Barco laboratório da Fiocruz Amazônia leva pesquisa e assistência para populações vulneráveis da tríplice fronteira do Amazonas

Com o objetivo de realizar pesquisa sobre COVID-19, nas áreas remotas de populações vulneráveis do Amazonas, o Instituto Leônidas & Maria Deane (ILMD/Fiocruz Amazônia), embarcou equipes de pesquisadores e técnicos, rumo a região do Alto Solimões, na tríplice fronteira, entre Brasil, Perú e Colômbia.

A excursão científica que levará o laboratório de virologia da Fiocruz Amazônia ao interior do Estado do Amazonas, ocorrerá na área do porto de tabatinga. A coleta das amostras e treinamento da equipe do LAFRON-laboratório de fronteira para implantação de RT-PCR, para covid-19, terá o barco como base de apoio e armazenamento de amostras.

A embarcação tem capacidade para até 30 pessoas, e possui toda a regulamentação e infraestrutura básica necessária de alojamento, apoio, incluindo área de treinamento e capacitação de agentes de saúde.

A unidade fluvial foi viabilizada por meio do programa Unidos Contra a Covid-19, que faz parte das ações de enfrentamento à pandemia idealizadas pela Fiocruz e mobilizado pelo Escritório de Captação de Recursos (EC/Fiocruz), que reuniu empresas, organizações sociais e indivíduos, que juntos viabilizaram a ampliação do atendimento à região amazônica, incluindo as populações indígenas, localizadas no norte do país.

Segundo a Diretora do ILMD/Fiocruz Amazônia, Adele Schwartz Benzaken a iniciativa é de suma importância para o desenvolvimento de pesquisas e capacitação nesta região. “Essa missão para a região do Alto Rio Solimões só foi possível, graças à doações de vários órgãos nacionais e internacionais, que possibilitaram a Fiocruz alugar um barco e irmos até a região, desenvolver as atividades de educação em Atalaia do Norte, por meio do programa QualificaSUS, promover ações de pesquisa na busca de variantes, na região não só de Tabatinga, entre a população que transita na área do porto, como também avaliar o impacto para aquela região, do surto que está ocorrendo do lado peruano, em Islândia”, explicou.

O coordenador do escritório de captação da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), Luis Fernando Donadio, explica o papel do programa. “Durante a pandemia, nós vivenciamos um movimento muito forte de acolhimento, de solidariedade dos mais diversos setores da sociedade. A Fiocruz continua desenvolvendo um papel central, no enfrentamento da Covid-19, e nós criamos um programa chamado: Unidos Contra COVID. O objetivo era justamente criar canais, onde empresas, indivíduos, poder judiciário, governo apoiassem o fortalecimento das iniciativas da Fiocruz, no enfrentamento dessa pandemia”, pontua.

A rede de parcerias com empresas, órgãos judiciários e sociedade civil do programa Unidos Contra a Covid-19 já mobilizou R$ 497 milhões em apoio às ações da Fiocruz.“Esse programa é composto por cinco braços de atuação, e um desses braços, que a gente chama de atenção à saúde, agrega um conjunto de ações voltadas para a região amazônica. Ainda há muita disponibilidade, tanto dos indivíduos, como das empresas e dos fundos internacionais, em continuarem apoiando as ações que a Fiocruz Amazônia vem capitaneando”, destacou Donadio.

As excursões serão organizadas por calhas de rios, atingindo regiões mais remotas como: Alto do Rio Negro, Alto do Rio Solimões e Alto Purus. Cada excursão possui um cronograma que contabilizará cerca de um mês de trabalho, considerando subida e descida dos rios, parando nas comunidades ribeirinhas e alcançando áreas indígenas.

O pesquisador e ex-diretor da Fiocruz Amazônia, Sérgio Luz, destacou a relevância da iniciativa, e pontuo os ganhos para a Instituição com a ampliação das atividades de pesquisa e ensino sendo levadas para o interior do Estado. “É um momento muito importante, pois estamos vivenciando um novo formato de trabalho, utilizando a embarcação como laboratório, o que poderá ampliar nossas atividades”, declarou.

