Fiocruz Amazônia alerta para a necessidade do protagonismo amazônico no XI Simpósio Nacional de Geografia da Saúde
O Instituto Leônidas & Maria Deane (ILMD/Fiocruz Amazônia) participou na noite do último domingo, 5/11, da abertura do XI Simpósio Nacional de Geografia da Saúde (Geosaúde), que acontece no auditório da Escola Superior de Tecnologia (EST/UEA) até a próxima quinta-feira, 9/11, alertando para a necessidade de se estabelecer o protagonismo amazônico nas discussões acerca das políticas públicas relacionadas à saúde e ao meio ambiente, nos mais diferentes territórios da Amazônia. O epidemiologista Jesem Orellana, chefe do Laboratório de Modelagem em Estatística, Geoprocessamento e Epidemiologia (LEGEPI), da Fiocruz Amazônia, classificou o simpósio como o momento ideal para esse despertar. “Precisamos sair do engessamento da discussão sobre a região amazônica, a partir da ótica dos ministérios e os mais diferentes atores falando por nós, sem que sejamos ouvidos sobre as nossas necessidades, nossa realidade, nossos desejos e o que entendemos sobre crise climática e seus impactos negativos sobre a saúde, assim como sobre o desmatamento, o avanço desregrado da atividade agropecuária na Amazônia, mineração ilegal, entre outros problemas, para que possamos avançar de uma forma mais contundente”, afirmou Jesem.
Para o epidemiologista, o simpósio deve discutir temas estruturais e não apenas questões acadêmicas restritas a círculos de comunicação fechados. “Não conseguimos conversar com as populações tradicionais, ribeirinhos, indígenas, pescadores, quilombolas e tantas outras denominações e grupos étnico-raciais da Amazônia. Se não conseguimos tecer essas conexões, articulando ensino, pesquisa, serviços de saúde e movimentos sociais, nós vamos continuar agindo da mesma forma passiva que fomos acostumados ao longo dos últimos 500 ou quase 600 anos. Infelizmente, deixamos de ser protagonistas como foram nossos ancestrais e passamos a ser apenas pessoas que fazem parte da geografia amazônica, sem capacidade prática para decidir ou arbitrar”, observou.
O pesquisador lembrou também que 2023 vem sendo um ano crítico, que comprova a tese de que estamos numa crise climática sem precedentes e precisamos entender isso. “Não há mais caminho de volta. No máximo, o que podemos fazer é minimizar esses impactos a partir de agora. E não adianta contratar profissional de saúde para atender nos postos e unidades de saúde. Será preciso atacar a raiz do problema que é a ausência do Estado brasileiro na fiscalização de unidades de conservação e áreas de proteção ambiental, por exemplo. Esse é que tem que ser o caminho”, frisou.
Representando o Ministério do Meio Ambiente, a secretária Nacional de Populações Tradicionais e Desenvolvimento Rural Sustentável, do MMA, Edel Moraes, que é amazônida da região do Arquipélago do Marajó, no Pará, participou do evento de modo remoto e afirmou que o debate do XI Geosaúde deve ir além da geografia, das fronteiras e do isolamento. “O simpósio é uma oportunidade de darmos visibilidade a questões como a negação de direitos de políticas públicas de acesso aos cuidados da saúde nos mais diferentes rincões que se assemelham muito na Amazônia”, ressaltou, acrescentando que falar de Amazônia é falar dos 180 povos indígenas viventes na região, sobre a diversidade de povos quilombolas, das quebradeiras de coco babaçu, dos ribeirinhos, extrativistas, marisqueiros, das pescadoras, homens e mulheres que irão padecer com os fatos que estamos vivenciando desde o início do ano.
Edel recomendou que o simpósio abrigue discussões que visem promover a saúde e suas especificidades de gerações, raça, etnias, gêneros, temáticas que visem o acesso aos serviços de saúde, a redução dos riscos de agravo dos processos de trabalho, discussão sobre a saúde mental, valorização do serviço público, do trabalho dos agentes comunitários de saúde, os saberes das parteiras e dos doutores da floresta, como são chamados os pajés, falarmos de acesso com as populações da amazonia e os povos tradicionais, colocarmos na nossa conta a resolutividade da questão da malária que afeta a região amazônica, não avance em resolutividade para uma doença que não cabe mais dizer que não tem solução, pandemia mostra que quando se quer se faz pesquisa e se busca soluções, trazer para essa reflexão, cuidado da saúde, é cuidar da floresta e dos povos que cuidam e defendem a floresta.
O XI Simpósio Nacional de Geografia da Saúde teve início na tarde deste domingo (5/11), em Manaus, ao som do Tubones Coral, grupo da Universidade do Estado do Amazonas (UEA). A mesa de abertura foi presidida pelo pró-reitor de Pesquisa e Pós-graduação da UEA, Roberto Mubarac, representando o reitor da UEA, André Zogahib. Também compuseram a mesa ao coordenador do XI-Geosaúde, Isaque Souza Santos e Natacha Aleixo, do Departamento de Geografia e Programa de Pós-Graduação em Geografia da Universidade Federal do Amazonas (Ufam). A conferência de abertura foi realizada pelo Prof. Dr. Jorge Amancio Pickenhayn, da Universidade Nacional de San Juan (ARG). Após o encerramento da solenidade, os participantes assistiram à apresentação da cantora Lucilene Castro e do violonista Dudu Brasil. O simpósio deste ano tem como tema “Amazônia, fronteiras e escalas geográficas na análise da saúde”
Confira a programação completa e como participar no site do evento: https://www.simposiogeosaude.com/