Simpósio Nacional de Geografia da Saúde premia alunos do Mestrado do PPGVIDA da Fiocruz Amazônia

O Instituto Leônidas & Maria Deane (ILMD/Fiocruz Amazônia) teve um trabalho realizado por alunos da disciplina de Geoprocessamento e Análise Espacial em Saúde do Mestrado Acadêmico do Programa de Pós-Graduação em Condições de Vida e Situações de Saúde na Amazônia (PPGVIDA), premiado como o melhor trabalho apresentado no XI Simpósio Nacional de Geografia da Saúde (Geosaúde), realizado em Manaus, entre os dias 5 e 9/11. O evento, promovido em parceria com a Universidade do Estado do Amazonas (UEA) e Universidade Federal do Amazonas (UFAM), teve como tema central “Amazônia, fronteiras e escalas geográficas na análise da saúde”. Os alunos premiados foram Vitor Guilherme Lima de Souza, Samara Etelvina Rodrigues do Nascimento e Dandara Brandão Maria, orientados pela professores doutores Fernanda Rodrigues Fonseca e Antonio Alcirley da Silva Balieiro, pesquisadores do Laboratório de Modelagem em Estatística, Geoprocessamento e Epidemiologia (LEGEPI), da Fiocruz Amazônia.

O prêmio, intitulado Health Geografhy Award, é considerado o Oscar da Geografia em Saúde, instituído pela International Geographical Union Commission on Health and the Environment (IGU CHE). O trabalho premiado versa sobre o tema “Análise espaço-temporal de lesões autoprovocadas em adolescentes no Amazonas, no período de 2017 a 2022” e é resultado do trabalho avaliativo final da disciplina Geoprocessamento e Análise Espacial em Saúde, ministrada pela pesquisadora da Fiocruz, Fernanda Rodrigues Fonseca. Com uma abordagem inédita, o trabalho tem como foco a questão da violência autoprovocada relacionada às lesões autoinfligidas, que abrangem o comportamento de autoagressão e o comportamento suicida. O primeiro engloba a automutilação que vai desde as formas leves até as severas. O segundo diz respeito à ideação suicida, às tentativas de suicídio e suicídios consumados. O trabalho foi premiado com uma quantia em dinheiro de 200 euros e os autores foram convidados a publicar artigo na Revista Brasileira de Geografia Médica e da Saúde (HYGEA).

No Brasil, essa problemática constitui importante agravo de saúde pública. A pesquisa objetivou analisar a distribuição espaço-temporal de lesões autoprovocadas na faixa etária de 10 a 19 anos. “Os alunos avançaram no estudo após a finalização da disciplina, enriquecendo ainda mais os resultados obtidos”, observou Fernanda Fonseca, acrescentando que o professor doutor Antonio Balieiro auxiliou na análise estatística dos dados. A pesquisa utilizou  dados secundários sobre casos de lesões autoprovocadas obtidos junto ao Sistema de Informação de Agravos de Notificação, do Ministério da Saúde. “Além da associação entre variáveis estudadas , para avaliar a evolução no tempo e espaço das taxas de lesões autoprovocadas e detecção de dependência espacial dos dados entre os municípios, foram utilizados índices de autocorrelação espacial”, resume o projeto.

A pesquisa levantou 1.242 registros de notificação do agravo no período do estudo, com predominância de casos do sexo feminino e raça/cor parda e indígena. O estudo apontou um aumento de taxas nos anos de 2019 e 2022, principalmente na região do Alto Solimões, no Amazonas, dos rios Madeira e Juruá, com destaque para o município de Humaitá, em 2019. O trabalho concluiu que, assim como o suicídio consumado, os casos de lesões autoprovocadas em adolescentes representam um grave problema de saúde pública e o monitoramento espaço-temporal da evolução desses casos pode auxiliar na implementação de políticas públicas mais eficientes voltadas para o enfrentamento a esse agravo.

SOBRE O EVENTO

Os debates realizados tiveram como eixos temáticos a Epistemologia, ensino e abordagens conceituais em Geografia da Saúde; Ciência da Informação Geográfica, Vigilância em Saúde e o uso das Geotecnologias; Políticas de Saúde, Acessibilidades e Segurança Alimentar; Urbanização, Vulnerabilidades e Questões de Gênero; além de Saúde, Diversidade Cultural e os Saberes dos Povos Originários. O evento foi realizado na Escola Normal Superior (ENS) da UEA. O epidemiologista Jesem Orellana, chefe do LEGEPI, destaca que o XI Geosaúde foi uma oportunidade para que estudantes, pesquisadores e sociedade, pudessem refletir acerca de desafios amazônicos. O evento teve não apenas o potencial de fomentar a ampliação das nossas redes de cooperação local, regional, nacional e internacional, como também oportunizar a emergência ou a consolidação do protagonismo de atores locais que conhecem ‘por dentro’ a multifacetada e complexa realidade amazônica.

Fernanda Fonseca é graduada em Sistemas de Informação pela Universidade do Estado de Minas Gerais, mestre em Sensoriamento Remoto pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais e doutora no Programa de Clima e Ambiente pelo Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia e Universidade do Estado do Amazonas. Atualmente é suplente na chefia do LEGEPI, da Fiocruz Amazônia, e tem como áreas de atuação: geoprocessamento, sensoriamento remoto, banco de dados geográfico, sistemas de informação geográfica, saúde coletiva, variabilidade hidroclimática e ambiental.

PREMIADOS

Para os alunos, a premiação está sendo uma experiência gratificante. Além da interação com convidados estrangeiros e do Brasil, o XI Geosaúde oportunizou a eles a participação em minicursos, mesas redondas, apresentações de trabalhos, exposições, premiações, atividades de campo, lançamento de livros. Graduado em Odontologia, Vítor Guilherme Lima de Souza, conta que o tema do trabalho sempre esteve no seu radar. “Era do meu interesse estudar lesões autoprovocadas, um tema sobre o qual sempre gostei de me debruçar. Observamos que o suicídio já era bem estudado, porém as lesões autoprovocadas nem tanto, principalmente na região Norte. Daí a decisão de optarmos pelo Amazonas como recorte geográfico para aprofundarmos o tema”, conta Vítor, se dizendo surpreso e grato com o prêmio.

A bióloga Dandara Brandão pontua que o trabalho contribuirá para acrescentar novas abordagens e dar visibilidade ao tema. “Não temos muitos estudos sobre as lesões autoprovocadas e podemos contribuir com novos dados, o que é motivo de muita satisfação para nós e a nossa instituição. Trata-se de um tema delicado ainda mais quando relacionado a adolescentes”, observa, lembrando a importância de se prestar atenção nos sinais e aos possíveis motivos que levam os jovens a essas ações. Para Dandara, ganhar o prêmio foi algo inesperado, embora soubesse da importância da temática trabalhada.

Para Samara Etelvina Rodrigues do nascimento, que é graduada em Serviço Social, a experiência de submeter o trabalho em um evento científico foi incrível e ganhar o prêmio mais ainda. “O trabalho foi fruto da disciplina de Geoprocessamento ministrada pela professora Fernanda e consistia na escolha de um agravo em saúde para trabalharmos ferramentas de geoprocessamento apresentadas como QGIS e Terra View, por exemplo. Nesse sentido, escolhemos as Lesões Autoprovocadas em adolescentes, tendo como recorte o Estado do Amazonas, considerando sua complexidade, visto que representam um grave problema de saúde pública e a pesquisa desvela esse fenômeno mostrando altas taxas principalmente na região de saúde do Alto Solimões”, salienta Samara.