Projeto Moetá volta à Colônia Antônio Aleixo para desenvolver ações interdisciplinares em saúde e meio ambiente, na primeira devolutiva em parcerias com instituições
Os bolsistas do Projeto Moetá, que atuarão como comunicadores populares na difusão de informações científicas e de saúde em comunidades da capital, estiveram no último mês de abril, no bairro da Colônia Antônio Aleixo, Zona Leste de Manaus, percorrendo as unidades de atendimento em saúde da rede básica e de média e alta complexidade, escolas da rede pública e organizações da sociedade civil organizada. Agora, eles se preparam para retornar ao bairro, na próxima quarta-feira, 5/06, Dia Mundial do Meio Ambiente, e desenvolver atividades interdisciplinares abordando o tema Ciência, Saúde e Meio Ambiente, com os alunos da Escola Estadual Manoel Antonio de Souza, na primeira devolutiva do projeto.
Durante a primeira visita, a intenção foi estabelecer contato com dirigentes e profissionais das instituições para dar início um diálogo com vistas à implementação do Projeto Moetá. Além da Colônia Antônio Aleixo, o Moetá prevê intervenções nos bairros Alvorada, Cidade Nova, Compensa, Novo Israel e Jorge Teixeira.
Com uma população estimada atualmente em 19.600 habitantes, a Colônia Antônio Aleixo fica localizada no Distrito Industrial 2, onde diversas áreas deram lugar a ocupações que se constituem em vazios assistenciais e influenciam no dia a dia das unidades de saúde da localidade, a exemplo da Policlínica Clínica Antônio Aleixo, a primeira visitada pelo Moetá, em abril passado. No local, a demanda de serviços é crescente, nas especialidades oferecidas (cardiologia, ortopedia, dermatologia, odontologia e curativo especializado exclusivo para portadores de hanseníase). Segundo o diretor da Policlínica, José César de Carvalho, o aumento da população, nos últimos dez anos, fez crescer a demanda de atendimentos.
Pacientes de hanseníase internados em tratamento, muitos dos quais vítimas de abandono famíliar, são o principal público atendido pelo Hospital Geraldo da Rocha, outra unidade de saúde da Colônia visitada pela equipe do Moetá. A unidade é referência no tratamento de pacientes vasculares sequelados, portadores de hanseníase e diabetes, e enfrenta hoje uma preocupação em relação aos pacientes com transtorno de saúde mental. “O Geraldo da Rocha tem hoje em construção uma ala destinada a pacientes com transtornos de saúde mental, mas que enfrenta problemas na sua concepção, além de não ter quadro de pessoal especializado para atender pacientes em surto psicótico”, alerta Elton Aleme, coordenador do Moetá.
Elton salienta que a metodologia do trabalho de campo desenvolvido pelo projeto consiste em estabelecer o contato com os dirigentes das instituições, diretores, enfermeiros e médicos, e marcar um cronograma de visitas, feitas em dupla por bairro. O Moetá atuará, ao todo, em seis bairros da cidade que receberão devolutivas como palestras, oficinas, cursos, campanhas e eventos de prevenção à saúde, que serão desenvolvidas entre os meses de junho e julho. “A ideia é marcar uma agenda futura pontual com ações envolvendo os parceiros”, explica a pesquisadora social da Fiocruz Amazônia, Rita Bacuri, responsável pela concepção e gestão do projeto.
“Queremos envolver as instituições públicas de saúde e educação, organizações não governamentais e associações comunitárias que compõem o conjunto de equipamentos de serviços sociais no bairro. Todos serão/são parceiros solidários do projeto Moetá para as ações de divulgação científica, na perspectiva da popularização da ciência”, salienta Bacuri, ressaltando que as visitas são ações coordenadas de apresentação do projeto, conhecimento das atividades dos parceiros e o fortalecimento de parcerias.
Rita destaca a importância da escuta durante as visitas. “É importante o trabalho realizado por cada dirigente e servidores dos órgãos que ali atuam. É importante ouví-lo para conhecer como vivem e se movimentam as pessoas que ali residem e são participantes dos serviços”, observa.
ESTRUTURA
Durante a visita à Colônia Antonio Aleixo, os bolsistas puderam conhecer a estrutura da Policlínica Santa Helena, formada por um conjunto de três prédios – a sede, mais o Centro Especializado em Reabilitação (unidade que atende crianças com microcefalia, transtorno do espectro autista e doenças raras) e a Oficina Ortopédica Fixa, responsável pela fabricação artesanal de próteses e órteses para as vítimas sequeladas da hanseníase. As unidades ficam próximas e trabalham de modo integrado.
No Hospital Geraldo da Rocha, ouviram demandas acerca da necessidade de uma busca-ativa de casos de hanseníase mais eficiente por parte da Atenção Básica. “Os agentes de saúde vão às casas dos pacientes quando a doença está instalada e aqui ficamos só recebendo os casos em estágio avançado da doença”, avalia Evanildo Barreto, gerente administrativo do Hospital Geraldo da Rocha.
