Seminário Brasil Colômbia de História das Ciências e da Saúde aborda temas ligados à Leishmaniose e Segurança Alimentar na segunda etapa do evento na Fiocruz Amazônia
O Instituto Leônidas e Maria Deane (ILMD/Fiocruz Amazônia), em parceria com a Casa de Oswaldo Cruz (COCFiocruz) e a Universidad de Antioquia (UdeA), da Colômbia, realizaram a segunda parte do Seminário Brasil-Colômbia de História das Ciências e da Saúde. O evento abriu a discussão sobre dois temas importantes: Segurança Alimentar no Brasil, focando nas periferias das grandes cidades e nos territórios amazônicos, e as Leishmanioses no Brasil e na Colômbia, com ênfase enforque em aspectos históricos e desafios atuais no que tange a pesquisas, diagnósticos e tratamentos da doença. O seminário, em formato híbrido, é parte do curso Diálogos Latino-americanos em Ciência, Saúde e Ambiente e teve três dias de duração, 10 a 12/11, em Manaus. A primeira parte ocorreu no Rio de Janeiro, nos dias 3 e 4/11, contando com a participação de pesquisadores, professores e alunos de instituições de ensino e pesquisa dos dois países. Em Manaus, o evento foi coordenado pela Vice-Diretoria de Educação, Informação e Comunicação (VDEIC) do ILMD/Fiocruz Amazônia e contou com representantes da Universidade de Antioquia, Universidade de São Paulo (USP), Casa de Oswaldo Cruz (COC), Fiocruz Amazônia e Fundação de Medicina Tropical Dr Heitor Vieira Dourado, como palestrantes.

O seminário, que teve como intuito promover a discussão acerca de epidemias, políticas de saúde, desenvolvimento e mudanças climáticas na América Latina, se propôs a debater inicialmente o tema “Nexo Água-energia-alimentos e a saúde na periferia urbana”, apresentando os resultados de estudo realizado na periferia de Guarulhos (SP) pelo professor associado do Departamento de Saúde Ambiental da Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo (USP), Leandro Giatti, que é biólogo e pesquisador visitante da Fiocruz Amazônia. Na sequência, foi a vez da pesquisadora em saúde pública da Fiocruz Amazônia, Amandia Braga Lima Sousa, abordar o uso de metodologias participativas para captar o que vem impactando a alimentação da população ribeirinha amazônica no atual contexto das mudanças climáticas. As apresentações foram seguidas de debates, tendo como mediador o pesquisador da COC/Fiocruz, Denis Guedes Jogas Júnior.

À tarde, a programação incluiu a visita ao Laboratório de Leishmaniose e Doenças de Chagas do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA), com a presença dos pesquisadores colombianos Ivan Dário Vèlez Bernal e Sara Maria Robledo Restrepo, da Universidad de Antioquia. No local, eles puderam conhecer as diversas frentes trabalhadas pela equipe de pesquisadores que atua no laboratório, com ênfase em bioprospecção, ensaios para o desenvolvimento de medicamentos tópicos e taxonomia de espécies transmissoras das doenças. Durante a visita, que incluiu um passeio pelo Bosque da Ciência, a comitiva foi recebida pelo coordenador geral de Pesquisa, Capacitação e Extensão, Jorge Ivan Rebelo Porto, a titular da Coordenação em Sociedade, Ambiente e Saúde, Francisca das Chagas do Amaral Souza, e o pesquisador e tecnologista do Laboratório de Leishmaniose e Doença de Chagas, Yury Oliveira Chaves.

No segundo dia de seminário, a palestra do professor da Universidade de Antioquia, Ivan Bernal, abordou o tema “Método ecoepidemiológico para o desenvolvimento de medidas racionais e efetivas para o controle das ETVs, com especial ênfase nas leishmanioses do novo e do velho mundo”. Em seguida, Sara Restrepo, falou sobre as novidades no tratamento de algumas doenças negligenciadas na Colômbia. A pesquisadora e ex-diretora do INPA, Antonia Maria Franco abordou o tema “Leishmaniose Tegumentar: diversidade de patógenos e vetores, resposta imune humana e as substâncias bioativas candidatas ao tratamento de forma cutânea da doença”. O debate teve como mediador o pesquisador Yury Chaves.

À tarde, o médico infectologista Jorge de Oliveira Guerra, da Fundação de Medicina Tropical Doutor Heitor Vieira Dourado, fez um apanhando sobre a Leishmaniose Tegumentar no Estado do Amazonas, apontando avanços e perspectivas nas formas de tratamento e casos importados da doença, ainda estigmatizada no Estado. A região do Purus concentra 20,3% dos casos de leishmaniose mucosa em razão da atividade extrativista da castanha, que leva homens e mulheres a passarem muito tempo na mata e serem infectados pelo mosquito transmissor.

A palestra seguinte foi da entomologista Cláudia Maria Ríos Velasquez, pesquisadora em Saúde Pública da Fiocruz Amazônia, abordando a Interação entre parasitos e vetores”, seguida do pesquisador do ILMD/Fiocruz Amazônia Felipe Arley Costa Pessoa, que tratou acerca dos efeitos das mudanças ambientais para parasitos e hospedeiros. O debate foi mediado pela pesquisadora tecnologista Djane Clarys Baía da Silva, da Fiocruz Amazônia. A programação foi encerrada com uma visita à FMTHVD.

Para o historiador Claudio Peixoto, vice-diretor de Educação, Informação e Comunicação da Fiocruz Amazônia, a iniciativa do seminário trouxe a possibilidade de um intercâmbio científico único entre instituições que estudam as leishmanioses de forma aprofundada. Cláudio é um dos autores do livro “Uma História das Leishmanioses no Novo Mundo: Avanços e Desafios do Tempo Presente”, que integra uma coletânea de obras organizada pelo pesquisador Jaime Larry Benchimol e produzidas pelas Editoras Mauad, Fiocruz, Garamond e Fino Traço sobre o tema. Segundo Cláudio Peixoto ele, “Este intercâmbio científico, que reúne perspectivas históricas e avanços contemporâneos em saúde pública, não apenas aprofunda nossa compreensão sobre as leishmanioses, mas também solidifica uma frente unida e inovadora na busca por soluções efetivas que transcendam fronteiras e impactem as vidas de populações desassistidas no Brasil e na América Latina.”

SOBRE A LEISHMANIOSE

A leishmaniose é um grupo de doenças causadas por protozoários do gênero Leishmania e transmitidas pela picada de flebotomíneos, conhecidos por mosquito-palha, infectados. Existem duas formas principais: a leishmaniose tegumentar, que afeta a pele e mucosas com feridas que não cicatrizam, e a leishmaniose visceral, uma forma grave que compromete órgãos internos como fígado e baço. A prevenção envolve o manejo ambiental (limpeza de quintais), o uso de telas e mosquiteiros, e a proteção dos animais de estimação. Os animais, especialmente cães domésticos na área urbana, podem ser reservatórios do parasita, sendo uma fonte de infecção para o mosquito. O Sistema Único de Saúde (SUS) oferece diagnóstico e tratamento gratuitos para leishmaniose. O tratamento é específico e precisa de acompanhamento médico.
ILMD/Fiocruz Amazônia, por Júlio Pedrosa
Fotos: Júlio Pedrosa


