Projeto da Fiocruz Amazônia é citado como referência para o cuidado em saúde do DISA Rural de Manaus

O Projeto Comunitário de Saúde Santa Maria, desenvolvido pelo Laboratório SAGESPI, da Fiocruz Amazônia, apresentou nesta quarta-feira, 29/11, os resultados das etapas iniciais das ações voltadas para a promoção da saúde na comunidade ribeirinha Santa Maria, situada na Reserva de Desenvolvimento Sustentável Puranga Conquista, a 57 quilômetros da área urbana de Manaus. Pertencente ao território de abrangência de uma equipe do Distrito de Saúde Rural, da Secretaria Municipal de Saúde de Manaus, a comunidade foi responsável pelo levantamento histórico e o mapeamento georreferenciado do território, além de terem sido elencadas as prioridades em saúde, que fizeram parte da fase inicial do projeto. Nas próximas etapas será desenvolvido um plano de ação conjunto, que envolverá discussão e tomada de decisões conjuntas entre comunidade e os diversos atores que atuam na localidade, incluindo os gestores e profissionais de saúde da Estratégia Saúde da Família Fluvial. O projeto, previsto para encerrar em julho de 2024, tem por objetivo promover a construção coletiva de políticas públicas de saúde, por meio de tecnologias sociais.

Foram os próprios comunitários que fizeram a apresentação dos resultados durante solenidade no Salão Canoas, na sede da Fiocruz Amazônia. O projeto, formalmente denominado “Participação comunitária no processo de planejamento, organização e oferta dos serviços de saúde em localidades ribeirinhas da Amazônia”, é fruto de um edital de incentivo às pesquisas em Ciência, Tecnologia e Inovação, lançado pelo Programa Inova Fiocruz, e conta com a parceria da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas (Fapeam). Vem sendo desenvolvido desde 2022, sob a coordenação dos pesquisadores da Fiocruz Amazônia, Fernando Herkrath e Amandia Sousa e da pesquisadora do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), Denise Gutierrez. O relato das atividades desenvolvidas foi feito pelos comunitários Harlem Sanchez, Cleane Costa, Euzilene Amorim e Alef Lopes, também agente comunitário de saúde, envolvidos com o projeto desde o início. Eles representaram a comunidade, falando para uma plateia formada por gestores, profissionais de saúde, pesquisadores, alunos e bolsistas da Fiocruz Amazônia.

“É muito bom abrir as portas da instituição e ver um projeto ser desenvolvido por nós com esse tema e esse ímpeto de fazer junto”, ressaltou a diretora do ILMD/Fiocruz Amazônia, Stefanie Lopes. Para ela, criar evidências, trabalhar e fazer ciência como pacto social é um exercício que o cientista precisa fazer para produzir de fato algo que faça a diferença para quem está na ponta. “A Fiocruz tem essa cara porque trabalha na importante e única missão de olhar para o Sistema Único de Saúde, que é um direito e deveria estar igual e acessível para todos. Porém, os desafios são muitos e precisamos entender o que está acontecendo. Vocês (comunitários) sabem quais os problemas que precisam ser vencidos para se ter uma melhor saúde na comunidade”, afirmou Stefanie, destacando a importância de parceiros como a Fapeam, responsável pelo financiamento do projeto.

Vice-coordenadora do Inova Fiocruz, Denise Gutierrez, presente à abertura, disse considerar o Projeto Comunitário de Santa Maria uma experiência inovadora no campo da tecnologia social na área da saúde. “A iniciativa tem um potencial muito grande em termos de participação da comunidade nos assuntos que interessam à comunidade. A tecnologia social sempre tem que ter relevância social e um conhecimento construído coletivamente. Estamos numa região (amazônica) em que isso pode acontecer e muito, com respeito a buscarmos temas que mobilizem as comunidades para solução de problemas práticos, da vida concreta das pessoas”, pontuou. A intenção do edital Inovação Amazônia era exatamente fomentar o desenvolvimento de processos inovadores para que essa participação social seja efetivada na busca por soluções sustentáveis para os problemas na vida das comunidades, particularmente na saúde.

