Jessica, a ideia ao retornar à Bolívia é a de implementar ambas as técnicas – de diagnóstico e sequenciamento – para poder responder com agilidade e precisão a identificação dos casos, mediante a possibilidade de um surto de Oropouche.

ILMD/Fiocruz Amazônia, por Júlio Pedrosa

Fotos: Eduardo Gomes