As perspectivas, são de que seja possível durante os períodos de retorno de excursões e durante as revisões, a embarcação fique ancorada em área do porto da cidade de Manaus e preste serviços de diagnóstico com testes rápidos, com foco na atenção de DST/AIDS, na demanda espontânea dos trabalhadores da área portuária e respectivos usuários dessa região, incluindo população local, trabalhadores das áreas e grupos específicos expostos a esses agravos.

SERVIÇO

A partir desta quarta-feira, 11/8, a equipe da Fiocruz Amazônia, em parceria com a Fundação de Vigilância em Saúde do Amazonas (FVS/AM), e as Secretarias de Saúde Estadual e Municipal de Tabatinga, Benjamin Constant e Atalaia do Norte, inicia a testagem, realizando os exames de Covid, na área portuária de Tabatinga. “Uma coisa que temos tentado fazer, desde antes da pandemia, é dar mais acesso à comunidade aos exames de maior complexidade, para dar uma resposta mais rápida para quem tá precisando”, explicou Felipe Naveca, pesquisador e Vice-diretor de Pesquisa e Inovação da Fiocruz Amazônia.

Segundo o pesquisador, os exames realizados na tríplice fronteira, poderão auxiliar os cientistas a identificarem quais linhagens do vírus circulam na região do Alto Solimões. A Fundação de Vigilância em Saúde do Amazonas – Drª Rosemary Costa Pinto (FVS-RCP) emitiu no dia 29/7, um alerta de risco para Covid-19, após receber notificação de surto da infecção na cidade de Islândia, Peru, na região de fronteira, com o município de Benjamin Constant (a 1.121 quilômetros a oeste de Manaus).

“Um dos nossos maiores objetivos é levar exames diagnósticos moleculares mais sensíveis até a população que necessita, colaborando com a premissa principal do SUS de acesso universal. Além disso, em parceria com a FVS-RCP, fazemos a vigilância genômica do SARS-CoV-2 no Amazonas, desde março de 2020, quando sequenciamos o primeiro genoma desse vírus em um paciente da região Norte do Brasil. Com o presente projeto, temos o intuito de aumentar a amostragem no alto Solimões e entender melhor a dinâmica da COVID-19 nessa região”, explicou Felipe Naveca

O atendimento será realizado em diversos horários: Quarta-feira (11) 14h às 17h, Quinta à Sábado (12 a 14) 7h às 12h e 14h às 16h, Segunda à Quinta (16 a 19) 7h às 12h e 14h às 16h, Sexta (20) 7h às 12h.

QUALIFICASUS

Durante a expedição, a equipe técnica do Projeto QualificaSUS, realizará o curso “Estratégias para o combate à Covid-19: Teste de antígeno e uso da oximetria” para Agentes Comunitários de Saúde (ACSs) e Agentes de Combate às Endemias (ACEs), no município de Atalaia do Norte.

O Projeto QualificaSUS é uma iniciativa do ILMD/Fiocruz Amazônia que tem como objetivo qualificar o corpo de trabalhadores no nível da gestão e do serviço das Secretarias Municipais de Saúde do Estado do Amazonas e órgãos parceiros, a fim de proporcionar um serviço de melhor qualidade e efetividade aos usuários do SUS.

São cursos de atualização, especialização e mestrado que adotam modelo pedagógico pautado na integração ensino-serviço, na problematização da realidade local, na valorização do conhecimento e experiência do aluno trabalhador, entendido como sujeito das práticas de gestão e sanitárias desenvolvidas nas unidades de saúde.

Os cursos são ofertados em todos os 61 municípios do Amazonas, além da capital Manaus. A iniciativa conta com apoio da bancada parlamentar do Amazonas e com parceria do Conselho dos Secretários Municipais de Saúde do Amazonas (Cosems-AM).

ILMD / Fiocruz Amazônia, por Eduardo Gomes
Fotos: Eduardo Gomes