Fiocruz Amazônia alerta para efeito devastador das queimadas para a biodiversidade e a floresta do ponto de vista da Saúde Única

A médica veterinária e pesquisadora em Saúde Pública do Instituto Leônidas & Maria Deane (ILMD/Fiocruz Amazônia), Alessandra Nava, faz um alerta para o efeito devastador das queimadas, cuja fumaça há dias encobre diversas cidades do Estado do Amazonas. Segundo ela, seres humanos e animais estão sendo “envenenados”, por conta da atitude criminosa de quem queima quilômetros de floresta para ocupação ilegal. “Os hospitais estão lotados de pessoas, principalmente crianças com problemas respiratórios. Porém, as queimadas criminosas que estão ocorrendo no Estado afetam diretamente a saúde humana e animal, causam perda de biodiversidade e da floresta – e dos preciosos serviços ecossistêmicos que a floresta e sua biodiversidade provêm”, destaca a veterinária.

Alessandra considera a ocorrência um problema grave, complexo, de múltiplas consequências, o que demonstra como a abordagem em Saúde Única (One Health) é importante, na promoção, prevenção e resolução de problemas. “A Saúde Única tem como base a premissa de que estamos todos interligados: sufoca gente, queima bicho, sofre a floresta e perdemos todos com isso, mesmo quem está botando fogo pra lucrar”, salienta, alertando que as queimadas e os múltiplos problemas decorrentes desta afetarão mais duramente um  recorte da população, que já se encontra em situação de vulnerabilidade devido à dificuldade de acesso a serviços de saúde, água potável e insegurança alimentar, decorrentes da seca severa que afeta os rios.

“Para essas pessoas, o acolhimento é emergencial e tem que ser abordado imediatamente. Para agravar essa situação, estamos sofrendo uma das maiores secas dos últimos anos no Amazonas, exacerbada pela crise climática e o El Niño (fenômeno que causa o aquecimento anormal das águas do Pacífico e altera temporariamente a distribuição de umidade e calor no Planeta, principalmente na zona tropical). Peixes e mamíferos marinhos morrendo no rio que seca e ferve e onde a temperatura aumentou 7 graus na mesma época de um ano a outro”, explica a veterinária, referindo às possíveis causas da morte de botos que ainda está em investigação.  “Em relação aos mamíferos marinhos, pelo menos a gripe aviária já foi descartada”, observa.

POLUENTES

Para a médica veterinária, a inalação contínua de poluentes como o monóxido de Carbono, e material particulado podem causar problemas sérios de saúde para a população. “O material particulado PM 2.5, são partículas muito finas que podem ter o diâmetro de 2.5 mícrons ou até menos e tem capacidade de penetrar profundamente nos pulmões causando graves problemas respiratórios, podendo afetar outros órgãos e inclusive podendo causar acidentes vasculares cerebrais (AVC). É urgente que nossos gestores, a sociedade civil e seus atores estejam atentos a crimes ambientais, que privatizam os lucros e socializam enormemente os prejuízos. Devemos denunciar as queimadas ilegais pressionar ações de prevenção desses crimes”, frisou.

ILMD/Fiocruz Amazônia, por Júlio Pedrosa

Foto: Júlio Pedrosa