A diretora da unidade, Ana Belota, considera a parceria com a Fiocruz um ganho para a unidade. “Estamos de braços abertos para somar com o projeto”, afirmou, sugerindo a temática da Saúde Mental como uma das pautas a serem trabalhadas em oficinas e palestras, promovidas pelo Moetá na unidade. “Temos hoje um contingente enorme de pessoas com depressão. Temos casos de pacientes moradores do Geraldo da Rocha que ocupam leitos porque são abandonados pela família, alguns há mais de 30 anos”, exemplifica. Os bolsistas visitaram também o Serviço de Pronto Atendimento (SPA) e Maternidade Chapot Prevost e a sede do Movimento de Reintegração das Pessoas Atingidas pela Hanseníase (MORHAN).
DESAFIO
Bolsista do projeto, Rejane Magalhaes da Silva, 55 anos, é pedagoga e confessa estar diante de um dos maiores desafios da carreira. “Como pedagoga, acumulei uma vasta experiência de trabalho lidando com pessoas de diferentes faixas etárias no âmbito da Educação, e agora estou, acima de tudo, aprendendo com as vivências proporcionadas pelo Moetá. “Sempre trabalhei com acesso às escolas municipais, com crianças, adolescentes e adultos, conversando com eles, com os pais, com a família. Com o Moetá, ampliamos nosso raio de abrangência, com a temática desafiadora da saúde pública”, afirmou.
Rita Bacuri explica que, na Fiocruz Amazônia, o Projeto Moetá se une a outras iniciativas no âmbito de programas estratégicos de divulgação e popularização da Ciência, a exemplo da Olimpíada Brasileira de Saúde e Meio Ambiente (Obsma); o programa Mulheres e Meninas na Ciência e eventos de grande escala como a Semana Nacional de Ciência & Tecnologia, todos com foco no público estudantil. Durante a visita a Colônia Antonio Aleixo, a equipe da Coordenação Regional Norte da Obsma esteve na Escola Estadual Manuel Antonio de Souza, para divulgação da projeto e convidar professores e alunos a participarem da 12ª edição da Obsma.
SOBRE O MOETÁ
O Projeto Moetá tem como objetivo promover a formação de comunicadores populares especializados em saúde (CPES) para atuar na disseminação de informações científicas, garantindo uma linguagem atraente, acessível, utilizando metodologias de comunicação inclusiva e produzindo conteúdo informativo para a população em geral. A ideia é fazer com que as ações dos CPES cheguem até as comunidades, contando com a parceria das unidades de saúde existentes nas localidades. O curso visa formar inicialmente 10 comunicadores populares, que atuarão ao longo de dez meses na divulgação de informações científicas em linguagem acessível e acolhedora, em diversos bairros de Manaus. Moetá, em ‘Nhengatu’ (língua geral amazônica), significa multiplicar, tornar muitos, socializar”.
HANSENÍASE NO AMAZONAS
Nas duas últimas décadas, de acordo com dados oficiais do Sistema de Informação de Agravos de Notificação do Ministério da Saúde, o Amazonas apresenta uma tendência de queda no número de novos casos de hanseníase. Manaus lidera o ranking com o registro de 6.321 dos 15.265 casos novos da doença registrados entre 2001 e 2023, seguido de Itacoatiara, com 698 casos, Humaitá (586) e Parintins (541), ao longo desse período. Os municípios com a menor quantidade de registros são Amaturá e São Paulo de Olivença, com nove casos, cada, nos últimos 22 anos.
SOBRE A DOENÇA
A hanseníase é uma doença infecciosa, contagiosa e de evolução crônica, que afeta os nervos e a pele. Também conhecida como lepra ou mal de Lázaro, é causada pelo bacilo Mycobacterium leprae. Associada a desigualdades sociais, afetando principalmente as regiões mais carentes do mundo, a doença é transmitida através das vias aéreas (secreções nasais, gotículas da fala, tosse, espirro) de pacientes com a forma infectante da doença que não receberam tratamento.
Os principais sintomas da hanseníase são parestesias (dormências), dor nos nervos dos braços, mãos, pernas e pés; presença de lesões de pele, como caroços e placas pelo corpo, com alteração da sensibilidade; e diminuição da força muscular. As lesões de pele provocadas pela hanseníase são bem características. O diagnóstico é baseado em critérios clínicos e epidemiológicos. Na suspeita da doença, é preciso procurar atendimento em uma unidade de saúde o mais rápido possível. O diagnóstico precoce, o tratamento oportuno e a investigação de contatos é fundamental, pois evita a evolução da enfermidade para as incapacidades e deformidades físicas que dela podem surgir, além da contaminação de mais pessoas. A doença tem tratamento e cura.
ILMD/Fiocruz Amazônia, Por Júlio Pedrosa
Fotos: Júlio Pedrosa