Projeto Comunitário de Saúde Santa Maria elege práticas esportivas como estratégia indutora da melhoria da qualidade de vida na comunidade

O Instituto Leônidas e Maria Deane (ILMD/Fiocruz Amazônia), por meio do Laboratório de Situação de Saúde e Gestão do Cuidado de Populações Indígenas e outros Grupos Vulnerávais (Sagespi), realizou uma solenidade simbólica de encerramento do Projeto Comunitário de Saúde de Santa Maria, reunindo comunitários, representantes do poder público municipal e a equipe executora do projeto, em um dia inteiro de atividades para apresentar as ações desenvolvidas na comunidade e os resultados práticos obtidos pelo projeto, ao longo dos dois anos de implementação na localidade, situada na zona rural de Manaus, na margem esquerda do Rio Negro. De acordo com o coordenador do projeto, o pesquisador da Fiocruz Amazônia Fernando Herkrath, chefe do Sagespi, os resultados demonstraram ser possível a reorientação do modelo do cuidado em saúde, a partir de um trabalho desenvolvido em conjunto com a comunidade.

“O projeto se mostrou de extrema importância, uma vez que os resultados apontaram para a possiblidade de se promover uma reorientação do modelo do cuidado, atualmente muito centrado no serviço, a partir de uma construção coletiva, de forma a se obter uma maior resolutividade na promoção da saúde e prevenção de doenças na população”, explica Herkrath. A participação comunitária no processo de planejamento, organização e oferta dos serviços de saúde mostrou-se uma estratégia eficaz para se construir modelos participativos de atenção à saúde, nos quais a comunidade tem protagonismo, junto com os diversos atores que atuam no território, especialmente em se tratando de localidades rurais, como é o caso de Santa Maria, onde os resultados já são perceptíveis. “É nítida a contribuição e a mudança na forma de lidar com o processo saúde/doença no território e a participação ativa que a comunidade tem hoje no cuidado em saúde, atuando em conjunto”, destaca.

Ao longo de dois anos, o projeto se baseou na metodologia de Impacto Coletivo, que tem como proposta encontrar soluções para problemas complexos de forma coletiva e articulada com vários atores. O trabalho foi dividido em fases, sempre em construção conjunta com a comunidade, destacando sete processos ligados ao cuidado em saúde, reconhecendo as especificidades do território, como forma de lidar com os determinantes associados ao adoecimento da população, especialmente em se tratando das doenças crônicas não transmissíveis, fortemente relacionadas aos determinantes sociais e aos modos de vida dessas populações. “A comunidade Santa Maria aceitou o desafio e foi desenvolvido um trabalho exitoso, em que a prática de atividades físicas, tema escolhido como eixo prioritário condutor pela comunidade, passou a ser integrado às suas rotinas, o que contribuiu na melhoria da qualidade de vida da população, afirma a psicóloga e bolsista do Sagespi, Ane Nunes.

Na prática, as ações estabelecidas pela comunidade foram:  acompanhamento do projeto, rodas de conversa, divulgação das ações junto à comunidade, grupos de caminhada, gincana para as crianças, implementação da prática de vôlei e torneios de futebol, natação e crossfit, com capacitação de comunitários para o treinamento das modalidades esportivas, em parceria com o Instituto Mulheres que Brilham. Essas atividades passaram a fazer parte da rotina diária dos comunitários. “O serviço de saúde que não conseguir considerar a participação comunitária certamente terá ações menos eficazes, porque vão depender apenas do próprio serviço assistencial, em geral centrado na doença, e que, no caso, tem característica itinerante por se tratar de um território rural remoto”, explica Fernando Herkrath.

A participação da comunidade aproxima os profissionais de saúde da Atenção Primária e ajuda no enfrentamento aos determinantes que causam o adoecimento da população, especialmente no que se refere às doenças crônicas não transmissíveis, como diabetes e hipertensão. “São doenças que têm relação com os modos de vida dessa população, daí a importância do trabalho em conjunto, respeitando as especificidades de cada território par se ter uma maior adequação e resolutividade do cuidado”, ponderou Herkrath.

Para o pesquisador, o apoio da Secretaria Municipal de Saúde (Semsa-Manaus) também foi fundamental para o êxito do projeto. “A Semsa Manaus abraçou a iniciativa e foi uma parceira importante, estando junto em diversos momentos, ao longo do projeto, para além desse momento simbólico de finalização por entender a importância de abordagens ampliadas em saúde para esses territórios, ainda mais com a rápida mudança do perfil epidemiológico. Esperamos que esse modelo agora possa ser ampliado e replicado nas demais comunidades cobertas pelas equipes fluviais e ribeirinhas”, comentou Fernando.

COMPROMISSO

Presente à reunião, a subsecretária de Gestão de Saúde da Semsa, Aldeniza Araújo, avaliou a iniciativa como um reforço ao compromisso da secretaria de aprimorar cada vez mais a qualidade dos seus serviços, indo ao encontro das demandas do território e estimulando a participação dos usuários na construção de soluções. “Agradecemos a parceria da Fiocruz e, principalmente, a participação efetiva da comunidade na elaboração de um plano de saúde baseado na sua realidade. Observamos que a prática de atividades físicas é uma prioridade para a promoção da saúde nesse território, o que mostra que os usuários já se sensibilizam sobre a importância do autocuidado para evitar doenças e controlar determinadas condições, o que vai ao encontro do que nós reforçamos no cotidiano das nossas unidades”, reforçou Aldeniza Araújo.

Da Semsa, estiveram presentes também a diretora da Atenção Primária, Sonja Ale Farias; a diretora do Departamento de Gestão da Educação na Saúde, da Escola de Saúde Pública (Esap), Ivamar Moura; a chefe do Núcleo de Pesquisa, Extensão e Inovação em Saúde da Esap, Maria Poinho Encarnação de Morais; o diretor do Distrito de Saúde Rural (Disa Rural), Rubens dos Santos Souza; o diretor da Unidade de Saúde da Família Fluvial Dr. Ney Lacerda, Assis Cavalcante da Silva; o dretor da Unidade de Saúde da Família do Pau Rosa, Alef Lopes da Silva; a  gerente de Vigilância em Saúde,  Ana Lúcia Serrão Pereira Nabero; a Gerente de Administração, Ana Carla da Silva Queiroz, e a agente comunitária de saúde Maria Tereza Silva Rocha , responsável pela unidade de saúde na comunidade.

ILMD/Fiocruz Amazônia, Por Júlio Pedrosa

Fotos: Divulgação/Fiocruz Amazônia