Atenção psicossocial aos povos indígenas
A Covid-19 mudou a rotina das pessoas do mundo inteiro. Entre as populações mais vulnerabilizadas o perigo de morte toma proporções alarmantes. Quanto mais isolados, menos efetivas as medidas preventivas tendem a ser. Torna-se necessário um diálogo mais próximo e que contemple a diversidade étnica dos povos indígenas da Amazônia. O Instituto Leônidas & Maria Deane (ILMD/Fiocruz Amazônia) implementa ações que busque mitigar os efeitos da pandemia entre essa população atuando na formação de profissionais que estão diretamente envolvidos na assistência desses grupos.
De acordo com a coordenadora do Curso de Formação, a psicóloga Alessandra Pereira, a pandemia traz preocupações quanto à saúde indígena sob 2 aspectos: o risco de morte e os prejuízos à saúde mental.
“Culturalmente, os povos indígenas não fragmentam o conceito de saúde, entre física e mental. Portanto, a linha de atuação da formação que propomos centra-se no bem-viver e na saúde indígena”, enfatizou. Como fator diferencial, Alessandra destaca o perfil da equipe de trabalho. “Não se trata de um curso, uma formação, pensada por especialistas da Fiocruz. É uma articulação formada por indígenas, que intervém diretamente na integração dos elementos e dos temas considerados necessários para o diálogo com os povos indígenas”, ratifica a coordenadora.
O grupo é composto por 11 professores conteudistas e oito revisores interculturais, sendo estes últimos todos indígenas. A participação dos revisores, por toda sua vivência na comunidade indígena, é um parâmetro importante que guia as escolhas do projeto no que tange a linguagem (visual e textual), o próprio conteúdo e as abordagens escolhidas para tratar os assuntos durante a formação.
“A primeira coisa que nos preocupou era como iríamos lidar com tamanha diversidade étnica. Era mais fácil buscar pessoas que tivessem conhecimento e reconhecimento em seus contextos sociais. Acionamos a Articulação Brasileira de Indígenas Psicólogos (Abipsi) e conseguimos reunir profissionais do Pará, de Roraima, Amazonas e Recife”, explicou Alessandra. A preocupação tem fundamento, já que a atuação do projeto se estende pelos estados do Amazonas, Acre, Pará, Roraima e Amapá, em sete áreas prioritárias, atingindo 90 etnias. Um trabalho que deve dialogar com nove famílias linguísticas: Tukano Oriental, Aruak, Maku, Tupi, Tikuna, Je, Karib, Pano e Katuquina.
A FORMAÇÃO
Alessandra explicou que a formação conduzida pela Fiocruz terá cinco módulos e deve abranger aspectos relacionados à saúde mental e fatores psicossociais que já eram enfrentados pelas populações indígenas, mas que se intensificaram no período da Covid-19. Os temas abordados nos módulos serão: Autoatenção e estratégias comunitárias; cuidados com crianças, jovens e idosos; violência (com destaque para as cometidas contra mulheres); uso abusivo de álcool e outras drogas; e suicídio.
Dois produtos estão em fase de elaboração e serão a base da atividade: um material escrito (formato de cartilha) e um material audiovisual (formato de videoaulas). O conteúdo ficará hospedado na plataforma EAD da Fiocruz em Brasília e as interações entre alunos e professores, diante das dificuldades de conectividade virtual, acontecerão via Whatsapp. “A previsão é que no início de fevereiro já estejamos com o curso no ar”, afirmou a psicóloga. Tudo a distância, resguardando a segurança da equipe e dos participantes.
A coordenadora salientou que os jovens e líderes comunitários, pessoas e profissionais ligados à educação, sistemas de proteção social (conselheiros tutelares, professores) e à assistência social serão mobilizados para o curso. A ideia é construir uma rede de apoio psicossocial que, nesta primeira investida, possa atingir mil pessoas, pelo menos.
PROJETO MACRO
O Curso e uma série de outras ações integram uma articulação maior da qual fazem parte, além da Fiocruz, o Fundo das Nações Unidas para Infância (Unicef) e a Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (Coiab).
O projeto macro tem como objetivo oferecer apoio aos Povos Indígenas da Amazônia brasileira na prevenção e mitigação dos impactos da Covid-19 e é financiado pela Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional (Usaid). Ao todo, prevê-se que 27.130 famílias indígenas serão beneficiadas. O cronograma de atividades deve se estender até março de 2021.