“A perspectiva da tecnologia social tem esse mérito: de poder gerar um espaço em que múltiplos atores interajam em função de um bem comum e fazendo convergir esforços. Temos na Fiocruz uma massa crítica, um conjunto de capacidades e habilidades que está muito consolidada, mas temos que fazer esse esforço de aproximação dos atores no território. O projeto tem muito desse compromisso, reconhecer o saber e as potências de intervenção que as comunidades já tem, mas nós, digo academia, poder público, invisibilizamos”, complementou.

PARÂMETRO

A estimativa é de que o projeto se estenda até julho do ano que vem, com o envolvimento da Semsa Manaus. Rubem de Souza, diretor do DISA Rural, explica que o projeto tem a magnitude de dar luz e voz a uma população tão negligenciada como a ribeirinha. “Ele (o projeto) vem fortalecer a parceria federal com o município e destacar quais são as características rurais no eixo saúde. Para nós, vai servir como parâmetro para a tomada de decisões no sentido de promover melhorias na assistência em saúde na área rural”, admitiu, ressaltando que os moradores são nativos das comunidades, têm a vivência com a natureza, a caça, a pesca, o rio, a plantação. “Nós, como mediadores e, também, prestadores de serviço, queremos ter essa participação integral e aprender junto com o projeto”, ressaltou.

O DISA Rural é responsável pela assistência básica em saúde a toda zona rural de Manaus, prestando atendimento odontológico, assistencial, médico, de enfermagem, vacinação, controle de vetores, vigilância em saúde, todos serviços preconizados pelo SUS na área urbana e realizados também na área rural, seja por meio da unidade fluvial ou nas UBS. “Ao todo, a área rural de Manaus possui nove unidades básicas de saúde, sendo sete terrestres e duas fluviais, além de 11 unidades de apoio, das quais seis na área do Rio Amazonas e cinco na área do rio Negro, onde a unidade fluvial atraca mensalmente e atende as comunidades do entorno”, informou Rubem.

Um dos coordenadores do projeto, o pesquisador Fernando Herkrath, chefe do Laboratório de Situação da Saúde e Gestão do Cuidado de Populações Indígenas e outros Grupos Vulneráveis (SAGESPI), explica que existe a possibilidade de replicar as ações do projeto em outras localidades. “Esse está sendo um piloto pois tínhamos que começar com um território definido. A partir dos resultados alcançados, a intenção é de que possamos replicá-lo para outros territórios com os ajustes necessários para atender as especificidades de cada localidade”, explicou. Fernando destacou a importância dos parceiros das secretarias de Saúde (Semsa Manaus) e Meio Ambiente e Sustentabilidade (Semmas), como atores que atuam no território de Santa Maria.

“Esse momento é simbólico, de apresentação pela comunidade do que eles já fizeram e o que se pretende fazer para que se envolva os demais atores porque só é possível essa mudança de realidade com a participação coletiva. A parceria com a Semsa é de fundamental importância porque eles já estão atuando fazendo assistência no território. A intenção agora é trabalhar com os demais atores, a exemplo da Semmas, que preside o Mosaico de Áreas Protegidas do Baixo Rio Negro, conjunto de 11 unidades de conservação localizadas entre os municípios de Manaus, Novo Airão, Iranduba e Manacapuru. “Vocês estão levando humanidade para esses jovens, que são os verdadeiros responsáveis pela área de Santa Maria, que precisa ser protegida. Contamos com a ajuda de todos vocês”, afirmou a representante do Mosaico do Baixo Rio Negro, Angeline Ugarte. O evento contou também com o lançamento do vídeo Projeto Comunitário de Saúde Santa Maria, mostrando como se deu o processo de envolvimento da comunidade com a proposta e as atividades do projeto. O vídeo é dirigido por Rafael Ramos e está disponível no Canal do You Tube do ILMD/Fiocruz Amazônia.