Oficina de Redação Científica traz abordagem reflexiva e crítica para a produção de artigos científicos
A Fiocruz Amazônia realizou, ao longo de três dias (11, 12 e 13/03), a Oficina de Redação Científica, ministrada pelo professor e pesquisador Gilson Luiz Volpato. O curso foi uma iniciativa do Programa de Pós-Graduação em Biologia da Interação Patógeno Hospedeiro (PPGBIO-INTERAÇÃO), com apoio da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), e integrou a programação de Abertura do Ano Letivo 2024 da instituição. Com mais de 120 inscritos, a oficina deu a oportunidade aos participantes de se aprofundarem nos conceitos lógicos da redação científica, tendo como base o conhecimento acerca do tema proposto para pesquisa e as possíveis formas de reflexão crítica que levam autor (ou autores) a escrever sobre um determinado assunto. Para Volpato, “redação científica é conversa entre cientistas”, permite a expressão de pensamentos e a contestação, estando diretamente envolvida com o processo de formação nos cursos de Mestrado e Doutorado.
A pesquisadora da Fiocruz Amazônia Priscila Aquino, coordenadora do PPGBIO-INTERAÇÃO, considerou a oficina um momento oportuno e positivo de aprimoramento para os alunos no sentido de permitir a eles um contato próximo com um especialista na área de Redação Científica e entender um pouco mais sobre a construção de projetos e artigos científicos. “Esses diferentes temas ajudaram os alunos a terem uma visão mais ampla e, ao mesmo tempo, crítica sobre itens que muitas vezes não são trabalhados internamente em algumas disciplinas, a não ser aquelas específicas como a de Redação Científica”, observou Priscila, ressaltando a excelente adesão dos alunos à iniciativa e a importância da oficina para o planejamento estratégico do PPGBIO-INTERAÇÂO e às avaliações quadrienais do curso pela CAPES.
Com quase 40 anos de atuação na área, Gilson Volpato explica que a oficina ressalta a importância do pensamento científico para a construção do artigo, consubstanciando as bases sobre publicação científica, a estrutura lógica de um texto científico, as estratégias para a construção de projetos de pesquisa científica, as estratégias de planejamento para a redação de artigos científicos, a estruturação de todas as partes de um artigo científico e a escrita científica em si. Segundo ele, os ensinamentos são provocativos e proporcionam aos discentes maior autonomia, flexibilidade e força argumentativa na construção de seus artigos científicos dentro da diversidade das exigências do trabalho.
“No Brasil, temos focos de excelência na produção de artigos científicos, o que não reflete a realidade do País, mas serve como ponto de reflexão. Tudo que disse sobre redação científica não vem de costumes, nem de vícios de área, vem, sim, da Ciência. Mostro para eles que não existem Ciências, existe Ciência; que não existem métodos, e sim um método, utilizando para isso os sete pilares referenciais para a construção de um projeto ou artigo científico”, salientou Volpato, acrescentando que não adianta se basear no que a maioria faz.
“A Ciência nos diz, por exemplo, que se construirmos um texto científico no modo impessoal, assumimos que qualquer pessoa que ler aqueles dados vai concluir o mesmo que os autores, o que não é verdade. Se a pessoa não sabe conversar sobre o seu tema de pesquisa com outros cientistas, ela tem um problema sério. Se não sabem escrever é porque não estão pensando corretamente”, pondera Volpato. Segundo ele, a oficina não é um curso técnico de redação e é oferecida em diferentes versões para alunos de cursos de pós-graduação em todo o País.
OPORTUNIDADE
Além dos discentes dos cursos de pós-graduação do ILMD/Fiocruz Amazônia, a oficina do PPGBIO-INTERAÇÂO abriu espaço também para os alunos de Iniciação Científica. Nelson Lima Luz, estudante de Biologia e bolsista de IC do ILMD/Fiocruz Amazonia, foi um dos que aproveitaram a oportunidade. “É uma excelente oportunidade que a instituição oferece de estarmos adquirindo mais conhecimentos, com a oficina do professor Gilson, que é espetacular. Ele enfatiza muito que nos tornarmos bons pesquisadores fazendo boas produções textuais e daqui espero levar essa experiência para a vida enquanto pesquisador”, afirmou o bolsista.
Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Condições de Vida e Situações de Saúde na Amazônia (PPGVIDA), a enfermeira Marisa Machado disse que a oficina superou as expectativas. “O professor Volpato trouxe uma abordagem crítica que nos permitiu uma reflexão, sobre regras e métodos. Ele te instiga a refletir e está sendo superconstrutivo, com ideias que, às vezes, falta no nosso cotidiano, até mesmo na academia”, admitiu Marisa. A oficina também contou com exercícios práticos de escrita e montagem, com os alunos utilizando os próprios trabalhos.
REFERÊNCIA
Com pós-doutorado pelo Institute of Animal Sciences, na Agricultural Research Organization (Israel), doutorado e mestrado em Ciências Biológicas, pela Universidade Estadual Paulista (Unesp – Rio Claro), e graduação em Ciências Biológicas (Unesp – Botucatu), Gilson Volpato em paralelo aos trabalhos de pesquisa na área de fisiologia e comportamento animal, empenhou-se ao ensino da Redação Científica, tendo publicado 14 livros sobre Ciência, Metodologia e Redação Científica, com mais 1.672 citações recebidas. Em 2017, lançou a plataforma Instituto Gilson Volpato de Educação Científica (Igvec), com a proposta de difundir a mentalidade científica para todo o sistema educacional, da pré-escola à universidade, com desdobramento para toda a população. Recebeu diversos prêmios e títulos de professor homenageado, patrono, artigos mais acessados, entre outros, durante os anos de 1984 a 2011.
ILMD/Fiocruz Amazônia, por Júlio Pedrosa
Fotos: Júlio Pedrosa