Regional Norte da Olimpíada Brasileira de Saúde e Meio Ambiente da Fiocruz desenvolve atividade com alunos abordando questão da presença indígena no contexto urbano

A Coordenação Regional Norte da Olimpíada Brasileira de Saúde e Meio Ambiente (OBSMA), da Fiocruz, desenvolveu ao longo de dois dias, 14 e 15/05, a oficina Alunos em Ação, na Escola Estadual Marcantônio Vilaça, na Zona Norte de Manaus, com  rodas de conversa abordando a questão da presença indígena no contexto urbano. A atividade reuniu três mulheres indígenas de diferentes etnias, convidadas a falar sobre suas experiências enquanto indígenas inseridas no dia a dia da cidade, e o desafio de romper com o silenciamento e a ideia de afastamento num território que também é deles. Além da roda de conversa, os alunos puderam participar da Dinâmica do Mapas, com a cartografia indígena de Manaus, palestras sobre os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS), além de receber orientação sobre participar da Obsma, que este ano entra na sua 13ª edição. 

“Na dinâmica, buscamos através do mapa da cidade de Manaus, incentivar os alunos a perceberem a presença indígena na cidade e a relação desses territórios com as localidades em que eles moram. Para isso, utilizamos dois mapas de Manaus e pedimos que eles identifiquem num deles as áreas onde residem e no outro indicamos os aldeamentos urbanos existentes na cidade e quais estão mais próximos”, explica o assistente regional da Obsma, André Santos. Segundo André, a atividade estimula uma reflexão sobre a invisibilização dos povos indígenas e desperta nos alunos o interesse em desenvolver trabalhos voltados à discussão acerca dos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável, com foco no ODS 18, de promoção da igualdade étnico-racial na sociedade brasileira, em específico nas desigualdades que afetam os povos indígenas e a população negra.  

Divididas em dois turnos (matutino e vespertino), durante os dois dias, as atividades conseguiram alcançar os 360 alunos da escola. Fabiano Souza, professor de Sociologia da turma do 3º ano, ressaltou a importância da iniciativa da Fiocruz em parceria com as escolas. “É muito importante inserir nossos alunos de nível médio no mundo da pesquisa, tendo uma instituição de grande porte como a Fiocruz na nossa escola, possibilitando alternativas para os jovens produzirem conhecimento científico é muito válido e interessante. Esperamos que todos os alunos e professores participem da Obsma”, afirmou Fabiano. Em paralelo às dinâmicas, os alunos puderam acompanhar o trabalho dos grafiteiros Biels e Alice Ferreira da Sulva, a Alie, que puderam mostrar sua arte inspirada na cultura hip-hop pintando painéis durante as atividades.

  

“Apresentamos a Fiocruz e explicamos como funciona a Olimpíada, ao mesmo tempo em que propusemos uma dinâmica como se fosse uma cartografia, em que os alunos, divididos em grupos de cinco por cada vez,  têm a possibilidade de localizar no mapa a região onde eles vivem e perceber que a identidade indígena está presente nos mesmos territórios urbanos que o deles, que existem indígenas vivendo nos bairros, nas aldeias urbanas e que a cidade também é um espaço de disputa e afirmação da identidade indígena”, comentou o bolsista da Regional Norte da Obsma, Gabriel Lopes.

A roda de conversa sobre o tema “O Indígena em contexto urbano” contou com a participação das indígenas Shirley Tomas Baré, promotora de eventos, fotógrafa e comunicadora indígena; Ana Pinheiro Mura, estudante de História da Universidade Federal do Amazonas (UFAM) e pesquisadora na área indígena; Alyane Munduruku e Eloá Silva, ambas estudantes de História da UFAM e pesquisadores de políticas indígenas e indigenistas, e o pesquisador indigenista da Fiocruz Amazônia Sully Sampaio.

André Santos explica que a intenção em fazer uma dinâmica com esse tema foi também estimular o debate acerca do tema da igualdade étnico racial como estímulo à participação na Olimpíada Brasileira de Saúde e Meio Ambiente. “A ideia de proporcionarmos esse diálogo com estudantes e pesquisadoras indígenas foi fazer com que percebam a presença indígena na cidade e a relação dos territórios indígenas urbanos, já que, segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), 40% da população indígena do Amazonas hoje vive na cidade de Manaus, daí a iniciativa da dinâmica dos mapas e o diálogo dos alunos com as ativistas do movimento indígena”, reforça o assistente.

