Fiocruz Amazônia apresenta resultados de pesquisa participativa no III Seminário Acesso à Saúde e Vulnerabilidades de Migrantes internacionais no Contexto da Disseminação da Covid-19

Desde 2022, o Instituto Leônidas e Maria Deane (ILMD/Fiocruz Amazônia) integra a pesquisa nacional em torno do projeto “Acesso à Saúde e Vulnerabilidades de Migrantes Internacionais no contexto da disseminação da Covid-19”, coordenado pelo Grupo de Pesquisa em Processos de Migrações Internacionais e Saúde Coletiva (Promigras), da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). No último dia 29/08, os resultados desse esforço participativo foram apresentados, no modo on line, no III Seminário Acesso à Saúde e Vulnerabilidades de Migrantes Internacionais no contexto da disseminação de Covid-19. O projeto contou com financiamento da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) e do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).

O objetivo do evento foi o discutir os principais achados da pesquisa interdisciplinar, que contou com a participação de cerca de 33 pesquisadores de diferentes procedências de seis estados (Amazonas, Minas Gerais, São Paulo, Mato Grosso, Paraná e Santa Catarina), oito instituições de pesquisa, além de consultores internacionais, e entrevistou 120 pessoas, entre migrantes, gestores e profissionais de saúde.

Representando o ILMD/Fiocruz Amazônia, a técnica de saúde pública do Laboratório de História, Políticas Públicas e Saúde na Amazônia (Lahpsa), Fabiane Vinente, apresentou dados panorâmicos da migração internacional no Amazonas, em especial na cidade de Manaus, com foco na presença de venezuelanos. Segundo Fabiane, Manaus tem hoje uma população expressiva de migrantes, a partir de um processo deflagrado em 2011, com a chegada dos haitianos. “Mais tarde, veio a imigração venezuelana, que acessa o território brasileiro através da fronteira da cidade de Santa helena do Uairen, na Venezuela, com a cidade de Pacaraima (RR). De lá, a maioria ruma para outras regiões do País, mas parte desse contingente opta por permanecer em Manaus. Sabemos que esse número pode ser bem maior, mas hoje oficialmente temos 44.278 migrantes, sendo 926 do Haiti, 41.893 da Venezuela, 534 do Peru, e 1.420 de nacionalidades diversas”, ressaltou Fabiane, salientando que as mulheres são a maioria (25.703), confirmando o fenômeno da “feminilização” da migração.

“Já estamos no terceiro seminário e somos, agora, provocados a falar um pouco do que aprendemos ao longo desse processo. Seguramente, posso afirmar que o aprendizado sobre o tema vai além da ordem das questões práticas da migração, como a busca de alimento e trabalho, mas também se relaciona com a subjetividade humana inerente ao deslocar sobretudo se pensarmos no fenômeno migratório como fluxos e linhas da vida de um grupo de pessoas que deixam sua marca por onde passam, transformam paisagens e trazem novas demandas de políticas públicas”, analisou.  Para Fabiane, o maior desafio está em conhecer esses grupos populacionais e as demandas que apresentam ao Sistema Único de Saúde (SUS) na Amazônia.

“A diversidade do fenômeno migratório é também um desafio epistemológico. A migração é um processo plural. No caso dos haitianos, nas primeiras ondas, tivemos uma predominância masculina entre os migrantes, a maioria jovem. No caso da migração venezuelana, há uma diversidade humana com a presença de meninas e mulheres, população LGBTQIA+, idosos, pessoas com demandas de saúde, a exemplo de transplantados, pessoas vivendo com HIV/Aids e pacientes de hemodiálise”, exemplificou.

Fabiane destacou a importância das pesquisas em rede e quando elas podem contribuir para a melhorias na qualidade de vida das populações migrantes. “Aqui em Manaus há uma dificuldade de acesso do migrante aos serviços públicos, dadas as especificidades geográficas que repercutem nesse atendimento. Quase sempre alocado em funções de subemprego, eles são vendedores de rua, motoristas de carro de aplicativo, entre outras ocupações, e não sempre dispõem de tempo nem condições para o auto-cuidado, especialmente durante a pandemia de Covid-19.. Por essa razão, pesquisas em rede são mais que necessárias porque possibilitam comparações de cenários e políticas públicas, com práticas sociais que impactem positivamente as pessoas, especialmente do âmbito das políticas públicas. especificidades geográficas que repercutem nesse atendimento, nesse acesso à saúde, precariedade social que repercute.

O seminário está disponível no You Tube no endereço: https://www.youtube.com/live/nN3lEomLroI?si=EoqoQmbXX7bH9hfi

ILMD/Fiocruz Amazônia, Por Júlio Pedrosa

Fotos: Julio Pedrosa