Fiocruz alerta para impacto da pandemia sobre o tratamento de pessoas vivendo com HIV/Aids

A diretora da Fiocruz Amazônia, Adele Benzaken, fez um alerta para o impacto da pandemia de Covid-19 sobre o tratamento de pessoas vivendo com HIV/Aids no Brasil, durante seminário on line realizado nesta quarta-feira, 17/11, pelo Instituto de Estudos Avançados da Universidade de São Paulo e Centro de Referência e Treinamento DST-Aids-SP. Adele apontou como um dos reflexos diretos da situação a estimativa de que, de acordo com o Programa das Nações Unidas para Aids (Unaids), ao final de dois anos de pandemia, teremos globalmente cerca de 230 mil novos casos de infecção pelo HIV e 140 mil mortes adicionais pela doença, devido principalmente à chegada tardia das pessoas ao sistema de saúde para diagnóstico e tratamento do HIV.

Para a médica, ex-diretora do Departamento de IST/AIDS e Hepatites Virais do Ministério da Saúde, faltou ao Governo Federal a sensibilidade de utilizar a expertise da resposta nacional ao HIV para lidar com a pandemia da Covid-19. “O Ministério da Saúde tinha a expertise para lidar com uma melhor resposta à Covid-19, por possuir uma rede de biologia molecular já estabelecida em todo o Brasil, que faz exames de CD4 e carga viral do HIV, e mesmo a rede de tuberculose, que poderiam desde o início ter subsidiado uma melhor resposta no diagnóstico da Covid-19”, afirmou Benzaken, citando ainda a experiência em farmacolovigilância e monitoramento de eventos adversos, que seria de suma importância no cenário de implementação da vacina contra a Covid-19.

Outro dado preocupante, segundo Adele, é o da redução do número de testagem para HIV em muitos países, entre os quais o Brasil. No caso da epidemia do HIV/Aids, os apresentadores tardios, como são chamadas as pessoas que se apresentam tardiamente ao serviço de saúde com contagem de CD4 abaixo de 350, são certamente as principais causas para a queda acentuada no número de diagnósticos e encaminhamentos para serviços de cuidados e início do tratamento de HIV. “No Brasil, a redução da testagem durante a pandemia poderia ter sido mitigada pela distribuição de autoteste de HIV, que está incorporado no SUS e que está tendo uma distribuição menor que no ano sem pandemia”, admite a cientista.

Segundo dados do Relatório de Monitoramento Clínico das pessoas vivendo com HIV no Brasil, houve uma diminuição de 23% e 22% no número de pessoas vivendo com HIV que realizaram os primeiros exames de CD4 e Carga Viral, respectivamente, e de 20% no número de pessoas vivendo com  HIV que iniciaram terapia antiretroviral (TARV), em comparação aos anos de 2019 e 2020. Ainda segundo o relatório, houve também um aumento de 29% na proporção de pessoas vivendo com HIV que atrasaram mais de um mês para a dispensação da terapia antiretroviral em relação a 2019, o que compromete a qualidade de vida e promove resistência aos medicamentos. Ademais, apesar da redução no número de dispensações de TARV, ao comparar 2019 e 2020, observou-se um aumento de 58% no número de dispensações com cobertura de antiretrovirais suficiente para 60 ou 90 dias, numa tentativa de diminuir o número de visitas às unidades dispensadoras de TARV.   

FAKENEWS, AIDS E VACINA

O webinar realizado pelo Instituto de Estudos Avançados da Universidade de São Paulo teve como finalidade discutir os efeitos danosos da desinformação gerada pelas fakenews no contexto do sistema de saúde. Com o tema “Entre o Fato e o Fake: Vacinas, HIV e Covid-19”, o evento reuniu autoridades em Aids no Brasil para tratar da questão. “Hoje estamos vivenciando o sucesso da vacina para a Covid-19 mesmo sem termos atingido ainda a cobertura vacinal adequada, mas quantas mortes poderiam ter sido evitadas se não tivéssemos vivido tanta demora até a primeira vacina nos nossos braços e se a rede governamental tivesse sido eficiente para divulgar fatos, quanto é na divulgação de fakes”, salientou Benzaken.

O poder negativo da divulgação de falsas notícias interfere nos resultados que se pretende obter com campanhas de vacinação. “Não precisamos de declarações que desestimulem a vacinação e nem a tornem estigmatizada ou relacionada à Aids. Informações contraditórias favorecem a dúvida e o medo enquanto educação e empoderamento das comunidades têm o poder contrário de possibilitar que as pessoas lutem pela sua vacina”, destacou a médica, referindo-se aos impactos das fakenews.

FRASES – Adele Benzaken

“A VACINA PARA A COVID-19 MUDA A REALIDADE E NECESSITA DE IMPLEMENTAÇÃO RÁPIDA E ÁGIL COM SERIEDADE E RIGOR CIENTÍFICO”.

“VACINAÇÃO É UM PACTO SOCIAL E UM ESFORÇO COLETIVO QUE DEPENDE DE TODOS NÓS. DEVEMOS NOS LEMBRAR TODOS OS DIAS: A VACINA TEM O PODER DE SALVAR VIDAS E PRECISAMOS VACINAR NOSSO MUNDO, COMO DIZ A CAMPANHA DA AHF”

“DEVEMOS UNIR ESFORÇOS NA RECONSTRUÇÃO DO PROGRAMA DE HIV, JUNTO COM A SOCIEDADE CIVIL QUE SEMPRE FOI O GRANDE DIFERENCIAL DA RESPOSTA BRASILEIRA DE VANGUARDA”.

“DEVERÍAMOS TER APRENDIDO COM A RESPOSTA AO HIV”

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