COMPARTILHAMENTO DE SABERES

Shirley Baré, ativista do movimento indígena, destacou a importância do compartilhamento de saberes com os jovens. “Espero que a Fiocruz continue com essa iniciativa voltada para a transmissão do conhecimento indígena para os jovens. Estamos aqui nessa atividade para falar do movimento indígena porque é um assunto importante para ser tratado nas escolas não somente no dia 19 de abril. Que continuem com essa iniciativa com outras turmas e instituições de ensino”, salientou.

A universitária Eloá Silva, que integra o Grupo de Pesquisa de História Indígena e Indigenista, do curso de História da UFAM, viu na iniciativa da dinâmica uma oportunidade efetiva de aproximação dos jovens alunos com as experiências, inclusive de iniciação científica, ligadas ao tema. “A roda de conversa é um ambiente propício, onde a gente produz ciência, dialoga, extrai dúvidas, se apresenta, se diverte, interage numa dinâmica de ensino/aprendizagem por meio da qual também aprendi muito ao longo da minha trajetória”, pontuou Eloá, cujo foco de pesquisa é a trajetória política e a organização social do povo Kambeba, em Manaus, acompanhando suas lutas e sua inserção na sociedade em busca do resgate dos seus traços étnicos.

Entusiasmados, muitos alunos aproveitaram a atividade para tirar dúvidas e interagir com os convidados. Lucas Andrade da Silva, 16, que está na turma do 1º ano 01, diz ter se identificado com o projeto da Obsma. “Gostei muito da Olimpíada e, para mim, vai ser uma das oportunidades que serão boas para minha vida e de algumas outras pessoas que se identificaram junto conosco”, comemorou. Maria Eduarda Deus De Lima, 17, estudante do 3º ano, agradeceu pela visita e destacou o conhecimento adquirido durante a palestra sobre os ODS. “Gostei muito de conhecer a Obsma, um projeto que incentiva os jovens a criarem metas para construir uma sociedade melhor, principalmente para nós que estamos passando da juventude para a fase adulta”, afirmou.

Para a gestora da Escola Marcantônio Vilaça, Lidiane de Oliveira Lozana, a atividade Alunos em Ação chegou na hora certa. “Estamos desenvolvendo trabalhos sobre os ODS e acredito que todo aprendizado desses dois dias será muito importante para que os alunos possam continuar estimulados a cuidar do ambiente não só da escola como da comunidade em que estão inseridos, e desenvolver seus projetos para participar da olimpíada”, frisou. A atividade contou com o apoio dos professor-doutor Raimundo Nonato Pereira da Silva, do Programa de Pós-Graduação em Antropologia da UFAM e Israel Santos da Costa, jovem indígena da etnia Saterê Mawé, que atua como liderança juvenil , participando de ativamente de organizações como Wayama, Makira’eta e Rede de Juventude Saterê Mawé. É estudante do 3º ano do Ensino Médio, do turno vespertino. Ao final da dinâmica, os alunos participaram do momento Mãos na Massa, onde anotam nos post-its e colam em cartolinas ideias e propostas para a Obsma a partir do que foi apresentado e discutido.

PRÓXIMA PARADA: PARÁ

A coordenadora da Regional Norte da Obsma, Rita Bacuri, esteve presente à atividade na quinta-feira, 15/08, e informou que pretende intensificar a realização de oficinas pedagógicas e a atividade Alunos em Ação, nos estados que integram a coordenação Regional Norte da Olimpíada. “Já estamos em articulação com o Estado do Pará. A ideia é realizarmos a atividade Alunos em Ação e a Oficina Pedagógica, voltada para os professores, no próximo mês de agosto”, assegurou. A equipe olímpica da Regional Norte já realizou outras duas atividades Alunos em Ação, nas escolas estaduais Professor Antenor Sarmento e Professora Ruth Prestes Gonçalves.

ILMD/Fiocruz Amazônia, Por Júlio Pedrosa

Fotos: Júlio Pedrosa e André Santos